A Tectoy está se reinventando. A queda nas vendas mundiais de videogames ligou o alerta na fabricante nacional alguns anos atrás, obrigando-a a buscar alternativas. Depois de arriscar-se no segmento de DVDs, cujo futuro não é muito promissor, a Tectoy parece ter reencontrado o rumo do crescimento, agora focando em tablets licenciados para o público infantil e com conteúdo exclusivo, em boa parte desenvolvido em seu estúdio próprio. MOBILE TIME conversou com o CEO da empresa, Sergio Bastos, às vésperas do Dia das Crianças.

MOBILE TIME – Quem foi criança na década de 90 lembra da Tectoy por causa dos videogames Master System e MegaDrive. De lá para cá a empresa se diversificou e este ano entrou no mercado de tablets. Como e por que decidiram expandir a atuação para tablets?

Sergio Bastos – Antes de mais nada, devo dizer que o Master System é o videogame que está há mais tempo no mercado brasileiro e, se bobear, no mundo. Está em produção até hoje e continuamos vendendo volumes consideráveis dele. A versão atual vem com 130 jogos embarcados.

Bem, depois que perdemos um pouco de força em videogames, analisamos outros nichos. Nosso DNA sempre foi o público infantil e jovem. É onde a gente se diferencia e sabe fazer melhor. No começo de 2010 entramos no mercado de DVDs, primeiro com aparelhos convencionais e depois com produtos licenciados, que cresceram muito. Mas DVD não pode ser um produto para o médio ou longo prazo. Através de pesquisas vimos que parte das crianças jogam Playstation 3, mas há uma faixa de idade, por volta de quatro anos, que não usa ainda esse videogame. Vimos nas pesquisas que o gadget de entretenimento dessa faixa etária é o tablet ou o smartphone do pai. Então identificamos uma oportunidade de mercado.

A Tectoy começou com um modelo de tablet da Disney, o Magic. Qual a diferença dele para um tablet de adulto?

Nosso tablet é de verdade, mas voltado para crianças. Não é um tablet de brinquedo. A criança tem que ter a mesma experiência que tem no tablet do pai. Se for algo um pouco pior, vai encostar e voltar a jogar com o do pai. E temos que rechear de conteúdo. Na parceria com a Disney pusemos dentro do tablet diversos conteúdos infantis.

Quem desenvolveu o conteúdo que vem nos tablets da Tectoy?

Temos a Tectoy Entretenimento Digital, que é um estúdio que já fez jogos para Facebook, Android e iOS. Esse estúdio desenvolveu todo o conteúdo para o Magic Tablet. O Magic foi lançado às vésperas do natal do ano passado e fez muito sucesso. Na Fnac chegou em uma quinta-feira e no sábado estava esgotado.

Depois fomos pensando em produtos para o Dia das Crianças deste ano. Primeiro criamos uma nova versão do Magic Tablet, agora com nove jogos embarcados e uma série de wallpapers. São cinco games da Disney, que na Google Play são pagos, e quatro desenvolvidos por nós, que por enquanto são exclusivos para o Magic Tablet mas que depois vão entrar na loja da Disney: um jogo da memória, um quebra-cabeça, um jogo de edição de fotos e outro de colorir. Quando a criança liga o tablet, encontra muitas alternativas de conteúdo sem precisar se conectar no Wi-Fi.

Depois veio o tablet da Galinha Pintadinha…

Sim. Foi um sucesso enorme agora no Dia das crianças. A recepção no varejo foi muito boa. Desenvolvemos o app da Galinha Tagarela (N.E.: app de talking, em que a galinha repete o que a criança diz) e outros jogos. E o tablet traz embarcados os três DVDs completos da Galinha Pintadinha, somando 42 clipes, além de vários wallpapers. Até março do ano que vem esses apps são exclusivos do nosso tablet. Depois a Bromélia poderá subi-los para a Google Play (N.E.: Bromélia é a produtora da Galinha Pintadinha).

Para o Natal terão algum outro lançamento de tablet infantil?

Seguiremos com Disney e Galinha Pintadinha.

Qual a sua avaliação da atuação da Tectoy dentro desse segmento de tablets infantis?

Fomos pioneiros. Conseguimos aprender sobre o mercado. Nosso diferencial é o conteúdo. Não vi nenhum concorrente com conteúdo e parcerias tão fortes quanto as nossas. Não vamos simplesmente pintar um tablet de uma cor e botar no mercado. Não pensamos apenas no design, mas na experiência que a criança terá quando abrir o produto.

Como lidam com a questão do acesso ao conteúdo pelas crianças? Há algum tipo de controle para os pais no tablet?

Os pais precisam estar presentes nesse acesso da criança ao mundo digital, seja através do tablet ou qualquer outro device. Trata-se de um caminho sem volta e é necessário que os pais a acompanhem. Temos uma ferramenta do Google que vem com restrição a palavras, mas estamos desenvolvendo agora um app de controle parental com o qual o pai poderá limitar ou não o acesso da criança (a conteúdo externo). Ele deve estar pronto no próximo trimestre. De todo modo, os pais precisam estar presentes, porque a criança vai acessar o mundo digital de uma forma ou de outra, seja através do tablet ou de outros devices. É importante essa conscientização. Acreditamos que nosso tablet seja um passatempo em família. É para pais e filhos brincarem juntos. E cabe lembrar que o tablet não pode substituir as outras atividades da criança.

A Tectoy também fabrica tablets para adultos. Isso não significa um desvio da sua estratégia de focar no público infanto-juvenil?

Os tablets licenciados têm uma sazonalidade forte no segundo semestre. Só que precisamos viver no primeiro semestre também. Precisamos de produtos que tragam equilíbrio para a gente. Entendemos que no médio prazo a linha de baby care vai nos ajudar nesse sentido, pois não é afetado por sazonalidade. Em paralelo temos esses tablets não licenciados, que começamos a produzir em razão de uma demanda do varejo. (N.E.: O segmento de baby care é composto por equipamentos eletrônicos de monitoramento e cuidado de bebês).

No caso dos tablets sem conteúdo licenciado, como a Tectoy se diferencia dos concorrentes?

Procuramos a diferenciação através da qualidade. Todos os nossos produtos são feitos em Manaus. E antes de chegarem ao mercado passam por vários testes na linha de produção. Ficam ligados por quatro horas sendo testados. Há alguns aventureiros que entram no mercado, vendem um grande volume, mas enfrentam problemas de qualidade. Nós estamos há mais de 25 anos no mercado.

O desenvolvimento dos produtos é feito internamente ou usam projetos oferecidos pelos fornecedores de chipsets?

É desenvolvimento interno. A maior parte dos componentes vêm de fora. E nós fazemos toda a montagem de placa e a montagem final no Brasil. Temos um time de engenharia que viaja regularmente para a Ásia para escolher os componentes, conversar com fornecedores etc. Investimos de 3% a 4% do nosso faturamento em pesquisa e desenvolvimento aplicado em conteúdo e no desenvolvimento dos produtos.

Qual a projeção de vendas de tablets da Tectoy para este ano e para 2014?

A Tectoy é uma empresa aberta. Não posso falar em números. Os tablets estão ganhando representatividade dentro do nosso faturamento. A médio prazo, os tablets licenciados e a linha de baby care serão as principais da empresa.

A Tectoy vai vender smartphones?

No curto prazo não. Já analisamos e temos algumas ideias. Não temos nenhum projeto de smartphone em andamento.

O que podemos esperar da Tectoy no futuro?

Reiventamos nosso line-up de produtos. Seguimos trabalhando em videogames. Com a saída do Playstation 2 do mercado, há gap grande para Xbox e Playstation 3. E o segmento de DVDs sabemos que vai perder representatividade daqui em diante. Os segmentos de tablets e baby care são os dois que mais aumentam. Os tablets no curto pfazo, e o baby care a médio e longo prazo.