O Banco do Brasil e o Bradesco anunciaram uma parceria de cooperação técnica para o desenvolvimento de soluções tecnológicas de segurança em pagamentos digitais. Um dos primeiros projetos a serem realizados em conjunto é a construção de um padrão nacional de tokenização, para a geração de números virtuais de cartões de crédito e de débito. A proposta é que o sistema seja independente de bandeira, de emissor e de adquirente, além de ser aderente a padrões internacionais, o que viabilizaria o uso no exterior.

A tokenização é fundamental para a oferta de serviços de pagamento móvel, pois dá mais segurança às transações, especialmente em smartphones Android, que trabalham com o elemento seguro na nuvem.

Análise

A criação de um padrão brasileiro de tokenização liderado pelos bancos joga um balde de água fria na cabeça de diversos fornecedores desse tipo de plataforma que sonhavam com a venda para as instituições financeiras do País. Os principais players nesse cenário são as bandeiras de cartão de crédito, que precisaram criar seus sistemas de tokenização nos EUA para atender ao Apple Pay, e fabricantes de SIMcards, que vêm trabalhando forte também no desenvolvimento de plataformas de apoio a pagamentos móveis. Na prática, as antigas plataformas de TSM (Trusted Service Manager) foram transformadas nas plataformas de tokenização.

O problema é que não basta importar a tokenização utilizada pela Apple nos EUA, por exemplo, porque o mercado brasileiro contém algumas particularidades, como o fato de o mesmo cartão, com o mesmo número, funcionar simultaneamente para débito e para crédito. O Banco do Brasil, para viabilizar o seu cartão virtual Ourocard-e, desenvolveu internamente uma solução de tokenização, que em seguida exportou para o seu app de pagamento móvel por aproximação (NFC) em Android. A tendência é que ele sirva de base para a construção desse modelo brasileiro em parceria com o Bradesco.

A parceria entre Banco do Brasil e Bradesco pode gerar efeitos também sobre a chegada de serviços de pagamento móvel liderados por fabricantes, como Apple Pay e Samsung Pay. Com os bancos focados na construção de um padrão nacional, é provável que este seja adotado primeiramente seus próprios apps como adiantado pelo Banco do Brasil com o Ourocard-e, enquanto soluções de terceiros fiquem para depois. Há outra questão a ser considerada: nos EUA, a Apple retém uma pequena comissão por cada transação realizada pelo Apple Pay. Será que os bancos brasileiros aceitariam pagar essa comissão? Se tiverem seu próprio sistema de tokenização viabilizando o pagamento por NFC através de seus apps Android sem qualquer custo extra, por que pagar pelo Apple Pay? Vale lembrar que no Brasil o Android representa mais de 85% da base de smartphones.