Na semana passada, o Banco do Brasil lançou o Ourocard-e (Android), primeiro aplicativo de cartão de crédito no celular de um banco brasileiro para pagamentos por aproximação, ou seja, com a tecnologia NFC (Near Field Communications). Fui um dos primeiros a instalá-lo, quando mal havia passado de 100 downloads na Google Play. Ao longo dos últimos sete dias, visitei 13 estabelecimentos comerciais da Zona Sul do Rio de Janeiro e tentei pagar as compras com o aplicativo. A lista era variada: um supermercado, uma livraria, um posto de gasolina, dois estacionamentos, uma mercearia, dois restaurantes, uma padaria, uma loja de chocolates, uma sorveteria, uma loja de utensílios domésticos e uma loja de artigos de informática. Em todos eles, sem exceção, meu pedido de pagamento por aproximação com o smartphone gerou espanto. Era a primeira vez que um cliente perguntava por essa forma de pagamento. Das 13 tentativas, só obtive sucesso em quatro delas. Os motivos para o insucesso foram vários e vou descrevê-los abaixo.

A primeira barreira é técnica. Embora o Brasil tenha hoje um dos maiores parques do mundo com máquinas de POS habilitadas para pagamento por NFC, com mais de 1 milhão de unidades, ainda há muitas sem essa funcionalidade. Esse é um obstáculo comum, por exemplo, em supermercados de grandes redes, que usam terminais antigos que funcionam apenas como pinpad para digitação de senhas. Em quatro dos estabelecimentos visitados não pude pagar por essa razão.

Outra barreira é a falta de conhecimento por parte dos lojistas para receber esse pagamento. Em duas situações, não consegui usar NFC porque os atendentes não sabiam como realizar esse tipo de transação, embora tivessem máquinas devidamente adesivadas com o símbolo de NFC – nas duas ocasiões eu ainda não tinha aprendido o caminho pelo menu das máquinas e tampouco consegui ajudar. Aliás, um mal entendido frequente é que as máquinas têm uma opção no menu chamada "pagamento pelo celular", mas que não se trata de NFC, e sim pagamento com serviços de mobile wallet, tipo Zuum e Meu Dinheiro Claro, para os quais é preciso informar o número do telefone. Isso só gerou mais confusão na cabeça do lojista enquanto tentávamos descobrir como pagar por NFC.

Porém, o que mais me chamou a atenção foi o receio de alguns atendentes em realizar o pagamento por aproximação. Apesar de haver uma máquina habilitada para NFC, houve casos em que o funcionário não quis nem tentar fazer a transação por medo. Dizia que não tinha autorização do gerente para isso, por mais que eu argumentasse que não faria a menor diferença para o estabelecimento, pois sairia o comprovante com o papel azul da mesma forma que qualquer pagamento tradicional com cartão. Em uma das vezes só consegui convencê-los porque se tratava de um estabelecimento que eu frequento rotineiramente: me deixaram operar a máquina e mostrar como funcionava, mas só depois de convocada a gerente para acompanhar o pagamento.

Há o lado positivo também. Nas vezes em que consegui concluir o pagamento por aproximação os lojistas ficaram encantados. Era como se tivesse feito um truque de mágica. Depois de entenderem como funcionava, todos acharam mais prático e rápido. E notei também simpatia pela ideia entre aqueles que ainda não tinham a máquina habilitada.

Em suma: a tecnologia funciona bem, mas é preciso comunicar melhor a solução para o conhecimento do público em geral. Se um banco fizer uma campanha de mídia de massa como fez o Santander para popularizar o mPOS, já seria uma grande ajuda. Melhorar os menus das máquinas também é fundamental, especialmente nesse primeiro momento em que todos estão aprendendo a como realizar pagamento por NFC.

Por fim, vale a pena encerrar o artigo descrevendo a melhor experiência de todas que tive nessa semana de testes. Foi com uma máquina nova da Redecard, que exibe uma mensagem logo na primeira tela informando que aceita pagamento por aproximação. Nela, basta o lojista digitar o valor e estender a máquina para o consumidor. E é o consumidor quem comanda se será débito ou crédito, direto pelo aplicativo no smartphone. Pressinto, logo, o fim daquele repetitivo diálogo a cada compra com cartão:

– Débito ou crédito?
– Débito.
– Débito?
– Débito.

Se o NFC se popularizar de fato, esse diálogo será coisa do passado, tal como o pagamento com cartão de plástico.

ATUALIZAÇÃO (em 14 de abril): Nas máquinas da Cielo em que consegui realizar o pagamento por NFC o caminho é o seguinte: 1) digitar qualquer número para abrir um menu de formas de pagamento; 2) escolher entre crédito ou débtio; 3) aproximar o smartphone da máquina (com o app Ourocard-e devidamente aberto e com o cartão selecionado – o app concede 30 segundos para a aproximação a cada sessão.