Uma das verticais apontadas como prioridade para o Plano Nacional de Internet das Coisas no estudo da McKinsey com o BNDES e Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações, a agricultura de precisão é notadamente beneficiada com a nova tecnologia, mas ainda falta o básico para isso: conexão. A pesquisadora, fundadora e CEO da Agrosmart, Mariana Vasconcelos, alerta para a questão, citando a falta de sinal não apenas nas casas/fazendas, mas também nas próprias plantações.

“Apenas 14% das lavouras no Brasil têm conectividade, e não é só aqui – 40% dos agricultores nos Estados Unidos não têm conectividade em toda a fazenda”, declarou ela em apresentação durante o evento SingularityU Brasil Summit nesta terça-feira, 24, em São Paulo. Ela afirma que o mercado tem agido. “O que temos visto é a iniciativa privada investindo em infraestrutura, construindo conectividade com 4G, ou mesmo Sigfox e LoRa”, diz.

Além da questão da conectividade, ela explica que a educação digital é importante para o setor. Com isso, o agricultor poderá não apenas ter acesso aos dados coletados pelos sensores, mas também fazer um uso prático dessas informações para melhorar a produtividade. “A gente vê um gap muito grande do que existe de tecnologia com sensores e o quê o agricultor consegue usar, mas (a inclusão) está crescendo de maneira rápida”, declara Vasconcelos. “Não basta investir em tecnologia, temos que investir em educação e integração.”

Ainda que a previsão seja de que a agroindústria brasileira consiga expandir até 2030 para ser responsável pela produção de um terço dos alimentos no mundo, o desafio é grande. Para conseguir alimentar 9 bilhões de pessoas até 2050, a produtividade precisa aumentar em 70%. Os investimentos em tecnologia, contudo, poderão representar 90% desse aumento. “A lição que fica é que os dados estão aí. Não é o futuro da agricultura, já está aí, agora”, afirma Mariana Vasconcelos.

Conectividade no espaço

Além da IoT, outra ferramenta para ajudar na agricultura pode ser o satélite. Com base em uma tecnologia de espectroscopia, a Hypercubes planeja entregar mais informações sobre a produção com base em uma rede satelital de baixo custo e com uma centena de satélites em órbita para escanear o planeta várias vezes todos os dias. Porém, a previsão do fundador da empresa, Fábio Teixeira, é que isso resulte em uma coleta de 100 TB por órbita, sendo que os artefatos circulam a Terra a cada 90 minutos. Sem uma conectividade disponível no espaço, isso traz seus desafios. “No espaço, não temos banda larga, a conexão média é de 8 a 10 Mbps, não existe condição desse pipeline fazer download desse tipo de informação. Todo o espectro de radiofrequência está praticamente tomado, tem apenas alguns slots, mas conseguir uma licença custa milhões de dólares”, conta. Para resolver essa deficiência, a solução encontrada é levar o processamento para essa ponta. Os nanossatélites terão processadores com alto poder computacional para processar os dados em órbita.

Ainda neste ano, a Hypercubes planeja colocar a carga útil em testes na Estação Internacional Espacial. “Se formos bem nos testes, os próximos serão em modelos gerados por computador, com machine learning”, afirma Teixeira. A empresa deverá contar com parceria com a Virgin Orbit para enviar os satélites ao espaço em foguetes lançados a partir de aviões 747, o que ele afirma que deixa o custo da operação mais barato.

Na fase atual, a empresa escolhe entre três países – Austrália, Ruanda e Brasil – para realizar o primeiro piloto. Assim que validar a solução, deverá lançar o primeiro satélite até o final de 2019.