A Internet das Coisas (IoT) é um dos pontos mais destacados do relatório Trends in Telecommunication Reform 2016, divulgado nesta terça-feira, 5, pela União Internacional de Telecomunicações (UIT), que alerta para a necessidade de estabelecer regulações e padronizações para esses tipos de comunicações. Na avaliação da UIT, é necessário reduzir preços, implantar iniciativas de cidades inteligentes e aplicar mais trabalho para integrar as diferentes estruturas de padronização técnica.

"Uma rede de 'coisas' uniforme é improvável de desenvolver em médio prazo", afirma a entidade no documento, exemplificando com a improbabilidade (e a falta de propósito) de que medidores inteligentes de utilities se comuniquem diretamente com medidores de batimento cardíaco. Dessa forma, o resultado será um sistema heterogêneo: redes públicas e privadas; aplicações com altas e baixas demandas de banda; interativos ou completamente automáticos; e focados em pequenas transferências de dados, como smart meters.

Na visão da União Internacional de Telecomunicações, para a IoT ser uma tecnologia realmente ubíqua, é necessário que o custo de etiquetas, sensores e sistemas de comunicação caia para valores que sejam "uma pequena fração dos custos totais dos objetos aos quais estão anexos". Ou seja: conexão e "inteligência" das coisas não podem significar que o objeto em si se torne muito mais caro por isso.

Da mesma forma, a durabilidade e confiança dos sistemas em larga escala que possam incluir milhares de sensores, dispositivos e leitores também são aspectos importantes, sobretudo na questão da segurança. "Invasores podem entrar em sistemas e redes IoT, acessando informações sensíveis em potencial sobre usuários e utilizando dispositivos vulneráveis para atacar redes locais e outros aparelhos." Alerta ainda para a possibilidade de que operadores de plataformas IoT possam acessar esses dados privados, que podem ser ainda mais sensíveis ao se cruzar com perfis do usuário e de outras fontes.

O relatório cita como exemplo de uso do legislativo para implementar serviços de M2M ao mercado o projeto de Sistema Integrado de Monitoramento e Registro Automático de Veículos (SIMRAV) no Brasil. O texto, desatualizado, estima a conexão de 25 milhões de veículos até o final do ano passado, quando o projeto seria iniciado. No entanto, o Conselho Nacional de Trânsito (Contran) suspendeu a obrigatoriedade do chip rastreador e bloqueador justamente por risco à privacidade. Outro projeto continua valendo: o Sistema Nacional de Identificação de Veículos (Siniav), que utiliza radiofrequência para a identificação, e não requer a geolocalização ou rastreamento por GPS.

Iniciativas de smart cities são ressaltadas também como cenário para cerca de 30 cidades no mundo nos próximos sete anos, incluindo na China, Índia, Rússia e América Latina. O relatório usa como exemplo o monitoramento de infraestrutura como rodovias, pontes, túneis, ferrovias, eletricidade e distribuição de água – neste último caso, cita cidades como Doha, São Paulo e Pequim, que reduziram vazamentos em 40% a 50% após utilização de sensores.

A UIT usa como base em seu estudo a previsão da associação da indústria de mobilidade GSMA de haver entre 1 e 2 bilhões de conexões máquina-a-máquina (M2M) até 2020, com um valor adicionado de US$ 1,7 trilhão para a economia global em 2019.