O mercado de streaming de vídeo é dominado hoje por serviços over the top (OTT), ou seja, que utilizam as redes das operadoras mas não dividem a receita com elas. É o caso do Netflix e do YouTube. O primeiro adota o modelo de assinatura mensal com pagamento em cartão de crédito. O problema é que a maioria dos brasileiros não têm cartão de crédito, mas têm um telefone celular pré-pago. Aí reside uma enorme oportunidade para as operadoras móveis, especialmente aquelas que não precisam se preocupar com a canibalização sobre o serviço de TV por assinatura de outra empresa do mesmo grupo. Este é exatamente  o perfil da TIM. Não à toa, a empresa está preparando para lançar no segundo semestre um serviço de assinatura de vídeo com foco na sua base pré-paga, revela o diretor de Internet e serviços de valor adicionado da TIM, Fábio Cristilli, em entrevista para MOBILE TIME. Pelo mesmo motivo, a operadora descarta firmar acordos de carrier billing com OTTs, a não ser que sejam restritos à base pós-paga, que geralmente tem cartão de crédito. O executivo comentou também sobre as parcerias com Deezer, Waze, WhatsApp e Moovit, assim como novas verticais de conteúdo com as quais trabalhará este ano.

MOBILE TIME – Quais são as prioridades da TIM em conteúdo móvel para 2015?

Fábio Cristilli – Vamos continuar focando em serviços que tenham muita aderência com Internet, como música, segurança, educação e o TIM Apps Club e TIM Games Club. E vamos lançar um serviço de vídeo, no segundo semestre. Os pilares que seguimos são a sinergia grande com a Internet e um apelo massivo, de forma que possamos entregar valor grande para o cliente final. O foco são aqueles com potencial de massificação na nossa base.

A estratégia da TIM é de simplificação dos serviços, para oferecer de maneira transparente. No caso do TIMmusic, por exemplo, não cobramos pelo tráfego. Isso faz diferença porque é streaming. É mais vantajoso para o usuário pagar R$ 9,90 por mês pelo valor total do serviço (conteúdo mais o tráfego), do que pagar R$ 14,90 mais o tráfego com uma OTT.

Fale mais sobre esse novo serviço de vídeo.

O número de smartphones está crescendo rapidamente. Hoje, mais da metade da nossa base tem smartphone. E a base com 4G também cresce muito, o que proporciona a tendência de as pessoas usarem mais serviços de vídeo. Como temos foco móvel, faz sentido entrarmos e oferecermos um serviço de vídeo white label ou co-branded. Percebemos isso pela demanda de tráfego de vídeo em nossa rede. Estamos negociando possíveis parcerias.

Mas faz sentido lançar um serviço novo de vídeo? Esse mercado já não está dominado por Netflix, no caso de vídeos premium, e YouTube, para conteúdo gerado pelo usuário?

O Netflix tem 2 milhões de clientes no Brasil. O mercado pré-pago não tem cartão de crédito. Fizemos várias pesquisas que indicam que o cliente pré-pago confia muito na marca da operadora. Temos canais digitais para oferecer esse conteúdo, da mesma forma que fizemos com música, segurança etc. Mesmo havendo marcas conhecidas de serviços over the top (OTT) nessas áreas, conseguimos uma base significativa de assinantes. É um mercado que tem espaço grande no médio e longo e prazo.

A TIM está aberta a fechar acordos de carrier billing com serviços OTT? Se o Netflix, por exemplo, procurasse a operadora para um contrato desse tipo, a empresa aceitaria?

O carrier billing pode fazer sentido no caso do pós-pago, para OTTs, pois aí é temos um wallet share, afinal, é um cliente que já tem cartão de crédito. As faturas são mais extensas, ele pode gastar mais. Já no pré-pago afetaria a nossa vantagem competitiva.

A TIM investiu bastante em parcerias com apps estrangeiros, como Moovit e Waze. Qual é o balanço dessas iniciativas? Qual foi o retorno para a TIM?

O principal motivo para essa parceiras é entregar para o cliente um aplicativo que ele tenha interesse em utilizar. Em contrapartida, temos a comunicação dos pontos de venda da TIM, no caso do Waze e do Moovit. O cliente pós-pago, que usa Waze, e o pré-pago, que usa o Moovit, fica sabendo onde estão os pontos de venda da TIM. Com o tempo poderemos fazer promoções específicas. É uma relação de ganha-ganha. É bom para os dois lados.

Está sendo negociada alguma outra parceria desse tipo para este ano?

No momento, não.

A aliança com o WhatsApp surpreendeu. Muitas operadoras consideram esse app um competidor direto. Como foi a decisão por trás dessa parceria? Foi fácil aprová-la dentro da TIM?

Um ponto positivo aqui na TIM é que existe uma liberdade de pensar em novos negócios que é boa para a empresa. Temos abertura para propor novas ideias. No caso do WhatsApp procuramos nos aproximar deles. Lembro que a pessoa de novos negócios do WhatsApp estava de férias no Brasil quando tivemos a ideia. Meu gerente descobriu e conseguimos nos reunir com a pessoa aqui. Propusemos a parceria como ela é hoje. Para o WhatsApp é bom porque promove o serviço deles. E internamente entendemos que o WhatsApp é hoje o serviço de comunicação mais utilizado no Brasil e ponto final. Então decidimos  unir com o nosso plano controle. O objetivo era lançar um plano controle para dados, para Internet, e conseguimos um apelo maior oferecendo o WhatsApp, para chamar a atenção. Assim surgiu o plano controle WhatsApp: 300 MB por mês, com bloqueio de dados ao fim da franquia, mas WhatsApp ilimitado. Hoje, mais da metade das vendas do pós-pago controle são do plano WhatsApp.

Por falar nisso, como está o Blah? Tem números de uso para compartilhar?

Vejo o Blah como um bebê. É um serviço de comunicação unificada. É muito bom, confiamos nele. Recentemente incluímos zero rating de Internet para o Blah, o que gerou um boom de downloads: o app já foi baixado mais de 1,5 milhão de vezes. E está crescendo muito forte na base TIM beta (Nota do editor: base pré-paga com foco no público jovem e marketing em redes sociais). É um serviço que está crescendo de maneira estruturada, apesar de ainda ser pequeno. Acreditamos nele em médio prazo. Tem que passar por um período de maturação, obviamente.

Há quem diga que o SMS peer to peer (P2P) vai acabar e sobrará apenas o SMS A2P, ou seja, para a comunicação entre empresas e seus consumidores ou funcionários. Concorda com essa previsão?

Depende… estamos falando de quanto tempo? Se olhar em um horizonte de dois anos, ainda vai ter muita gente usando SMS, porque 50% da base ainda tem feature phones. E as pessoas com smartphone também usam SMS, embora menos. Dentro de dois a cinco anos, vai diminuir, mas o P2P vai continuar existindo. Já em um horizonte de dez anos pode ser que a força do SMS fique realmente maior no A2P. Em termos de receita de serviços de valor adicionado (SVA), aquela de conteúdo passou a de SMS na TIM em outubro passado. Vemos o SMS em processo de queda, mas essa mudança de patamar, de conteúdo passando SMS, vem mais do crescimento expressivo em conteúdo, que praticamente triplicou em três anos, do que da queda de receita com SMS propriamente.

E o TIMmusic: quais foram os efeitos depois da troca de fornecedor, do Muve para a Deezer?

A troca era esperada a partir do momento em que a Cricket foi vendida nos EUA. Fizemos uma RFP interna, escolhemos a Deezer. Foi uma escolha acertada. É um app muito bom. E nessa migração vimos que a utilização do serviço aumentou de maneira considerável, tanto em dias de uso quanto em tráfego. Não tenho os números aqui, porque é recente, mas ficou muito nítido. E agora faremos a integração final, em que teremos um novo logo: TIMmusic by Deezer. Aqui foi o único lugar do mundo em que a Deezer aceitou um acordo de co-branding. Isso acontece porque ela percebe o potencial do mercado brasileiro com a TIM. Hoje temos 900 mil assinantes. Depois dessa migração para a Deezer, percebemos que o churn é menor entre os clientes que usam o TIMmusic.

Já sentiram impacto na rede por acabar com a conexão ilimitada?

Seguimos esse caminho porque tínhamos um índice de reclamação muito forte com a redução de velocidade. As reclamações eram de pessoas achando que tinha problema de rede. E a maioria tinha a ver com a redução de velocidade. Boa parte do tráfego hoje dos clientes ocorre após o limite de velocidade. A percepção era muito negativa. Mesmo com SMS de recontratação, os clientes continuavam usando a rede e tinham a impressão de que a TIM estava com problema. Diante disso, chegamos à conclusão que o melhor seria bloquear o cliente. Eu defendi muito isso internamente porque entendi que seria a maneira mais transparente de mostrar para o assinante o quanto ele consumiu e quais seriam as opções que teria para continuar a utilizar o serviço após a franquia. Essa é uma tendência mundial. Na maior parte dos países desenvolvidos é assim que funciona. No médio e longo prazo tem também o problema de investimento, que é cada vez mais alto. O tráfego de dados tende a aumentar cada vez mais. Se nada fizéssemos teríamos uma bomba relógio. O acesso ilimitado fez sentido no passado, para disseminar o conceito de Internet móvel, mas se a indústria não mudasse de caminho, os investimentos teriam que diminuir. Com as redes 4G vai aumentar cada vez mais o consumo de dados. Em aparelhos como o iPhone cada pessoa trafega cerca de 2 GB.

Alguma outra vertical merece destaque na estratégia de conteúdo da TIM?

Lançamos há 1,5 ano m-learning e algumas verticais, como TIM Educação e TIM Bem-estar. E recentemente a vertical de celebridades. São guarda-chuvas com alguns serviços de nicho dentro. Percebemos que há clientes ávidos por conteúdos específicos. Começamos com personalidades, mas com o avanço de tecnologia e com vários serviços lançados no mercado, temos a possibilidade de avançar verticalmente nesses conteúdos. Por exemplo, no TIM Empregos teremos coaching e busca de empregos. A ideia é oferecer mais valor pelo mesmo preço. E pensamos em talvez entrar no mundo de m-commerce. 7% das compras de e-commerce no Brasil vêm de m-commerce. É uma oportunidade para as operadoras. Outra vertical nova para a gente é a infantil, com o recém-lançado TIM Kids, que será o guarda-chuva com quatro tipos de apps: um para gravidez; o TIM Kids Brincar, para crianças de 0 a 4 anos; o TIM Kids Aprender, para crianças entre 5 a 8 anos; e o TIM Kids Creapólis, para aquelas de 9 a 12 anos. O Creápolis entra mais na área de educação. Temos um fornecedor para gravidez e TIM Kids Brincar: a Digital Virgo. E a FS VAS cuida dos outros dois. Pretendemos lançar todos ao longo dos próximos dois meses. Será modelo de assinatura para  o cliente pós-pago ou por semana para o pré-pago. Todos terão apps Android e iOS.

Qual é a penetração de smartphones hoje na base da TIM?

É metade da base. E temos 37 milhões de usuários de dados por mês. Vale lembrar que temos força para direcionar esse mercado, em razão da liderança que temos na venda de celulares. Em 2014, com a estratégia de focar em  smartphones, com aparelhos a partir de R$ 219, conseguimos 50% do mercado entre as operadoras. Somos hoje o maior distribuidor do Brasil. Isso nos dá força para direcionar o mercado para o tipo de aparelho e tecnologia que nos interessa. O foco este ano será o 4G. E na TIM o usuário só precisa ter o chip e o aparelho 4G para usar o serviço.