O primeiro mês de Pokémon GO certamente fará parte do livro dos recordes. Mais de 100 milhões de downloads a nível mundial, primeira colocação entre as aplicações de iPhone mais baixadas e arrecadação que chega à casa dos US$ 200 milhões. As cifras respaldam um boom indiscutível. Neste artigo, vou debater sobre este boom atípico e como a ascensão do app pode servir de ensinamento a outros players deste mercado que se mostra cada vez mais ágil, além de refletir uma profunda mudança no ciclo de vida das aplicações, sobretudo no mercado latino-americano.

À primeira vista, nos deparamos com um jogo, desenvolvido pela empresa estadunidense Niantic (pioneira em ‘realidade aumentada’), em que se propõe buscar, capturar e lutar com os personagens da famosa série. E existe um plus: viajar entre o mundo real e o virtual; duas realidades convergindo em uma atrativa interface. No site oficial do app, o apelo é claro ”(…) get up and go! Catch Pokémon in the real world with Pokémon GO!”.

Por trás do sucesso, estão duas áreas de expertise do fundador John Hanke, os videogames e o mapping, que são a base de uma aplicação que em poucos dias desbancou grandes títulos como Candy Crush Soda Saga e Clash Royale. Definitivamente, a combinação de uma propriedade intelectual de reconhecimento mundial com um conceito inovador foi um catalizador único para um sucesso difícil de prever.

Este cenário promissor nos serve para canalizar nossa análise. Temos dois aspectos para se ter em conta: conservar o engajamento e monetizar. Por um lado, o ciclo de vida de aplicativos de sucesso se faz em um prazo cada vez mais curto. Junto à expansão territorial, é fundamental aplicar uma estratégia de produto que respeite o roadmap com atualizações frequentes; é indispensável manter a “sensação de novidade”. Por outro, Pokemón GO superou qualquer indicador previsto de downloads e tempo médio de uso, mas também conquistou receitas superiores aos US$ 5 milhões diários. Observamos um comportamento incomum na geração de receita. Embora em outras aplicações a receita geralmente surja algum tempo depois do lançamento, neste caso, uso e receita evoluem com um paralelismo atípico. No entanto, vale esclarecer que esta conquista está se consolidando em mercados evoluídos, com alta penetração de cartões de crédito e e-commerce superdesenvolvido; diferente da conjuntura latino-americana com mecanismos alternativos, como o carrier billing ou boletos bancários, que superam os níveis de meios de pagamento com cartões de crédito. Casos de sucesso nesta linha são projetos desenvolvidos por Terra como as licenças de ESPN, Disney ou Microsoft ou as licenças de Riot, como League of Legends, nas quais  foi incorporada formas de pagamento alternativas integrando seus sistemas de cobrança via faturamento de conta do celular com resultados surpreendentes.

A chave então será estar atento à evolução do produto para entender se é válido desenvolver novas features ou side products que mantenham o usuário atraído ou, pelo contrário, se consideram que o produto já é o suficientemente versátil e se desenvolve por si mesmo uma relação duradoura com a comunidade de jogadores. Também temos que seguir acompanhando a evolução comercial de Pokémon GO para entender se está desenvolvendo um novo paradigma nos modelos de negócio para estes mercados ou trata-se simplesmente de um grande êxito; contundente, mas um êxito.