O WhatsApp foi vendido por US$ 19 bilhões ao Facebook devido ao seu sucesso junto ao consumidor final: são mais de 450 milhões de usuários e bilhões de mensagens trafegadas diariamente. Mas para aqueles que se preocupam com a segurança do conteúdo do que escrevem no WhatsApp é melhor procurar outro serviço de mensagens de texto. "O WhatsApp não tem nenhuma criptografia nas mensagens, que podem ser interceptadas facilmente. Com muito pouco conhecimento de TI, um adolescente de 15 anos consegue botar um malware e criar um espelho para as mensagens do celular de outra pessoa. Conhecemos agências que fazem isso e já vi pessoalmente isso ser feito", relata Juan Pablo Mendez, executivo responsável pelo desenvolvimento de negócios internacionais da Qnective, empresa suíça especializada em comunicação móvel criptografada. A Qnective oferece gratuitamente um app de mensagens OTT criptografadas, o myEnigma. Lançado há cerca de um ano e disponível para os sistemas Android, iOS, Windows Phone e Blackberry, o app supera a marca de 50 mil 160 mil usuários, a maioria deles na Alemanha. O myEnigma serve como propaganda para os serviços corporativos da Qnective, estes sim pagos, como o QTalk Secure, app para chamadas e mensagens criptografadas. Mendez esteve no Brasil em fevereiro em busca de parceiros locais para a distribuição do produto e conversou com MOBILE TIME.

Segundo o executivo, depois do escândalo da NSA, a agência de segurança nacional dos EUA, a procura pelos produtos da Qnective cresceram mais de três vezes, com pedidos vindos do mundo inteiro. "Antes recebíamos uma chamada a cada dois meses de gente interessada do Brasil. Agora são duas ou três por semana", conta. Ele entende que há um nível alto de espionagem industrial na América Latina, o que tem levado diversas empresas a procurarem soluções de comunicação segura como as desenvolvidas pela Qnective. Ele conta o caso de um escritório de advocacia brasileiro que teve suas chamadas e mensagens interceptadas durante um processo de fusão, o que prejudicou as negociações. Depois disso, o escritório contratou a Qnective.

Em sua visita ao Brasil, a tarefa de Mendez consistiu em se reunir com parceiros e clientes em potencial. A empresa costuma vender suas soluções por meio de canais de distribuição, geralmente empresas locais especializadas em segurança. Existe a intenção de firmar parcerias também com operadoras móveis, que poderiam revender essa solução para clientes corporativos. "É algo que todas as teles estão procurando", diz o executivo.

O fato de a Qnective estar sediada na Suíça é considerado uma vantagem competitiva, em razão da legislação local e da histórica neutralidade política do país nos conflitos internacionais. "Não sofremos pressão de nenhum governo contra nossos clientes", garante. A única exigência do governo suíço é de que a exportação da solução seja vedada a uma lista negra internacional de criminosos e de empresas ligados ao crime organizado.

B2B

O Qtalk Secure é todo construído em software. Sua plataforma fica hospedada no servidor do próprio cliente corporativo, que distribui as licenças e, logo, os apps entre seus executivos. Pelo app, instalado em seus smartphones, eles conseguem enxergar apenas a lista de contatos estipulada pela própria companhia. Cada chamada ou troca de mensagens gera uma chave entre as duas pontas, que somente os dois aparelhos conseguem abrir, o que dificulta uma interceptação no meio do caminho. A necessidade de codificar e decodificar cada mensagem, em tempo real, gera um pequeno delay na comunicação, dependendo também da qualidade da rede onde se está conectado (Wi-Fi ou celular). A velocidade mínima requerida para a transmissão hoje é de 24 Kbps, mas vai cair em breve para 13 Kbps em uma nova versão a ser lançada.

Já foram vendidas licenças para diversos clientes, entre empresas e governos do mundo todo. O maior contrato até agora foi com o governo da Indonésia, que comprou 120 mil licenças. O Qtalk Secure está disponível para Android, iOS, Windows Phone e Blackberry, mas não pode ser baixado em lojas de aplicativo convencionais: a instalação é feita pela Qnective ou seus representantes diretamente nos servidores do cliente corporativo.

Existe uma versão voltada para uso militar, chamada Qtalk Defense. A diferença para a Qtalk Secure reside na possibilidade de customizar a solução, mudando inclusive o padrão de criptografia e outros parâmetros de segurança definidos pelo cliente.