A estratégia da TIM de destinar 65% do Capex em infraestrutura (móvel e da Live TIM) tem um objetivo claro: aumentar a capacidade de acesso. Faz parte da observação de uma tendência muito mais acentuada do que o esperado no mix de receitas de voz para dados. A previsão da prevalência dos dados, que antes era pra 2017, agora foi reajustada para 2016. A justificativa é que a situação macroeconômica do País leva os usuários a "concentrar mais os gastos", enquanto os cortes na taxa de interconexão (VU-M) acabaram não influenciando tanto, já que preferem a utilização de serviços de mensagens over-the-top (OTT) em vez de um segundo SIMcard. Ou seja, está decretada a morte do "efeito comunidade".

"Todo mundo achou que, com as quedas na VU-M, seria um maior tráfego off-net com o passar dos anos. Mas o que aconteceu foi que, com smartphones, já observamos o fim dessas comunidades quase da noite por dia", afirmou o presidente da TIM, Rodrigo Abreu, durante conferência com investidores em Nova York nesta terça, 15. Os grandes responsáveis por isso são o aumento na adoção do 4G e a mudança no padrão de comportamento com dados. "Não é só navegação, é para comunicação, e então vimos a necessidade de estar sempre conectado em dados, mesmo em pré-pago", disse. Na estimativa da TIM, 90% dos smartphones no Brasil tem WhatsApp, sem contar outros aplicativos semelhantes como Facebook Messenger, Viber e Skype.

Para direcionar essa mudança para os dados, o foco da TIM está na base pós-paga. A tele já afirma ter obtido 32% de market share em adições líquidas em pós ao final de 2014, tendência que afirma ter aumentado durante o primeiro semestre de 2015. Além disso, o CEO da operadora aponta para uma estabilização do mercado móvel brasileiro após redução na base total, conforme demonstrou este noticiário. "Isso significa que os brasileiros estão usando menos? Não, mas que estamos reduzindo o fenômeno de múltiplos SIMcards", afirma.

A empresa não quer necessariamente um aumento de base, mas um melhor mix para o pós-pago. O plano Liberty Top (com franquia de 6 GB e mensalidade de R$ 139) foi responsável por 50% do total de adições líquidas em pós-pagos em agosto. Das migrações entre pós, 80% foram para esse plano, enquanto 20% ainda foram de downgrade de planos.

A companhia conta com ferramentas de Big Data para analisar o comportamento do cliente, sobretudo em relação ao pré-pago. A TIM contava em julho com 60,3 milhões de acessos dessa modalidade. No período, houve 719 mil desconexões, enquanto em junho foram 836 mil."Se olhar a base pré-paga, uma grande parte em número de assinantes representa muito pouco de nossa receita, então mesmo se você reduzir a base, o impacto é pequeno", diz Abreu. "A diferença agora é que temos concentração de gastos, então tem que escolher que cliente você vai querer, porque não dá para concentrar esforços em 1% de sua base de receita, mas focar no que dá 15% de sua base de receita."

Outro ponto de estratégia da empresa é o atendimento. Abreu explica que a experiência do consumidor "não tem sido tão boa em qualquer operadora no Brasil", então a melhoria seria um quesito de diferenciação. "Infelizmente éramos assim, e queremos mudar isso para a experiência do consumidor", confessa.

4G

O forte investimento em capacidade, seja com aumento na quantidade de fibra até o site, seja com compartilhamento de espectro e refarming em 1,8 GHz, se deve à tendência de aumento de consumo de dados. Segundo a TIM, o tráfego 4G nas cidades de São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Brasília e Curitiba cresceu 2,7 vezes de janeiro a julho e agora representa cerca de 20% do tráfego total nessas localidades. Ainda assim, a base total de assinantes LTE corresponde a apenas 8% do total (para efeito de comparação, 60% são 3G).

Segundo Abreu, o fim da desoneração dos smartphones pode não influenciar tanto. Ele afirma que a TIM é a operadora que mais vende esses aparelhos no País (sendo responsável por metade das vendas dentre as teles), e que, para contrabalancear o fim do benefício, há uma "grande redução nos preços do mundo". Tanto é que ele ressalta a oferta de celulares com LTE na casa dos R$ 550. Atualmente, entre 40% e 45% do total de smartphones vendidos são 4G, e a expectativa da empresa é que esse mix chegue a 50% até o final do ano.