As fotos publicadas no Facebook e em outras redes sociais em breve servirão para identificar os consumidores em qualquer canto do mundo, desde que estejam na mira de uma câmera conectada. Uma start-up brasileira chamada Bom Credor desenvolveu uma solução de reconhecimento facial que utiliza como base o banco de imagens do Facebook para identificar consumidores. A ideia é oferecer o serviço para varejistas: os vendedores receberiam notificações push em seus smartphones ou tablets com um resumo do perfil dos clientes que entram na loja em tempo real, a partir de uma análise de seus rostos pelas câmeras do estabelecimento. O perfil, por sua vez, viria também de dados públicos daquela pessoa nas redes sociais. Cruzando com outras informações presentes no Facebook, como email ou telefone, será possível descobrir o CPF daquele consumidor e até fazer sua análise de crédito.

Além do reconhecimento facial dentro das lojas, a Bom Credor quer prover dados sobre fluxo e perfil demográfico das pessoas que visitam shopping centers. As imagens captadas pelas câmeras dos shoppings e das lojas seriam cruzadas com aquelas de fontes públicas de terceiros, como Facebook e Google, para a identificação e poderiam ser armazenadas pela empresa para tornar o reconhecimento cada vez mais preciso. Atualmente, o índice de acerto gira em torno de 70%. Com seis fotos de uma mesma pessoa, pode passar de 90%.

O Bom Credor já está com a tecnologia pronta, mas aguarda o parecer do seu departamento jurídico para lançá-la, explica Marcelo Salomão, executivo de negócios da Gigatron, empresa que controla o Bom Credor. Há alguns pontos nebulosos que precisam ser esclarecidos, reconhece.

"Não sabemos até que ponto podemos armazenar o rosto de uma pessoa. Pelo Marco Civil da Internet, não posso armazenar sua imagem sem a sua autorização expressa", diz Salomão. No contrato do Facebook, por outro lado, as pessoas autorizam a utilzação do conteúdo que publicam. Porém, alguns juristas entendem que esses contratos assinados na Internet com um simples "X" em uma caixinha dizendo que se concorda com os termos do serviço não teria validade jurídica se não for feita com um certificado digital. "É um imbróglio jurídico. Estamos aguardando o parecer e pedimos consulta junto à OAB e em vários outros lugares", diz.

A ideia de fazer uma análise de crédito prévia de uma pessoa, sem o expresso consentimento desta, também pode enfrentar resistência. Trata-se de uma informação privada, que requer a autorização do consumidor. Quando se faz uma compra a prazo, o lojista pode pedir o seu CPF para fazer a análise de crédito. Aliás, o próprio Bom Credor nasceu como um serviço de consulta de crédito tradicional, como Serasa e afins. Mas para adicionar essa ferramenta de checagem via reconhecimento facial será preciso resolver antes essa questão jurídica.

Validação de compras

A Gigatron também está desenvolvendo um serviço de autenticação por reconhecimento facial para pagamentos on-line "Hoje há muita fraude com cartão de crédito em e-commerce. No momento da finalização da venda, vamos abrir a câmera do notebook ou do celular e validar que a pessoa que está comprando é a mesma que detém o cartão de crédito", explica Salomão. A solução será oferecida para gateways de pagamento on-line, mas ainda não tem previsão de lançamento.

Gigatron

O Bom Credor é hoje uma das ferramentas oferecidas via web pela Gigatron através da plataforma pré-paga GigaPay, em que o usuário deposita dinheiro e pode gastá-lo com serviços diversos na web, como geração de boletos e agendamento pelo celular ou consulta de crédito. A cobrança é por utilização de cada serviço. No caso do Bom Credor, é por cada consulta de crédito. Hoje a GigaPay tem 60 mil usuários recorrentes dos quais 12 mil utilizam o Bom Credor.