PlayKids

Guilherme Martins, CEO da PlayKids

Um dia após a confirmação da venda do PlayKids para a britânica Sandbox, o CEO da companhia brasileira, Guilherme Martins, conversou com Mobile Time sobre a operação. Entre os temas abordados estão a relação com a antiga controladora Movile, o futuro da companhia, sinergias, ajustes e os motivos para realizar esta operação. Vale lembrar que os valores não foram revelados.

Na entrevista, o executivo também falou sobre o seu papel na empresa e as estratégias de expansão que estão sendo traçadas.

Mobile Time – Por que vender o PlayKids agora?

Guilherme Martins – Essa decisão não foi repentina. Estamos há quase dois anos em conversa para entender como o PlayKids poderia avançar mais. Além disso, há pouco mais de dois anos, a própria Movile focou em food delivery e fintech. E ficamos em um segmento que não era mais o core da Movile. Apesar do nosso crescimento, nós precisamos de uma força maior, ter mais capital e investimento, o ideal seria buscar um parceiro estratégico com sinergia em visões e produtos. Começamos essa busca. Encontramos dois parceiros que se encaixavam com a nossa proposta muito bem. Isso foi no meio do spin-off da Afterverse. Vimos que o segmento de games continuou como foco (do Grupo Movile), mas PlayKids e Leiturinha, não.

A partir da aquisição como fica a relação com a Movile?

A Movile continua na operação, fica como sócia minoritária com uma cadeira no board da Sandbox. Só que não é mais controladora. Eu também troquei ações do PlayKids pela Sandbox. Só de app similar à PlayKids, a Sandbox tem três títulos. Tem vertical de educação pura para professor e uma vertical de games, mas não é um estúdio hardcore de games. A Movile continua acreditando no business e na expansão global da Sandbox, mas fica minoritária. Vamos ser o braço deles (Sandbox) na América Latina, pois eles não estavam aqui. Aumentaremos o portfólio para 17 marcas, além de PlayKids e Leiturinha. E tem um ponto adicional, a complementaridade que podemos fazer na América Latina. A sinergia do tempo de existência das empresas.  Você passa a ser global e pode trocar capacidade com eles. O Brasil vira uma fonte de talentos.

E a relação com a Afterverse e outras empresas do grupo Movile?

Temos muito do ecossistema Movile conosco. Nada muda. MovilePay, Zoop, iFood, nada muda. Até porque os orçamentos são separados.

Como fica a estrutura da empresa? Funcionário e diretores?

A Sandbox tem uma estrutura de holding e nós nos plugamos nela. Toda a estrutura que temos hoje segue a mesma. Equipe permanece, diretoria permanece, e traremos mais pessoas. Vamos criar conexões em tecnologia, aquisição de usuário e mídia com eles.

É uma operação similar àquela feita pela Movile com a Sinch?

É bem parecida. Na aquisição da Wavy pela Sinch, a Movile também é acionista minoritária. Assim como o PlayKids, a Wavy chegou em um nível de maturidade que a Movile precisaria investir para avançar mais. Isso significa que você (controladora) tem que dar um passo, mas não necessariamente desinvestir.

Você tem uma posição definida na Sandbox?

Somos representantes dos investidores da Sandbox. Tenho a missão de aumentar a expansão para América Latina, inclusive produtos físicos do Leiturinha. Posso dizer que continuo como CEO do Playkids e aumento minhas responsabilidades.

Quando vocês imaginam que a fusão ficará completa?

Teremos um período de adaptação de três meses, de entendimento. Acredito que depois de seis a nove meses estaremos integrados, trabalhando com outros produtos da marca.

PlayKids segue na sede da Movile ou buscará sede própria?

A Movile não tem mais escritório hoje em São Paulo. Em Campinas, devolveu o prédio. Em Porto Alegre temos um escritório com galpão. Vamos manter essa posição no sul por armazenar os produtos físicos. Vamos trabalhar no sistema remote-first e híbrido, usando locações de espaço, similar ao WeWork. Isso acontece porque tivemos contratações em diversos lugares do País durante a pandemia. Mas talvez tenhamos um escritório em São Paulo.

Onde há sinergias do PlayKids com a Sandbox?

Hoje, eles têm três apps voltados para o público kids: Hopster, Curious World e Kidomi (uma suíte de apps com loja de app própria). Há opção para criação de sinergia de clube de assinatura com esses e outros apps; podemos ampliar mais esse portfólio. Mas também temos sinergia de pessoas, de tecnologia. Além disso, somos muito focados no B2C e eles são fortes no B2B.

A partir da aquisição, o mercado educacional é algo que vocês pretendem focar?

É algo que não fazíamos no passado. Mas desenhamos antes da pandemia esse trabalho, de parceria com escolas públicas e privadas, mas também outros segmentos. Contrataremos pessoas para o time de B2B de educação.

Quais são os planos para a Sandbox na América Latina?

Em primeiro lugar, o crescimento da Leiturinha. No caso do PlayKids e dos apps em geral, estamos com dificuldades para avançar ou investir depois que tivemos as mudanças de publicidade do iOS 14. O investimento que fazemos não está trazendo o mesmo retorno que tínhamos antes da alteração. O momento que temos agora é de juntar forças entre os apps – o PlayKids e os da Sandbox – e entender como distribuiremos geograficamente para colocar um foco e usar canais alternativos para contornar isso.

O problema do IDFA acontece na aquisição de novos clientes ou também na manutenção?

Para obter clientes novos. A mudança do IDFA (regra incorporada no update do iOS 14.5) passou do “determinístico” para a “probabilística”. Essa mudança ainda não está acertada. Foi algo que até o Facebook encontrou problema. Temos bastante trabalho a ser feito.

Vocês planejam aquisições para este segmento?

Podemos fazer aquisições, mas não precisa ser do segmento de aplicativo e kids. Podemos ir muito mais para audiência, canais alternativos, cross-selling, redução de custo. Existe um pipeline grande no radar da Sandbox na Inglaterra e discuto com eles sobre oportunidades que podemos trabalhar.

Quais são os planos para PlayKids e Leiturinha no exterior?

Estamos trabalhando em duas frentes. Antes da aquisição nós analisamos o México com Leiturinha, o terceiro mercado do PlayKids, atrás dos Estados Unidos e do Brasil. Com o deal realizado, nós precisamos reavaliar, uma vez que a Sandbox tem presença forte em Estados Unidos e Europa. Ou seja, estamos discutindo sobre entrar em um mercado novo, podendo ser México, ou um em que a Sandbox tenha presença, como Europa e EUA. Para o PlayKids é muito mais uma unificação de tecnologia e trabalhar com as marcas em lugares onde são mais fortes.

O que podemos esperar até o final de 2022?

Inicialmente, o foco é em crescimento dentro do Brasil dos dois apps (PlayKids e Leiruinha) e a busca por sinergias com os apps da Sandbox.