A paralisação nacional dos caminhoneiros está gerando impactos significativos em aplicativos de transporte, especialmente aqueles de carga. Executivos dos apps Cargo X, TruckPad e Pra Caminhão descreveram a Mobile Time um cenário de pátios vazios e milhares de cargas sem entrega nesta semana.

CargoX

De acordo a CargoX, entre segunda e quarta-feira desta semana, a companhia deixou de fazer 2 mil carregamentos por causa da paralisação. A companhia estima ainda que a quantidade deve aumentar. Na visão do CEO da startup, Federico Vegas, por mais que o negócio de sua companhia esteja sofrendo impacto com a greve, ele apoia os caminhoneiros. Para o executivo, os motoristas estão sendo prejudicados demais pelo aumento constante dos combustíveis.

“Para nós, os caminhoneiros são mais do que prestadores de serviço, são parceiros. Por isso, não poderíamos ficar indiferentes às suas justas reivindicações”, disse Vegas, em resposta a Mobile Time. “A CargoX, assim como a economia do País, depende dos caminhoneiros, que sofrem com o aumento cada vez mais frequente dos combustíveis.”

TruckPad

Carlos Mira, CEO e fundador da TruckPad, também disse que suas operações estão praticamente “paradas” desde segunda-feira, 21, mas não quis divulgar quantas cargas deixaram de ser transportadas. O executivo explicou que as ações têm afetado “drasticamente” os negócios das empresas que usam o aplicativo TruckPad para localizar e contratar caminhoneiros para transportarem suas cargas.

Contudo, assim como seu concorrente, o empreendedor também apoia os profissionais em sua jornada grevista. “Como o TruckPad está umbilicalmente ligado aos caminhoneiros e como eles estão parados, nós também estamos. Lançamos o hashtag #SemCaminhoneiroOBrasilPara e criamos uma campanha em apoio aos profissionais”, disse Mira.

 

Pra Caminhão

Com seu app recém-chegado à Google Play, o sócio fundador da Pra Caminhão, Wagner Farias, explicou que as atividades de seu app estão paradas. O executivo explicou que, embora o app ajude na conveniência dos motoristas, os caminhoneiros estão com muito mais foco nas atividades da paralisação neste instante. Além de criador do app, Farias é sócio em outra empresa que faz entrega de jornais, que também está com suas cargas paradas, pois não há motoristas para realizar as entregas. Ainda assim, o executivo concorda com o ponto de vista dos grevistas e espera uma solução rápida por parte do governo.

Histórico de greves

Na conversa com Mobile Time, Farias, que tem mais de 30 anos de experiência no segmento de transportes, lembrou de outra greve que trouxe grandes prejuízos ao Brasil, durante o governo Fernando Henrique Cardoso. Em julho de 1999, 700 mil motoristas deixaram de trafegar durante uma semana devido ao aumento de 37% no preço do óleo diesel. A greve terminou com um acordo entre as partes, com congelamento dos preços do diesel, pedágio e desativação das balanças de cobrança para caminhões que passavam do limite de carga. Contudo, vale frisar que FHC ameaçara usar força militar para controlar as estradas.

O executivo recordou ainda de um episódio mais recente, durante o governo de Dilma Rousseff, em março de 2015. Porém, a presidenta foi mais ágil e negociou um acordo antes que a greve ganhasse mais adesão – apenas nove estados aderiram à paralisação –, com a assinatura da Lei dos Caminhoneiros sem contrapartidas.

Combustível

Assim como ocorreu em 1999, Farias alerta que o principal gargalo da crise está justamente no pivô da greve, o preço do combustível, uma vez que os consumidores ficarão sem gasolina, álcool e etanol com o prolongamento da paralisação. O problema da falta desse insumo é evidente. Um exemplo é a cidade de São Paulo. O prefeito da capital paulista, Bruno Covas, reduziu em 40% a frota de ônibus nos horários de pico e suspendeu o rodízio de carros nesta quinta-feira, 24. Para a sexta-feira, 25, a prefeitura e as empresas de ônibus estimam uma redução da operação 50% da frota para racionar combustível.

Em contrapartida, Covas entrou com um pedido de ação cautelar na Justiça para que ônibus e caminhões de lixo recebam combustível e façam o atendimento à população. Na medida, a prefeitura pede R$ 1 milhão de multa diária aos sindicatos de motoristas de caminhão e de empresas de transporte (Sindicato dos Transportadores Rodoviários Autônomos de Bens do Estado de São Paulo e o Sindicato das Empresas de Transporte de Cargas do Estado de São Paulo e Região), caso o pedido não seja acatado.

Outros setores

Mobile Time também procurou empresas de táxi, corridas compartilhadas e de logística, para entender o efeito da greve em suas operações. Uber, 99 e Cabify afirmaram que suas operações estão normais, assim como a demanda de carros para atender os passageiros. Por sua vez, a Loggi preferiu não se posicionar sobre os impactos da greve.

“A 99 informa que até o momento não identificou alteração significativa no fluxo de corridas realizadas em sua plataforma nesta quinta-feira, 24. Em relação às manifestações de motoristas parceiros da 99, este se trata de um posicionamento exclusivo dos motoristas parceiros”, disse a 99 em em comunicado à imprensa.

Na prática, alguns taxistas sentiram os efeitos da greve. No Rio, por exemplo, Alessandro Negri percebeu um aumento substancial do número de chamadas de corridas desde a noite de quarta-feira. Usuário dos apps 99, Easy e Rio.Táxi, o motorista disse que o movimento foi muito bom no app da prefeitura carioca. “Tanto o Easy quanto o 99 aumentaram o preço dinâmico da corrida, por isso, o movimento caiu e os passageiros acabaram indo pro app Táxi.Rio, que tem um desconto fixo”, explicou. “Depois das dez horas da noite, o movimento sempre cai. Geralmente, são as pessoas que vão para a balada. Só que ontem, a quantidade de corridas parecia de três, quatro horas da tarde. Eu finalizava e já entrava outra corrida. Por que? Porque já não tinha ônibus ou não queria gastar o pouco de gasolina que restava no tanque do carro. Peguei alguns passageiros assim. O movimento foi bem acima do normal”, contou o taxista.

Nesta quinta-feira, 24, a Cabify alterou a tarifa mínima de determinadas cidades. O intuito é de reduzir o impacto gerado pela alta dos combustíveis por período indeterminado. “Considerando o contexto econômico, a empresa informa que está estudando as melhores formas para balancear o impacto operacional dessa alta no preço do combustível em cada cidade sem que isso inviabilize a prestação de serviços por parte do motorista parceiro e atinja diretamente os valores cobrados dos usuários”, diz seu informa.

“A empresa reforça que o Custo Adicional por Alta Procura ocorre em áreas e períodos específicos do dia, onde não existam motoristas parceiros suficientes disponíveis para atender todos usuários. Para reduzir o tempo de espera dos usuários em locais e horários com grande procura de carros, a tarifa sofrerá variações e incentivará motoristas parceiros na prestação do serviço de transporte privado ao gerar maior rentabilidade para eles. Além disso, a plataforma tem limite no fator multiplicador da tarifa.”

Bla Bla Car

No Bla Bla Car, app de caronas para viagens intermunicipais, não foi notado nenhum efeito até o momento resultante da paralisação dos caminhoneiros. Mas seu country manager no Brasil, Ricardo Leite, entende que, em teoria, as consequências podem ser mais positivas que negativas para a sua operação, caso a greve se estenda por mais tempo. A explicação é simples: se o combustível está mais caro, mais motoristas vão oferecer caronas para compartilhar os custos da viagem. Ao mesmo tempo, a falta de combustível deve levar mais gente a buscar caronas. Leite cita o exemplo da greve dos ferroviários na França que já dura várias semanas e fez triplicar o volume de viagens no Bla Bla Car.