O costume de chamar um médico para uma consulta em casa anda meio esquecido. Mas um aplicativo móvel desenvolvido no Rio de Janeiro pretende fomentá-lo de novo, facilitando a conexão entre pacientes e profissionais de saúde. Trata-se do Beep (Android, iOS), que está em operação desde abril e conta hoje com aproximadamente 600 médicos de várias especialidades, como alergologia, cardiologia, clínica médica, dermatologia, endocrinologia, geriatria, ginecologia, infectologia, obstetrícia, oftalmologia, ortopedia, otorrinolaringologia, pneumologia, psiquiatria, reumatologia e urologia.

No Beep o paciente informa seu endereço, seleciona em seguida a especialidade que necessita e depois escolhe o médico que preferir, a partir de uma lista com os profissionais que se encontram disponíveis naquele momento e distantes a um raio de até 10 Km. É possível ver o nome, a foto e a formação de cada médico, além da sua avaliação feita por usuários do Beep. É informado também previamente o preço da consulta, que é definido livremente por cada doutor. É somado ao preço o custo do deslocamento via Uber, cujo serviço de transporte está integrado ao Beep: ou seja, assim que o médico é chamado, o app dispara também uma solicitação de corrida para o Uber. Em 50 dias de existência, o Beep acumula 100 atendimentos. A meta da empresa é chegar a 150 por dia após os primeiros 12 meses de operação.

"A ideia inicial era oferecer atendimento remoto, através de videochamadas, mas isso não é permitido no Brasil. Seria oportuno em regiões remotas, mas a legislação proíbe. Então encontramos um modelo com atendimento presencial, mas facilitado pela tecnologia", relata Vander Corteze, idealizador do Beep. Corteze é formado em medicina pela UFRJ, mas seguiu carreira como empreendedor no setor de saúde. É dono de uma rede de clínicas de saúde ocupacional, cujo sucesso lhe ajudou a investir nesse novo projeto.

O app foi desenvolvido com a colaboração da comunidade médica, após uma série de encontros presenciais promovidos pelo empreendedor no Rio de Janeiro. Os médicos participantes da plataforma têm a liberdade de escolher quando estarão disponíveis, geralmente em seu tempo livre entre plantões e horário de trabalho em consultórios. E definem se podem realizar o atendimento dentro de uma, duas ou três horas.

Além disso, foi tomado o cuidado de alertar ao paciente que, dependendo dos sintomas que esteja sentindo, talvez a consulta em casa não seja a melhor alternativa. Por exemplo, antes de chamar um cardiologista, o Beep avisa: "Em caso de sintomas como dor no peito, falta de ar importante e perda de consciência, chame uma ambulância ou busque o serviço de emergência mais próximo". Em oftalmologia, por sua vez, o alerta é diferente: "A consulta oftalmológica domiciliar não está indicada para avaliação do grau, diminuição lenta e progressiva da visão ou diminuição da visão somente para perto (dificuldade de leitura), comum nos pacientes acima de 40 anos".

O Beep conta com um processo rigoroso de seleção dos profissionais que podem atender seus usuários. É preciso informar onde se formou, onde fez residência médica, se tem alguma especialidade ou mestrado, e comprovar tudo com o envio de documentação. Também são solicitados dois telefones de pessoas que possam dar referências sobre os profissionais. Todos os cadastrados são encaminhados para um corpo de curadores, segmentados por especialidade e por estado do Brasil. São eles que dão a autorização final para a inclusão ou não do médico no sistema. Cerca de 1 mil médicos já se cadastraram no Beep, mas apenas 600 foram aprovados até agora. Entre 200 e 300 foram rejeitados e o restante está com a documentação pendente. "Somos um marketplace de health care. Isso é diferente de ser um marketplace de produtos como MercadoLivre. Nossa responsabilidade é muito maior", justifica Corteze.

Modelo de negócios

O pagamento pela consulta é feito via cartão de crédito dentro do app. O médico fica com 85% do valor e o Beep com 10%, enquanto 5% são destinados ao pagamento do gateway de pagamento.

Hoje, a maioria dos médicos têm cobrado pela consulta a domicílio um preço mais alto do que aquele que cobram em seus consultórios. Mas Corteze está tentando convencê-los a rever isso. Seu argumento é que o consultório tem custos maiores, que não existem no atendimento domiciliar, como aluguel, secretária, luz, telefone etc. Em uma rápida pesquisa feita por MOBILE TIME no app, foram encontrados médicos cobrando desde R$ 300 até mais de R$ 1 mil, isso sem contar no custo do Uber, que é adicionado ao preço final. Em caso de cancelamentos após cinco minutos da solicitação, é cobrada uma multa de 30% sobre o valor da consulta.

Para estimular o engajamento dos médicos, a empresa dará benefícios para os mais ativos na plataforma, como maior participação na divisão da receita ou outras vantagens. Além disso, o app mostrará aos pacientes a quantidade de atendimentos realizada por cada médico, o que será um fator de diferenciação dentro do app.

Outros profissionais, planos de saúde e encaixe

O Beep não vai se restringir a médicos. Em breve terá também outros profissionais de saúde, como enfermeiros e fisioterapeutas, assim como serviços correlatos, como vacinação e remoção com ambulância.

Além disso, a empresa está negociando com planos de saúde premium para permitir o desconto automático do reembolso no ato do pagamento da consulta. Uma parceria do gênero já foi assinada e deve entrar em operação dentro de 60 dias.

Paralelamente, novas ferramentas estão sendo desenvolvidas. Uma delas é a opção de os médicos oferecerem horários de encaixe em seus consultórios, através do app. Ou seja, o Beep não se limitará a consultas a domicílio, mas ao atendimento de saúde sob demanda, em qualquer lugar, esclarece Corteze.

Competição e aporte

O empreendedor entende que, se ganhar massa crítica, o Beep vai ajudar a aliviar as filas nas emergências das grandes cidades. Pesquisas indicam que apenas entre 20% e 30% do público em emergências precisam efetivamente estar ali. Isso seria bom para os médicos e também para os pacientes que tiverem de fato um caso grave. Por outro lado, clínicas e hospitais precisarão aumentar os salários dos médicos e o valor dos plantões, caso contrário, muitos preferirão atender via Beep.

O Beep foi desenvolvido até agora com recursos próprios de seus sócios, mas para a expansão futura Corteze quer a entrada de algum novo investidor e busca um aporte da ordem de R$ 15 milhões em uma rodada série A, prevista para acontecer dentro de 90 dias.