Ninguém duvida que smartphones e tablets podem ajudar professores e alunos no processo de ensino, tanto dentro quanto fora da sala de aula. Mas como fazê-lo? "Uma coisa é um estudante acessar o Facebook, jogos e aplicativos diversos, outra, muito distinta, é aprender por meio de tablets e smartphones", comenta José Francisco Vinci de Moraes, professor de economia, coordenador do Núcleo de Tecnologias Mistas de Aprendizado da ESPM e responsável pelo ambiente virtual de aprendizado (AVA) da instituição. Em entrevista por email para MOBILE TIME, ele enxerga vantagens no uso de dispositivos dos próprios estudantes, em vez de terminais oferecidos pela instituição de ensino. E explica que não basta que estudante e professor tenham smartphones em mãos: é preciso que haja um projeto pedagógico. Na sua opinião, alunos e professores ainda não estão preparados para essa nova realidade.

MOBILE TIME – Como dispositivos móveis (celulares, smartphones e tablets) podem ser usados dentro da sala de aula por professores e alunos para aprimorar o processo de ensino? Poderia citar alguns exemplos práticos?

As possibilidades de uso desses equipamentos são infindáveis (exceto celulares), desde que exista um projeto pedagógico para tanto. Posso citar alguns exemplos: pesquisas e testes com respostas online e devolutiva imediata por parte do professor; pesquisas temáticas em grupo (por exemplo, em uma aula de geografia, posso dividir a sala em grupos e cada qual pesquisa dados de um continente e, posteriormente o professor compartilha, discute e corrige esse conhecimento construído); construção de uma wiki sobre qualquer tema (atividade individual) e posterior postagens dos colegas; compartilhamento de softwares, bases de dados ou link de internet, novamente com o intuito de pesquisa; debates via chats para explorar a linguagem escrita e não oral etc. Note que em todos os exemplos o estudante é agente ativo do processo de aprendizagem.

Como avalia o potencial desse casamento (educação e mobilidade) de acordo com o grau ou tipo de ensino (ensino fundamental, ensino médio, ensino superior, cursos de idiomas)?

Acredito que minha resposta anterior é válida para qualquer nível de ensino, desde que haja um projeto adequado para cada um desses níveis. Só os tablets e smartphones não resolvem o problema. É necessário a adequação das atividades para esse tipo de dinâmica de aula. É importante também que tais atividades sejam ativas, isto é, desafiadoras e incentivadoras da aprendizagem centrada no estudante.

Quais as vantagens e desvantagens de se adotar equipamentos dos próprios alunos ou fornecidos pela instituição de ensino? Qual modelo prefere?

Não há dúvida que é mais adequado o estudante utilizar seu próprio equipamento, pelas seguintes razões: a) os conteúdos já ficam armazenados e disponíveis para os estudantes em qualquer lugar que ele frequente; b) os estudantes já possuem maior familiaridade com seus equipamentos; c) há uma experiência de "pertencimento", ou seja, seu conteúdos e contribuições permanecem com ele e podem ser partilhados com colegas, pais etc.
A entrega de equipamentos pela instituição pode e deve ocorrer quando o conjunto de seus estudantes não contam com esses dispositivos, mas pode surgir no mínimo três situações desvantajosas: a) esses equipamentos são atualizados e renovados com bastante intensidade, o que pode gerar descontentamento caso a instituição não atualize constantemente seu parque de dispositivos; b) a instituição ficará responsável pela manutenção; c) a instituição deverá contar com outra forma de distribuir e disponibilizar as atividades trabalhadas em sala de aula.

Qual a sua opinião sobre ensino à distância através de smartphones e tablets? Que experiências desse tipo considera mais bem sucedidas?

Nesses casos tais equipamentos conferem total mobilidade para o estudante. Podem estudar no ônibus, no táxi, em um café, em qualquer lugar de sua casa etc. Mas é fundamental que a instituição reconheça essa vantagem e prepare material adequado para esses tipos de dispositivos, inclusive com possibilidade de se trabalhar off-line, uma vez que a conexão pode ser um problema.

Concorda com a afirmação de que os alunos estão mais preparados que os professores para a adoção de mobilidade na educação? Como os professores podem ser treinados?

Não concordo. Creio que, de modo geral, ambos estão despreparados. Uma coisa é um estudante acessar o Facebook, jogos e aplicativos diversos, outra, muito distinta, é aprender por meio de tablets e smartphones. Os professores precisam ser convencidos e capacitados pelas instituições de ensino, desde que elas possuam, senão um projeto, ao menos a intenção dessa utilização.

A educação, no modelo tradicional de sala de aula com um professor transmitindo conhecimento para uma turma de alunos passivos, que apenas recebem esse conhecimento, está com os dias contados? Quanto a tecnologia móvel contribui para pôr esse modelo em xeque?

Se pensarmos como a única metodologia pedagógica, eu diria que sim. É uma questão de tempo. Mas é importante frisar que aulas com bons professores são muitas vezes necessárias e importantes para o processo de aprendizagem. O mobile pode contribuir na medida em que posso gravar as aulas dos melhores e mais preparados professores de minha instituição e distribuí-las de forma massiva aos estudantes que não as assistiram.