Com as eleições deste ano surge no Brasil um novo nicho para desenvolvedores móveis: aplicativos para políticos. MOBILE TIME identificou e entrevistou três empresas que decidiram concentrar esforços nesse segmento no País: Editorall, Traki Mobile e Mobilize Brasil – esta última é a representante no País de uma plataforma internacional de mobilização de apoiadores de campanhas políticas. Essas três empresas juntas devem pôr na App Store e na Google Play entre 100 e 120 aplicativos de candidatos este ano. A demanda tem sido tão grande que alguns estão recusando novos clientes, pois não teriam como atender adequadamente no pós-vendas. Vale lembrar que se trata de um trabalho que não se encerra nas eleições, mas prossegue durante os mandatos, pois os aplicativos podem ser usados para manter viva a comunicação com eleitores e colaboradores até a eleição seguinte.

Embora haja candidatos a governador entre os clientes, o alvo principal são os políticos que disputam cargos no poder legislativo. O pouco tempo na TV de que dispõem esses candidatos faz do meio eletrônico um canal essencial para transmitirem suas ideias. "Alguns têm tempo para falar apenas o nome na TV. Se não têm acesso à mídia de massa, precisam usar a mídia digital. Com um app você provê mais informações sobre o candidato", argumenta Luis Peres, CEO da Editorall, desenvolvedora especializada em conteúdo educacional e que este ano decidiu abrir uma nova frente de negócios com apps para políticos.

Outro caminho é desenvolver aplicativos para a comunicação não com os eleitores indecisos, mas com aqueles que são apoiadores declarados do candidato. Essa é a aposta da Traki Mobile, por exemplo. Em seus apps, os usuários se cadastram com email ou Facebook e são estimulados a espalhar material de campanha por suas redes sociais. São criados "desafios" para os eleitores cadastrados no app, por meio de notificação push. Como em um jogo, os apoiadores recebem pontos por sua participação e figuram em um ranking que depois pode ser aproveitado pelo político para convidar alguns deles como cabos eleitorais ou como interlocutores em uma determinada região do estado. "A função do app é multiplicar  a informação. Nos nossos apps, um conteúdo é replicado nas redes sociais do usuário em apenas três cliques", diz Jaime Hackel, diretor comercial da Traki Mobile. Ele justifica o foco nos apoiadores e não em eleitores indecisos: "Quem não vota na pessoa não vai baixar o app."

O diretor da Mobilize no Brasil, Iuri de Brito, acredita que um app voltado para a militância pode fazer a diferença em uma campanha política. Sua projeção é que cada apoiador cadastrado no aplicativo de um político gere cerca de 50 votos. Para se ter uma ideia, em sua última campanha presidencial, Barack Obama conseguiu em média 250 votos por apoiador cadastrado: sua eleição é considerada um case internacional de como estimular a militância dos mais jovens através da Internet. Ou seja, não basta registrar uma grande quantidade de downloads de um app: é preciso mobilizar as pessoas que o baixaram.

Há também apps com ferramentas com conteúdo restrito a determinados membros da campanha. A Editorall lançará uma funcionalidade com esse objetivo, permitindo a criação de grupos para recebimento de informações distintas dentro do app, com identificação por nome de usuário e senha.

Estrutura e preço

Os desenvolvedores ressaltam que para um aplicativo dar resultado, é fundamental existir por trás uma equipe estrutura de marketing digital coordenando seu conteúdo. Ainda não existe no Brasil profissionais especializados em canais móveis dentro das campanhas eleitorais: por enquanto esse trabalho é comandado por gente que cuida da estratégia digital de uma forma genérica.

A decisão de fazer ou não um app, assim como a verba para tal, tem partido da equipe de campanha de cada candidato individualmente. Não há por parte de nenhum partido brasileiro uma diretriz indicando a necessidade desse canal de comunicação, tampouco é disponibilizada verba para essa finalidade diretamente pelos partidos. O preço varia, dependendo da empresa. No caso da Editorall, por exemplo, é cobrado R$ 20 mil para ter um app para as duas principais plataformas móveis (Android e iOS).

Brito, da Mobilize, prefere medir o custo de um app pela quantidade de votos gerado. "O valor deve ser quantificado não em Reais, mas sim no custo do voto no estado. Essa é  a medida para avaliar se é caro ou barato. Por exemplo, em média, um app tem um custo de 500 votos. Se gerar mais, é barato. Se gerar menos, muito caro", diz. Para calcular o custo de um voto, é contabilizado o total declarado pelos partidos que disputam uma vaga e divide-se pelo total de eleitores.