Mark Zuckerberg aproveitou sua apresentação no Facebook Connect nesta quinta-feira, 28, para apresentar a nova marca de sua empresa, Meta. A mudança ocorre apenas para a nomenclatura da holding, os aplicativos da companhia continuarão com seus nomes originais, inclusive a rede social Facebook.

“Para refletir em quem nós (Facebook) somos e no futuro que esperamos construir, eu tenho orgulho em dizer que a nossa companhia agora é Meta”, disse o fundador. “Agora todos os nossos produtos, inclusive nossos apps, compartilham uma única visão: dar vida ao Metaverso (‘Metaverse’, em inglês). E agora, nós temos um nome que reflete as aspirações que temos”, completou, ao lembrar que ‘meta’ vem do grego “além”.

Embora os apps continuem iguais, a principal mudança técnica é que a companhia agora é “Metaverse-first e não mais Facebook-first”. Segundo Zuckerberg, na prática, o usuário não precisará mais ter conta no Facebook para usar os outros serviços da empresa. Ou seja, o consumidor não precisará mais de acesso à rede social para ter um login no Instagram, Messenger ou WhatsApp.

Polêmicas

Coincide com o rebranding uma série de matérias de Wall Street Journal e do programa 60 Minutes da CBS nos Estados Unidos criticando as políticas da companhia em prol do lucro, algo que teria favorecido discurso de ódio, a desinformação e em alguns casos até botando em risco a democracia de países onde a companhia tem usuários. Os dados são baseados em documentos de pesquisas internas vazados pela ex-gerente de produto da companhia, Frances Haugen.

Contudo, as polêmicas do Facebook são antigas. Começam desde sua formação, em 2005, com diversas disputas por direito de sociedade com os irmãos Winklevoss, mas passam mais recentemente por: envolvimento no programa de espionagem PRISM da NSA; o caso do uso de dados pessoais de usuários da rede social pela Cambridge Analytica na conturbada eleição de Donald Trump nos EUA em 2016; acusações de estratégias para não pagar impostos locais na Europa e Oceania; copiar ferramentas e minar rivais, como TikTok, Snapchat e mais recentemente Clubhouse; críticas e pedidos de procuradores estaduais dos EUA que culminaram na suspensão do projeto Instagram Kids por falta de privacidade.

Grande parte dessas reclamações culminaram inclusive em pedidos para desmembrar os negócios da empresa.

Metaverso

Na visão de Zuckerberg, o Metaverso é o futuro da companhia e da Internet móvel. A evolução do conglomerado de uma plataforma social para algo “mais imersivo” que dá “corpo” à web. E sua definição de qualidade é sentir a presença de uma pessoa ao seu lado, sem ela estar fisicamente ali.

“No futuro (cinco a dez anos), você poderá se teletransportar instantaneamente como um holograma para ir a um escritório, assistir a um show com amigos ou conversar com seus pais na sala de estar. Isso abrirá mais possibilidade, não importa onde more. Você poderá gastar mais tempo naquilo que interessa para você, diminuir o tempo de viagens e com isso reduzir gastos de carbono”, explicou. “Imagine o seguinte: sua TV, jogos de tabuleiro, monitores de PCs, tudo isso será um holograma, até peças de fábricas serão hologramas (e poderão ser controladas à distância”, completou.

Neste ecossistema desenhado pela Meta, o usuário poderá entrar no Metaverso através de diversos dispositivos (PC, smartphone, óculos de realidade virtual ou aumentada, por exemplo). Além do conceito, o CEO apresentou as primeiras novidades do Metaverso, são elas:

– Horizon Home: Por meio de headset de realidade virtual da Quest, o usuário poderá entrar nesta rede social e se engajar com amigos, como assistir a vídeos;

– Messenger: o app de mensageria passa a ter suporte para que os usuários recebam ligações com óculos de realidade virtual;

– Jogos: a companhia confirmou que o Best Saber é o primeiro game VR do ecossistema a passar de US$ 100 milhões em receita bruta. Além disso, o jogo GTA San Andreas, da Rockstar Games, ganhará versão em VR para o headset Quest 2;

– Fitness e trabalho: No próximo ano, a Meta lançará um conjunto de acessórios para o usuário fazer exercícios em casa usando o Quest 2. Além disso, o óculo VR terá um conjunto de softwares que permitirá criar ambientes de trabalho, o Quest for Business, que deve entrar em testes em breve;

– Project Cambria: Este é um novo dispositivo de realidade virtual da companhia que será lançado ano que vem. Ele será mais caro e o carro-chefe do portfólio com novas tecnologias, como o efeito panqueca, que melhora a ótica no headset.

– Desenvolvedores: Para construção neste universo, a companhia apresentou o Presence Platform, um conjunto de kits (SDKs) para construção de objetos, interação e experiência de voz em ambientes que combinam realidade virtual e aumentada (mista).

– Outros: Ainda vale destacar uma pulseira com eletromiografia (EMG) que pode ser usada como controle em devices no futuro e o projeto Aria, que traz experiência de assistente virtual dentro de casa.

Críticas

Por outro lado, Zuckerberg não fica em cima do muro. Ao falar sobre o modelo de negócio que está sendo desenvolvido para o Metaverso, com marketplace para criadores e desenvolvedores, o CEO fez críticas à estratégia de Google e Apple em suas lojas de apps.

“Os últimos anos têm sido um período de humildade para mim e para a companhia. Uma das principais lições que aprendi é que criar produtos não é o suficiente. Nós temos que ajudar a montar um ecossistema para milhões de pessoas terem uma chance no futuro, para serem remuneradas por seus trabalhos e beneficiadas com o desenvolvimento. Não apenas como consumidores, mas como criadores e desenvolvedores. Por maiores que sejamos como companhia, nós aprendemos como é construir para outras plataformas. E vivendo sob as regras deles, isso mudou minha visão sobre a indústria de tecnologia. No geral, acredito que a falta de escolhas e altas taxas estão alijando a inovação, freando as pessoas de construir algo e atrasando toda a economia da Internet”, criticou.

No Metaverso, Zuckerberg quer que seus serviços custem menos, não mais, para atender o maior número de pessoas possível. Inclusive, indicou que pode subsidiar produtos, apoiar links de PCs e sideloading para mais opções aos seus consumidores e baixar taxas para desenvolvedores e produtores, embora reconheça que as taxas possam ficar altas em algum período para manter o negócio ativo.

Explicou que isso tem base no atual modelo, que consiste em aplicativos e ferramentas de criação de anúncios gratuitos, além de oferta de publicidade baseada em leilões que garantem o preço mais competitivo possível.

Vale dizer, a Meta anunciou um fundo de US$ 150 milhões para treinar a próxima geração de criadores de conteúdos de educação em novas tecnologias, como AR e VR. Nesta iniciativa, a companhia trabalhará com Unity (engine de gráficos, mais conhecida por uso em jogos), além de ONGs e universidades ligadas às minorias norte-americanas.