Cada edição do Mobile World Congress é marcada por alguma nova tecnologia e também por alguma polêmica. Em termos de tecnologia, 2008 foi o ano da tela touch screen, com todos os fabricantes seguindo os passos do sucesso do iPhone. Em 2011, foi a vez dos tablets, depois de a Apple ter criado a categoria com seu iPad. 2014 foi o ano dos wearables, com relógios e pulseiras por toda a parte. As tecnologias de rede móvel, por sua vez, como 4G e 5G, não tiveram um ano específico, mas foram ganhando espaço conforme amadureceram – vide o 5G, sobre o qual se fala no MWC há pelo menos três anos, embora só agora existam redes lançadas comercialmente.

Entre as polêmicas, me recordo das discussões sobre a entrada ou não das operadoras no mercado de conteúdo; a disputa com as OTTs; a regulamentação da neutralidade de rede nos EUA; a ausência da Apple do evento, mesmo depois do lançamento do iPhone, o que foi interpretada como um gesto arrogante etc.

A escolha dos palestrantes principais também revela um pouco da direção que a indústria móvel está tomando. Foi marcante quando a organização convidou o então presidente do Google, Eric Schmidt, para palestrar em 2010: estava sendo selada ali a aliança com o mundo da Internet, que até então ficava um pouco fora da feira. Em 2013, outra sinalização de mudança de rumos, com o convite para que o CEO da Viber, Talmon Marco, fosse um dos keynote speakers: as OTTs passaram a ser bem-vindas no evento. É aquela velha máxima: se não pode vencê-los, junte-se a eles.

A diversidade dos expositores vem aumentando com o passar do tempo. Se dez anos atrás eram basicamente empresas do ecossistema móvel, hoje há de tudo um pouco, o que comprova a onipresença da tecnologia celular em nossa sociedade. Montadoras de automóveis e bandeiras de cartão de crédito, por exemplo, se misturam com naturalidade entre fabricantes de smartphones ou de antenas de transmissão de dados sem fio. Chamou a atenção quando, anos atrás, o evento abraçou definitivamente o segmento de aplicativos móveis e criou um pavilhão inteiro dedicado ao desenvolvimento de apps. A era do smartphone havia começado.

E o que há de marcante sobre a edição deste ano? Não tenho dúvidas que em tecnologia são as telas dobráveis. É a primeira vez que elas aparecem. Dois grandes fabricantes apresentaram seus primeiros modelos com essa característica: Samsung e Huawei. O único problema é que o público não pôde mexer nos aparelhos. Ambos os produtos são exibidos atrás de vitrines. Isso levantou a questão: será que essas telas são resistentes o suficiente para aguentar serem dobradas milhares de vezes em um evento como o MWC19? Houve, no passado, tecnologias exibidas como estrelas na feira e que não vingaram, como os celulares que gravavam vídeos em três dimensões (para exibição em TVs 3D). Aguardemos para ver o que acontecerá com as telas que dobram. Essa tecnologia ainda está amadurecendo e muitos avanços vão acontecer.

Por sua vez, a principal polêmica de 2019 é a guerra entre o governo norte-americano e a Huawei. Os CEOs de competidores da fabricante chinesa, como Ericsson e Nokia, aproveitaram a oportunidade para abordar a importância da segurança das redes para a segurança nacional de governos, mas, diplomaticamente, evitaram citar nominalmente a rival. As operadoras, por sua vez, demonstraram preocupação, já que suas redes dependem em grande medida de equipamentos da Huawei. CEOs da Orange e da Vodafone tocaram no tema no painel de abertura do MWC19.

Mas o melhor foi, definitivamente, a resposta da Huawei para os EUA. Em palestra no palco principal do evento, o chairman rotativo da empresa chinesa, Guo Ping, alfinetou o presidente norte-americano Donald Trump, lembrando do programa de espionagem internacional da NSA, o Prism, e também o Cloud Act, que permite a entidades do governo dos EUA a acessar dados internacionais. Ou seja, a Huawei dobra suas telas, mas não se curva diante das acusações de Trump.