Dandelin (Android) não é apenas um app que conecta médicos e pacientes. É um movimento. Foi assim que seu idealizador e CEO da startup, Felipe Burattini, vendeu seu peixe para a amiga Mara Redigolo, com quem já havia trabalhado em outros tempos: “estava numa grande companhia de seguros, no setor de Marketing, e, quando ele me chamou para participar desse projeto, a primeira frase que ele me disse foi: ‘não enxergue isso como um negócio, mas como um movimento. O negócio é consequência’. E foi lindo”, resumiu a atual diretora de operações da empresa que imediatamente aceitou o convite para ser seu braço direito.

A paixão pelo projeto é nítida. Na entrevista por telefone, Redigolo explicou o funcionamento, diferente para os olhos brasileiros, da plataforma baseada na economia compartilhada, algo comum em terras alemãs, onde o CEO mora. No caso, a soma dos valores das consultas de todos da comunidade usuária do aplicativo é dividida por todos os usuários do Dandelin. Por isso, o valor muda mês a mês. “A gente quer democratizar o acesso à saúde, mas oferecendo benefícios para os dois lados”, resume Redigolo. Caso ninguém use a plataforma, ninguém paga nada. E, quanto maior for o uso, mais caro fica. Mas quanto mais pessoas na comunidade, esse valor é diluído.

Valores

Para se ter uma ideia, no primeiro mês de atividade, em março, a mensalidade fechou em R$ 17,14 para cada pessoa. Já a taxa de administração só é cobrada se for feito ao menos um agendamento de consulta no mês. Por isso o preço é variável. Mas não passa de R$ 100. O teto foi estipulado baseado em projeções e pesquisas sobre o número de vezes que o brasileiro costuma ir ao médico para fechar um valor máximo que ele pagaria para o uso ilimitado de agendamento de consulta. Se, num mês, exceder esses R$ 100, o Dandelin paga e assume o risco. “Não queríamos daqui a pouco cobrar R$ 500 por mês. Assim, a gente viraria uma operadora e não uma plataforma para a democratização da saúde”, explica Redigolo.

O lançamento oficial do Dandelin tem cerca de um mês e conta com mais de 300 médicos em São Paulo e com algumas opções de profissionais do Rio de Janeiro e de Minas Gerais. Há uma grande variedade de especialidades contempladas, como ginecologia, cardiologia ortopedia, etc. “No momento, nosso foco é São Paulo, mas não bloqueamos o cadastro dos médicos de outras regiões para sentir o crescimento orgânico dessas cidades”, explicou Redigolo.

Para o médico

Para validar seu cadastro no Dandelin, o médico precisa informar seu CRM. “É uma forma de prezarmos pela qualidade da plataforma e garantir qualidade dos profissionais”, explica a COO.

O profissional também não precisa dar nenhum tipo de aporte à plataforma para oferecer atendimento à comunidade.  No primeiro ano, ele começa com o preço fechado de R$ 100 por consulta e o retorno do paciente é visto como uma nova consulta, independente da quantidade de dias entre os dois encontros.

A plataforma oferece ao profissional um gerenciador de consultório. Lá, o médico acompanha todas as consultas marcadas via Dandelin, mas é possível inserir outros canais, como consultas particulares e convênios. O gerenciamento do médico é feito no website, não no aplicativo.

O aplicativo, usado pelo paciente, também funciona para a realização das transações financeiras, já que não se abre a carteira no consultório médico.

A estrutura do projeto, ou do movimento, exige alguns cuidados para que as “red flags” não sejam acionadas. Para ajudar nisso, a plataforma conta com o auxílio de aprendizado de máquina. Ele será alimentado com o uso e com as avaliações feitas pelos pacientes, mas ainda é cedo, já que não há um número significativo para que o machine learning faça a diferença neste momento. “Nós identificamos algumas red flags. Por exemplo: o médico que propõe ao paciente que chega em seu consultório via Dandelin que ele pague um valor diferente do estipulado pelo app. ‘Ah, minha consulta é de R$ 300, mas vou receber pelo Dandelin R$ 100, então você me paga R$ 200’, por exemplo. Estamos desenhando no machine learning que isso não aconteça. É um processo que está sendo lapidado”, explica.

Para o usuário

Já para os pacientes, é preciso baixar o app (Android) e fazer o cadastro. Por enquanto, não há cobrança. A solicitação do cartão de crédito será feita quando o cliente agendar uma consulta. Enquanto isso, ele não é considerado um membro ativo.

No agendamento, ele pode fazer busca por distância, cidade, especialidade e horário. O pagamento só é cobrado no fim do mês.

Redigolo acredita que o projeto vai atrair pessoas de diferentes idades e faixas de renda. “Talvez as pessoas com grande poder aquisitivo não tenham coragem de largar seus seguros caros para entrar no Dandelin. Eles gostam da ideia, mas não têm coragem de largar seus seguros. Mas a gente é capaz de atingir uma camada intermediária, que pode gastar, hipoteticamente, uns R$ 30, R$ 40 reais e que, hoje, depende do SUS porque estão sem convênios”, conta.

Modelo de negócio

O Dandelin cobra uma taxa fixa de 20% sobre o uso. Nada é cobrado do médico ou do paciente fora o agendamento de consulta.

“O que me torna uma apaixonada pelo Dandelin é toda a proposta de mudança que ele tem. A gente é tão carente em serviços de saúde, tanto público quanto privado, que fica difícil de ter uma alternativa para ter o direito básico, que é a saúde”, diz.

Os sonhos da equipe do Dandelin vão além. Eles acreditam que, ao atingir essa camada intermediária, o Sistema Único de Saúde vai desafogar um pouco, ajudando, indiretamente, aqueles que não podem tirar dos seus orçamentos R$ 30 ou R$ 40 para a saúde. “Ou seja, quando você começa a se aprofundar na mecânica do app como um todo, no reflexo social que isso pode ter, você se torna um apaixonado. Podemos democratizar a saúde no Brasil.”

A expectativa é que, aos poucos, a plataforma possa ser utilizada em todo o País. “Mas queremos fazer um negócio sustentável. Precisamos que a comunidade cresça e que tenha médicos de diferentes regiões para que a gente consiga abrir mais portas para outros estados. Não queremos frustrar o usuários”.