A Internet das Coisas (IoT) é uma das prioridades da Claro para 2016. A empresa planeja o lançamento de serviços em três verticais: carros conectados, casas inteligentes e cuidados especiais com crianças, idosos e animais de estimação. Em todos eles vai firmar parcerias com terceiros para incluir a conexão móvel dentro dos dispositivos e serviços, como parte do pacote vendido. A empresa seguirá uma estratégia que chama de "full digital", ou "digital completa", na tradução para português, em que serviços de valor adicionado (SVA) sejam vendidos remotamente, via cartão de crédito, sem a necessidade de um contrato direto com a operadora, explica o diretor de SVA e roaming da Claro, Alexandre Olivari, em entrevista a este noticiário. O executivo fala também sobre os efeitos da crise no consumo de conteúdo móvel, os testes para novos projetos de cobrança reversa de dados e o potencial da tecnologia LTE Broadcast.

MOBILE TIME – Quais são os principais objetivos da Claro no mercado de SVA para 2016?

Alexandre Olivari – Temos a missão de continuar crescendo fortemente a participação no faturamento da empresa. Vamos apostar bastante em Internet das Coisas (IoT): estamos trabalhando para o próximo mês o lançamento de um relógio adaptado para o público infantil, com voz e rastreamento. Através de app os pais vão poder rastrear e saber onde seus filhos estão. E vão poder ligar para o relógio do filho. Também será possível fazer ligações entre relógios de amigos. Além de ter o apelo forte de segurança, traz a questão lúdica de poder realizar chamadas entre os relógios. O pai administra por um app no smartphone os números autorizados para realizar e receber chamadas do relógio. Não tem teclado. Vamos divulgar em breve mais detalhes.

Quanto vai custar?

Vai ter uma assinatura mensal em forma de bundle que inclui todos os serviços. O relógio é importado e o software é desenvolvido no Brasil. O público-alvo são crianças entre 5 e 10 anos. O cliente vai comprar o relógio e junto vai contratar o serviço. O fato de ter SIMcard será transparente.

O que mais estão planejando em IoT?

Queremos agregar mais valor a esse mercado de IoT, em vez de simplesmente vender um chip para essa conexão. Dentro dessa nova estratégia, focaremos em três verticais: 1) Personal Care, que consiste em serviços para crianças, idosos e animais de estimação; 2) Connected Car, com dispositivos de rastreamento e diagnóstico, para fazer a gestão do seu veículo ou da sua frota; opções de entretenimento embarcadas na central multimídia do automóvel; ofertas específicas de WiFi dentro do carro com 4G; 3) e Smart Home, ou casas conectadas. Nesta última já trabalhamos em sinergia com a NET, nossa empresa-irmã, que tem presença forte nos domicílios brasileiros. Aproveitamos a conexão banda larga que a pessoa tem na sua residência e usamos o mobile como backup. Entra também a força de campo da NET, que vai nos ajudar a levar o serviços para dentro da casa do cliente.

A grande dificuldade em IoT é a falta de dispositivos homologados no Brasil. Às vezes precisamos importar o produto mas este não está homologado pela Anatel.

Que tipo de serviços planejam para casas conectadas?

Desde projetos mais robustos de automação como outros mais simples, como um sistema de segurança com detector de abertura de portas e janelas, além de câmera de vídeo. Envolveremos parcerias com empresas que vão fazer todo o back-office do serviço.

Já escolheram os parceiros dos serviços em cada uma dessas verticais?

Para a parte de carros estamos trabalhando com três parceiros. No Personal Care são dois. E na vertical Smart Home, três. Não posso divulgar nomes ainda.

No mercado de carros serão produtos embarcados de fábrica ou vendidos no after market?

Estamos negociando com duas montadoras. A ideia é trabalhar um modelo que chamamos internamente de dupla APN (Access Point Name): teria um único chip embarcado nesse automóvel com uma APN B2B, que seria o serviço contratado pela montadora para fazer telemetria e diagnóstico do carro, num contrato com a operadora, e uma segunda APN B2C, onde estaria embarcado um aplicativo para que o cliente pudesse contratar serviços de entretenimento ou de banda larga diretamente com a operadora através de cartão de crédito. Vai ser transparente para o cliente ter ou não ter um SIMcard. Será uma relação totalmente digital. Ele não precisa ser cliente da Claro e tampouco vai ter um contrato conosco. Ele vai contratar o serviço sob demanda pelo cartão pelo período que quiser.

Podemos dizer que 2016 será o ano da Internet das Coisas na Claro, então?

Não será apenas IoT. A nossa ideia é começar a botar produtos no mercado com a menor burocracia possível e trazer o cliente para uma experiência que chamamos de "full digital".  Do mesmo jeito que se compra qualquer coisa na Internet ou pelo mobile, queremos trazer essa experiência para o mundo de telecom. Estamos falando de assinar um serviço nosso sem contrato, só com cartão de credito. É uma estratégia que vamos perseguir muito este ano. Queremos que o cliente possa cada vez mais comprar produtos através das nossas lojas digitais, seja embarcado em um smartphone ou em um dispositivo IoT, como a central multimídia do seu carro. Será uma contratação de forma totalmente digital, sem precisar ir pessoalmente até uma loja ou ter contrato conosco.

Quais os impactos da crise no consumo de SVA no Brasil até agora?

Notamos uma piora na taxa de billing, o chamado billing rate.

O que é isso?

Digamos que cliente assine um serviço de assinatura semanal. No pré-pago tem aquela mecânica: usa-se quando tem crédito. O cliente não é propriamente ativado ou cancelado a cada semana, se tiver ou não tiver crédito. A gente tenta cobrar: se não tiver crédito, desço um degrau de cobrança (step down). O billing rate é a taxa de sucesso dessa cobrança. E percebemos que o billing rate diminuiu um pouco. Isso se sente no pré-pago. Já nos pós-pagos não vemos um aumento de cancelamento dos serviços.

Por outro lado, tem também a questão do fim do múltiplo SIMcard. As pessoas não estão mais mantendo tantos SIMcards. A tendência é que elas fiquem com um só, o que gera diminuição de base. Nosso posicionamento é sermos o chip da Internet. Se você quer realmente Internet, o chip é o da Claro. Nossas ofertas são agressivas em dados tanto no pré quanto no pós. E mantivemos as ofertas das redes sociais. Tudo isso nos posiciona como sendo a melhor opção para quem quer Internet móvel.

O que acha do modelo de acesso patrocinado? Pode crescer neste período de crise?

Como as pessoas não têm necessariamente crédito todo o tempo, ganham força as propostas de dados patrocinados e de dados reversos.

Qual a diferença entre os dois modelos?

Dados patrocinados é quando uma empresa patrocina a navegação do usuário. Seja porque se fidelizou a algum programa da empresa ou porque aceitou publicidade dla, o usuário é bonificado com um pacote. Dados reversos, ou 0800 de dados, por sua vez, é o modelo em que a empresa paga o acesso ao portal ou ao app dela. É uma tendência. É um caminho que a gente acredita.

Podemos esperar para este ano então novos projetos de dados reversos como o do Netshoes e do Bradesco?

Tem dois bancos negociando conosco que estão bem interessados em fazer isso, da mesma forma que temos outros e-commerces que querem fazer um contrato de teste. Há dois e-commerces avaliando a possibilidade de fazer um piloto. Mas ainda falta hoje uma empresa trabalhando como broker disso, tal como existe em SMS. Mas acredito que vamos evoluir nessa direção. Internamente, na Claro, estamos desenvolvendo a infraestrutura para ter escala para oferecer isso, como acontece hoje no SMS. O que a MUV faz é incluir dados reversos nas empresas onde ela já tem plano de mídia.

E projetos de dados patrocinados?

Acredito que este ano teremos um modelo de dados patrocinados. É uma solução tecnicamente mais complicada porque tenho que dar a navegação gratuita para aquele usuário por certo tempo e volume e depois cobrar de um terceiro. É mais complexo do que zerar a navegação de uma URL. Mas estamos trabalhando nisso e até o meio do ano teremos um case.

A Claro oferece zero rating no acesso ao Facebook, Twitter e WhatsApp. Qual o balanço dessa oferta até o momento?

Essa oferta nos ajuda nesse posicionamento de sermos o chip da Internet. Fechamos o ano com um crescimento bacana em pré-pago e um share de adições líquidas forte também no pós-pago, o que foi impulsionado pelas redes sociais. Avalio que a parceira tem sido positiva.

Mas não vai durar para sempre, certo?

É a famosa promoção por tempo indeterminado. Enquanto for saudável vamos manter. Até mesmo porque as redes sociais não descontam do pacote, mas o cliente tem que ter um pacote de dados. Isso nos ajudou para que o preço do pacote para o pré-pago saísse de R$ 0,75 para R$ 0,99. Hoje mais da metade da base pré-paga são usuários mensais de dados.

Qual é a proporção de smartphones na base da Claro atualmente? A crise está desacelerando a migração do brasileiro para smartphone?

Pouco mais da metade da base Claro tem smartphone. O que vemos é que a venda de telefones novos diminuiu mas o mercado de seminovos acelerou. Existe um mercado informal desses equipamentos. O varejo lá fora vende telefones recondicionados, o que não é tão forte no Brasil ainda. Acredito que a adoção de smartphone vai continuar, mas puxada pelo mercado de usados.

Como está hoje o Brasil em termos de consumo e oferta de SVA comparando com outros mercados-chave para a América Móvil na América Latina, como México, Chile e Argentina?

Algumas coisas são mais rápidas em alguns países que em outros. IoT, por exemplo, está mais evoluída no Brasil e no México. A estratégia de apps e de carrier billing é igual em toda a América Latina. O modelo de dados reversos, neste sim, o Brasil está mais avançado. Isso decorre mais da iniciativa das empresas locais e de questões de custo. O custo de atendimento humano é caro para os bancos brasileiros. No México não vemos essa urgência do setor financeiro. Mas o modelo de dados reversos já está sendo desenvolvido em outros países. No México há um movimento de buscar interessados.

A Claro realizou o primeiro teste de LTE broadcast na América Latina. Qual é o potencial de negócios para essa tecnologia?

A verdade é que a tecnologia está mais evoluída que o modelo de negócios. Utilizamos um pedaço de espectro do LTE para transmitir um conteúdo que pode ser um download de um software, ou um vídeo streaming, de maneira massiva. Todos os telefones LTE que tiverem essa capacidade recebem esse conteúdo pelo mesmo canal. Em vez de fazer transmissão unicast em que se aloca um canal para cada telefone, dedico um canal para ser sintonizado por milhões de pessoas. Isso gera uma série de ganhos, como maior qualidade e estabilidade de conexão. E, como uso um único recurso da rede para atingir milhões de celulares, é uma transmissão extremamente barata. Pode servir para várias finalidades, como a transmissão ao vivo de TV, o upgrade de software de uma rede de caixas eletrônicos, ou a atualização de painéis digitais de publicidade. Cabe ressaltar que se trata de um canal só de download. Em última análise conseguimos oferecer um pacote grande de dados a um custo pequeno, independentemente de ser para 100 ou para 1 milhão de telefones. Em conteúdo o que vemos é a possibilidade de oferecer um serviço de TV digital a um custo também mais barato. Hoje temos OTTs, mas, quando vejo um vídeo, gasto 500 MB, o que no unicast é caro. Ao pegar um pedaço de espectro e levar um filme para milhares de pessoas, consigo dar um serviço de streaming extremamente barato. A ideia é ter uma grade de programação em que cliente pague sem se preocupar se o pacote de dados vai acabar. A operadora norte-americana Verizon é o grande case de LTE broadcast. Ela patrocina a NFL (Liga Nacional de Futebol Americano) e o Super Bowl. O estádio inteiro pode sintonizar e acompanhar no celular a câmeras específicas fimando o jogo, além de receberem dados estatísticos transmitidos ao vivo. Mesmo que haja 100 mil pessoas assistindo nas arquibancadas não tem problema de rede, o que no unicast seria impossível.

[Nota do editor: Esta é a segunda matéria em 2016 da tradicional série de entrevistas que MOBILE TIME publica no começo de cada ano com os diretores de SVA das operadoras brasileiras. A primeira este ano foi com a Vivo e pode ser lida entre os links relacionados abaixo.]