O sucesso do Kantoo, curso de inglês e espanhol pelo celular, abriu os olhos da Vivo para um mercado ainda pouco explorado no Brasil: serviços de conteúdo móvel que efetivamente transformem as vidas das pessoas. Para o diretor de produtos e serviços da operadora, Alexandre Fernandes, este será o grande foco da companhia no segmento de conteúdo móvel em 2012. "Será o ano dos serviços que realmente agregam valor à vida das pessoas, serviços que vão além do entretenimento", disse o executivo, em entrevista para Mobile Time. Ele se refere a produtos relacionados às áreas de educação, saúde e segurança, principalmente. O executivo também falou sobre os planos da Vivo para mobile marketing e a adoção de uma plataforma de RCS-e, que promete revolucionar os serviços de mensagens (SMS e MMS). Esta é a segunda entrevista de uma série com os diretores de operadoras brasileiras e seus planos para 2012 que Mobile Time publicará ao longo das próximas semanas. Leia abaixo a entrevista com Fernandes.

Mobile Time – Em que serviços de conteúdo móvel a Vivo está apostando suas fichas em 2012?

Alexandre Fernandes – Acredito que 2012 será o ano dos serviços que realmente agregam valor à vida das pessoas, serviços que vão além do entretenimento. Estou falando de m-learning, área em que já somos fortes e este ano queremos consolidar nossa liderança. Estamos preparando uma plataforma de m-learning/m-education que permita a empresas, organizações e comunidades colocar o seu conteúdo e distribuir através da nossa infraestrutura. Ou seja, o conteúdo não seria white label (com a marca da Vivo). Seria uma relação de uso de plataforma.

Seria para atender somente a clientes Vivo?

Não necessariamente. O que posso dizer é que seguramente queremos expandir, consolidar e alargar nossa participação na área de m-learning. Teremos um grande lançamento na linha do Kantoo (curso de inglês pelo celular) este ano.

Será outro curso de línguas?

Vai além dos idiomas, não posso dizer o que é. Vai ser uma coisa muito forte.

Para quando é isso?

Março. Será algo massivo, que interessa a todo mundo e associado a uma marca de conteúdo extremamente forte e relevante na vida das pessoas. 2012 será o ano dos serviços que realmente fazem a diferença. O Kantoo não é somente para quem quer aprender inglês, mas também para quem quer relembrar, praticar, aperfeiçoar e treinar. Fiquei muitos anos no exterior, falando inglês diariamente, e mesmo assim sempre aprendo algo novo no Kantoo, ou relembro coisas que esqueci. As pessoas precisam ver o celular e seus serviços como algo que melhora a sua vida. Dentro desse conceito, também atuaremos nas áreas de m-health e de segurança. Já temos o Vivo Segurança on line, que é uma proteção para navegação no smartphone, com antivírus, antispyware, parental control, fornecido pela F-Secure.

Quantas pessoas assinam o Vivo Segurança?

São centenas de milhares. Cresceu rapidamente. É algo que agrega à vida das pessoas. A proteção de onde meus filhos navegam: isso não tem preço.

A Vivo lançou no ano passado uma iniciativa na área de ebooks, o "Nuvem de livros". Há novidades nessa área?

Dentro de poucas semanas lançaremos o "Nuvem de livros" para iOS, Android e HTML5. Nossa proposta não é a venda do ebook. O que disponibilizamos é o acesso ilimitado e irrestrito a uma nuvem: o usuário pode ler a qualquer momento qualquer parte de qualquer livro do catálogo. Temos mais de 30 editoras parceiras, além de todo o acervo de vídeo-aulas da Fundação Roberto Marinho. Este é um bom exemplo do que chamamos de "m-education".

E quanto aos serviços de entretenimento?

Os melhores serviços de entretenimento vão vingar, como o "som de chamada", que é um sucesso estrondoso: foi lançado em janeiro do ano passado e agora estamos nos aproximando de 5 milhões de assinantes. E também lançaremos vários serviços à volta das redes sociais, que tragam o que há de melhor nelas associado à mobilidade.

Pode dar um exemplo?

Como se beneficiar de todas as possibilidades de um PC se você estiver na rua e não possuir um smartphone? A Vivo vai fazer serviços para toda a base. É verdade que o parque de smartphones está crescendo, mas a grande maioria das pessoas ainda não tem esse aparelho. Nós queremos levar as redes sociais com mobilidade a todos os nossos clientes. Outra área que queremos atuar são serviços à volta de instant messengers. Sabemos que há concorrentes novos com propostas de valor interessante, como o WhatsApp, e nós temos novidades fortíssimas nessa área, como a implementação do RCS-e (Rich Communication Suite – enchanced, padrão que promete ser a evolução do SMS e do MMS para as operadoras celulares).

A Vivo já tem uma plataforma IMS (IP Multimedia Subsystem) para suportar o RCS-e?

Temos. Só não posso dar a data de quando lançaremos o RCS-e. Queremos enriquecer a experiência de messaging na Vivo. Lançaremos este ano um conjunto de serviços em volta do messaging. Acreditamos que temos uma responsabilidade de entregar os melhores serviços. E há soluções OTT (over the top) interessantes.

A Vivo tem hoje a maior cobertura 3G do Brasil. Isso se reflete no consumo médio de dados de seus usuários? Qual é hoje a média de tráfego de dados dos usuários da Vivo com feature phones, smartphones e tablets?

Temos o maior parque de clientes com planos de dados e líderes em banda larga móvel. E somos líderes em venda de pacotes de dados para feature phones também. Não tenho números de tráfego.

A Vivo, com o Vivo Meu App, é uma das poucas operadoras que está se posicionando dentro desse mercado de aplicativos. Ao que parece, vocês não querem virar meros canos para tráfego de dados. Qual é o papel de uma operadora no mercado de conteúdo móvel diante dessa tendência de popularização de smartphones e de lojas de aplicativos?

É um mercado que não podemos ignorar, pois vem crescendo lá fora bastante. Apple e Google fizeram um trabalho espetacular nessa padronização. A Vivo quer democratizar a criação de aplicativos. Há duas barreiras para esse mercado crescer: conhecimento e custo, pois é muito caro terceirizar a produção de um app. É verdade que há milhares de apps hoje, mas poucos foram desenvolvidos por pessoas físicas ou pequenas empresas. Vivo Meu App vai crescer: vamos incluir novas features e novos modelos de negócios, na linha do Blue Vía. A Telefonica tem a missão de chamar uma comunidade de desenvolvedores, de chamar a inovação, o talento. É o oposto do "pipe". Nós queremos que desenvolvam conosco, usem a nossa rede e nossas APIs de rede, usem a nossa plataforma gratuitamente. É uma área que vamos continuar apoiando. Já temos mais de 1 mil apps criados no Vivo Meu App.

A Claro está entrando no mercado de streaming de vídeo na Argentina nos moldes de uma OTT e talvez faça o mesmo no Brasil. A Vivo tem planos para esse segmento?

O que posso dizer é que queremos oferecer experiência cada vez mais convergente e multidevice, o que será feito em parceria com empresas do grupo. Temos o Terra, que produz conteúdo. Faz parte dos nossos planos, mas não posso revelar maiores detalhes.

Em entrevista para Mobile Time, o chairman da Virgin Mobile Latin America disse que pretende se diferenciar através de conteúdo para o público jovem. Essa nova concorrência lhe preocupa?

Não, não me preocupa. A Vivo tem um portfólio amplo de serviços e de planos para atender os jovens, como o Vivo On. Temos hoje uma oferta completa. Mas acho saudável a concorrência, pois ela estimula e gera novas ideias, novos desafios. Lançamos para os jovens um serviço sobre vagas em concursos públicos. Lançamos também condições diferenciais para que possam usar o celular para ter acesso a bens virtuais em jogos na Internet via SMS. Lançamos um clube de descontos em parceria com o clickOn, que também está crescendo.

O SMS parece que nasceu de novo no Brasil no ano passado, com o lançamento de planos ilimitados. E as mensagens multimídia (MMS)? Ainda há chance do MMS dar certo por aqui?

O serviço que lançaremos de fortalecimento do messaging inclui o MMS. Uma das prioridades é o MMS. Nós queremos que as pessoas usem o recurso de mensagens multimídia. Por que não avançou ainda? Não é uma questão de preço, pois o preço vem caindo bastante. A Interconexão demorou a vir e houve o problema da compatibilidade dos aparelhos. Mas esses dois pontos estão se resolvendo. Hoje temos interconexão com todas as teles e uma base de aparelhos cada vez mais rica. Falta complementar com serviços de MMS. Hoje temos o Vivo Foto Notícias, que manda todo dia notícias com conteúdo do grupo Abril. Vamos aprimorar a experiência do usuário e incrementar com serviços que lançaremos a um preço bom. Com isso veremos uma melhoria no uso do MMS este ano. Mas concordo: poderíamos já estar em um patamar maior.

Há mais potencial hoje para o MMS com conteúdo de terceiros ou o MMS trocado entre usuários (P2P)?

Os dois podem crescer e um ajudará o outro.

Outra área que queremos trabalhar mais é a de marcas ou empresas que subsidiem parte do custo do serviço, o famoso mobile marketing. Há muito tempo ouvimos falar que será o ano do mobile marketing. Acho que este ano temos condições de realizar isso, mas precisa ser com ideias fora do lugar comum, criativas, com campanhas inovadoras.

Com oferta de algum tipo de bonificação para o usuário final?

Claramente precisa haver algum benefício para o cliente. Além de inovação e criatividade. Estamos avaliando soluções nessa área. Precisa ser algo bem feito e fora do lugar comum. Não pode ser apenas receber um torpedo patrocinado. Podemos fazer muito mais. Queremos que usuário entenda que mobile marketing é algo que lhe dá um benefício e lhe agrega valor. Não é algo que empurraremos. Será algo que o consumidor pedirá e nós entregaremos, levando em conta sua localização e seu perfil.

A Vivo está construindo uma base de opt-in para essa finalidade?

Sim. Isso é feito no ato do contrato dos novos assinantes. E temos depois algumas iniciativas que vão aprimorando o cadastro. O que vai diferenciar as operadoras nessa guerra de virar "pipe"ou não é o conhecimento sobre seu cliente. Como nossos milhões de assinantes navegam? Qual sua praia preferida? Onde tomam cerveja à noite? Como se comportam? Quantos vão a um show do U2 no Morumbi e para onde vão depois? Fala-se há muito tempo em mobile marketing: agora acho que chegou o momento de trabalhar isso de verdade. Faz parte da nossa estratégia aprofundar cada vez mais o conhecimento e os gostos sobre nosso cliente, para atendê-lo melhor e para que o mobile marketing não seja algo empurrado. E tudo sempre com autorização do consumidor e comodidade. Tem um serviço que é uma boa referência: o O2 Moments, na O2, na Europa. É um aplicativo em que você escolhe o que gosta, onde costuma ir, seu estilo de roupa, estilo musical etc, e o app te entrega ofertas para o seu perfil.

A Vivo lançou recentemente a rede HSPA+ em São Paulo. Como diretor de serviços e produtos, você deve estar ansioso pela chegada do 4G. Que novos serviços poderão surgir? Ou o 4G servirá apenas para melhorar a velocidade dos serviços atuais?

Vídeo em alta definição, por exemplo: a experiência de ter um tablet conectado e assistir a vídeos em HD. Para isso é necessária uma banda com largura significativa. Esse é um exemplo de algo que com 4G vai decolar. E também a partilha de grandes arquivos de forma quase imediata. Vivemos em mundo cada vez mais conectado. Por exemplo: se você filmar um vídeo de quatro minutos em HD do nascimento do seu filho e quiser compartilhar imediatamente com a família que está em outra cidade? Trabalharemos também a segurança do seu conteúdo, um backup de tudo, de fotos e de vídeos. O iCloud é uma boa referência. A experiência de navegação também vai melhorar com o 4G porque as páginas de Internet estão cada vez mais pesadas, com 4 ou 5 Mb cada.