O setor de conteúdo móvel evoluiu a partir  do modelo de serviço de valor adicionado (SVA) inicial, considerado como 1.0, mas há discordância a respeito da terminologia ou mesmo do estágio atual dessas soluções, conforme foi debatido durante o primeiro dia do Congresso Tela Viva Móvel 2016, nesta terça-feira, 3, em São Paulo. Para alguns executivos do setor que estavam presentes ao nascer dessa indústria, o movimento não foi de migração de SMS para aplicações over-the-top (OTT), mas sim de uma complementaridade. Para outros, já estaríamos à caminho do SVA 3.0.

O vice-presidente da Movile, Paulo Curio, alega não ter acontecido uma mudança tão brusca, mas sim uma evolução natural do produto, sem migração ou substituição de tecnologias. "É fácil pensar que estamos migrando de um mundo SMS para mundo de apps, mas na verdade essa é uma visão pequena dada ao ecossistema de SVA", avalia. Contudo, destaca a expansão do alcance da Playkids, que desenvolve conteúdo infantil e está disponível em mais de 130 países e oito idiomas. Além disso, afirma que a empresa já aposta no que considera SVA 3.0, ou seja, os bots. "Porque é 3.0 de ecossistema, não só tecnologia", diz.

O head de marketing da FS, Rodrigo Murta, concorda. "Acho que estamos indo para a próxima evolução de mercado, e acredito que passa muito para a gente colocar o cliente no centro de nossas decisões com o SVA 3.0", diz. "Não basta engajar na hora de vender e quando ele quer cancelar, tem que trabalhar com clientes corretos, com a segmentação, e ter interação, com analytics, para saber quando o cliente tende a clicar mais na esquerda que a direita."

A nomenclatura de SVA 2.0 ou 3.0 deixa o sócio-diretor da Gold360, Rafael Lunes, "bastante inquieto", embora veja com bons olhos o surgimento de chatbots, já que "o modelo atual está desgastado". Na opinião dele, a questão é que os bots não necessariamente são uma novidade, citando o uso de "árvores de navegação SMS" e projetos "mnemônicos", que não se tratam de inteligência artificial, mas apenas entendimento com base em repertório. Para Lunes, é preciso aprender com os erros do passado, especialmente na abordagem das operadoras com o walled garden (jardins murados, ecossistemas fechados) e é necessário definir o que é 2.0. Na opinião pessoal dele: "A minha autocrítica do setor é que a gente demorou para evoluir e agora estamos discutindo nosso papel na indústria".

Poder do SMS

A transição foi transparente, na visão do CEO e co-fundador do aplicativo de táxis corporativos, Wappa, Armindo Mota. Ele explica que no início era necessário utilizar o WAP e SMS, mas com dificuldades de interface. "Não era amigável, mas conseguíamos transacionar porque tinha capilaridade, porque 100% dos telefones podiam usar SMS", lembra. Desde 2010 com o aplicativo (a partir de 2012 ele permitiu efetuar as chamadas sem necessidade de ligações por voz), houve uma aceleração no serviço. "Tivemos crescimento de receita de 400% em três anos depois da entrada dos apps", diz. Mota revela ter se interessado durante o evento pelo tema do chatbot. "Ainda não pensei nisso, vamos falar", disse.

Sócio-fundador da Take.net, Roberto Costa, avalia que "todo ano no Tela Viva Móvel a gente pensa nisso (que o SMS iria acabar)". A empresa, pelo contrário, aposta no futuro da ferramenta. Atualmente, Costa considera 17 milhões de números únicos brasileiros utilizando algum serviço da empresa, gerando mais de 10 bilhões de mensagens de texto. "O SMS não é tecnologia, é serviço", afirma. "Acho que essa preocupação vem muito disso: de existir associação do nome SMS a uma plataforma, mas no fundo é o serviço mais importante."