Refood

Todos os dias toneladas de alimentos são jogados no lixo por bares, restaurantes, padarias, hotéis e mercados no Brasil inteiro. São sobras do almoço e do jantar ou produtos que estão perto do seu prazo de validade. Para combater esse problema, surgiu a startup Refood (Android, iOS), que funciona como um marketplace para que estabelecimentos comerciais vendam a preços módicos refeições ou alimentos próximos da validade. O projeto foi lançado há duas semanas em São Paulo, nos bairros do Itaim e da Vila Olímpia, e já conta com cerca de 20 estabelecimentos, incluindo alguns restaurantes famosos, como Ráscal, Salu e Balada Mix. A meta para o final do ano é expandir para outros bairros paulistanos, chegando a 100 estabelecimentos comerciais, e iniciar a operação em pelo menos mais uma capital estadual, preferencialmente o Rio de Janeiro.

Cada restaurante ou mercado cadastrado no Refood deve montar o que o app chama de “caixa surpresa”, que consiste em uma refeição ou um conjunto de produtos alimentícios que sobraram naquele dia. Para cada caixa surpresa é fornecida uma descrição em linhas gerais, informando, por exemplo, os tipos de alimentos contidos (proteínas, carboidratos, legumes, verduras etc). A proposta de ser surpresa é para que os restaurantes tenham liberdade na montagem diária das caixas. Um restaurante de buffet a quilo, por exemplo, pode alterar diariamente os ingredientes da sua caixa surpresa, de acordo com o que tiver sobrado do almoço.

“Alguns estabelecimentos trabalham com mais de uma caixa surpresa. Pode ter caixa surpresa ‘do mar’, ‘da terra’, vegana etc. Em uma caixa com carne, por exemplo, pode ser que um dia venha presunto de Parma, e outro dia, salame. É sempre surpresa”, explica Luciano Touguinha, um dos fundadores do Refood, ao lado de André Paraense e Marcos Valencia.

Modelo de negócios

Toda a gestão por parte dos restaurantes e mercados acontece através de um painel na web. Eles informam a quantidade de caixas disponíveis e o preço, que costuma ser equivalente a um terço ou menos do original. Nesta sexta-feira, 10, por exemplo, o Balada Mix vendia por R$ 20 uma caixa com carne, carboidrato, legumes e verduras, cujo preço cheio seria de R$ 60.

Por cada caixa vendida, o Refood retém uma tarifa fixa de R$ 5 – ou seja, é um modelo diferente daquele praticado por marketplaces como iFood e Uber Eats, que cobram um percentual sobre o preço da refeição. 

Vale destacar que o Refood não oferece delivery. É o consumidor quem deve ir até o restaurante para buscar a caixa surpresa que comprou. Por isso, os estabelecimentos informam também o horário em que as caixas estarão prontas para serem pegas (geralmente depois dos períodos de pico do almoço e do jantar). A ausência de delivery é proposital, para reduzir a pegada de carbono, estimulando encomendas por parte de pessoas que moram perto dos restaurantes e mercados, que podem ir a pé.

Público

Os consumidores acessam o Refood por um app móvel. Nele, conseguem ver em um mapa as ofertas disponíveis em um raio de até 30 Km de onde estão. O pagamento é feito por cartão de crédito ou Paypal. O consumidor recebe um código que deve ser informado ao estabelecimento no ato de retirada da caixa surpresa.

Nessas primeiras semanas de operação, foram identificados dois perfis de clientes do Refood. “Há o jovem universitário muito preocupado com preço e que é um early adopter de novidades. E há aquelas pessoas mais velhas que têm tempo sobrando e são caçadoras de promoções”, descreve Touguinha.

Refood

Inspiração europeia

O Refood é inspirado em uma experiência similar europeia chamada Too Good To Go, que abrange mais de 100 mil estabelecimentos comerciais em vários países do continente. 

Sobre a possibilidade de marketplaces locais, como iFood e Rappi, copiarem a ideia como uma funcionalidade dentro de seus apps, Touguinha comenta: “iFood, Rappi e Uber Eats são negócios essencialmente comerciais e com metas agressivas em volume. Combinam marketplace com pilar de logística. Entendemos que o que fazemos é bastante marginal para esses caras. Antes de sermos um app, somos um movimento pela redução de desperdício. Não vemos nesses players vocação para fazerem o que a gente está fazendo. Mas existe pressão para a gente ganhar escala e relevância rapidamente, sem dúvida. Uma ideia boa mal executada não vale nada. Temos uma ideia boa, com modelo comprovado na Europa. Se e agente ganhar escala, talvez comecemos a incomodá-los”.