O Brasil e o México podem ainda estar longe da maturidade de mercados como o japonês ou o sul-coreano quando se trata de consumo de apps. Porém, tampouco podem ser considerados novatos completos. Ambos já atingiram uma segunda fase de maturidade na qual a receita com apps começa a crescer mais que a quantidade de downloads, revela a vice-presidente sênior de pesquisa da App Annie, Danielle Levitas, em entrevista para este noticiário. Ela própria se surpreendeu com os resultados do Brasil em 2015, tendo em vista a crise econômica pela qual o País passa.

MOBILE TIME – Que tendências observa no consumo de apps na América Latina?

Danielle Levitas – Quando olhamos o mercado de apps, vemos crescimento em todo lugar, mas em mercados emergentes está acontecendo de maneira mais acelerada. O México é um dos que mais cresceu nos últimos 18 meses na América Latina. E o Brasil é um caso interessante: apesar da crise e da incerteza econômica, o mercado de apps não foi afetado. Deve ter a ver com o valor que o smartphone entrega para o consumidor. Apps estão conquistando participação  no orçamento do consumidor no mundo inteiro, inclusive em mercados emergentes. Colômbia e Peru também estão muito fortes nos últimos 18 meses. A Argentina está indo razoavelmente.

Teria números para compartilhar?

Em geral a receita está crescendo mais rápido que os downloads nos mercados mais maduros da América Latina. No ano passado, o Brasil cresceu 44% em receita e 33% em downloads. O México, 39% e 28%, respectivamente. E a Argentina, 50% e 35%. Esses três mercados latino-americanos são um pouco mais maduros que Índia e Paquistão, por exemplo, mas estão longe de Japão e Coreia. Para efeito de comparação, a média global em 2015 foi de 24% de crescimento em receita e 33% em downloads. [Nota do editor: Os números absolutos por região deverão ser divulgados pela empresa em outros relatórios ao longo do ano]

O mais recente relatório da App Annie prevê uma receita de US$ 50,9 bilhões em lojas de aplicativos este ano no mundo. Qual é a proporção que vem de download pago e de compras dentro dos apps?

Mais de 90% provêm de compras dentro dos apps. Não são apenas microtransações, como aquelas comuns em games. No caso de serviços de vídeo e música, é assinatura. Mas a maioria da receita in-app ainda é microtransação.

A categoria de games continua sendo a maior geradora de receita?

Para cada US$ 1 faturado nas lojas de aplicativos, US$ 0,85 são para jogos. Mas até 2020 a participação de apps que não são games subirá dos atuais 15% para 26%.

Quais as categorias que estão crescendo mais, aparte de games?

Mídia e entretenimento, especialmente música e vídeo. Em alguns países, Spotify e Pandora cresceram duas ou mesmo três vezes ano passado. Merece destaque também a categoria de dating, com o Tinder.

Quanto tempo dura o ciclo de vida médio de um app hoje em dia?

Varia muito de acordo com a categoria. Apps que são úteis no nosso dia a dia ou aqueles de comunicação social podem durar para sempre em nossos telefones. Em games é diferente. Na Ásia, especialmente no Japão, há muitos jogadores hardcore, que são leais aos games, enquanto que no Ocidente os games casuais têm mais força: tem muita gente que não se vê como gamer mas gasta centenas de dólares em jogos. Essas pessoas demoram poucos meses antes de trocar para outro jogo. Tem whale* que gasta milhares de dólares por ano. Na categoria de comércio móvel,  percebemos um crescimento tanto em downloads quanto no tempo médio das sessões. É um fenômeno global. Acredito que alguns  apps de varejo terão longevidade grande. As pessoas serão leais aos apps de suas marcas favoritas.

Outra tendência interessante é que ano após ano diminui o tempo médio para um app atingir o seu pico em downloads. Em 2012 levava quase 200 semanas. Em 2015 baixou para menos de quatro meses. A competição é muito forte. Tradicionalmente, em uma primeira fase, cresce a quantidade de downloads. Depois o tempo de uso. E, por fim, a receita. Nos mercados mais maduros, os downloads estão desacelerando.

Há algum outro mercado além da China onde haja tantas lojas independentes de apps?

Não. É algo único da China mesmo. O que vemos em alguns outros mercados é o chamado side-loading, a pirataria de apps.

*Nota do editor: "Whale" é como são chamados os usuários que gastam muito acima da média dentro de jogos on-line.