|Mobile Time Latinoamérica| Os principais líderes do setor de telecomunicações concordaram que a Colômbia precisa de um ambiente regulatório mais justo, estável e com menores custos associados ao espectro, se quiser acelerar a implantação da infraestrutura digital e garantir o acesso massivo à conectividade.
Durante um painel realizado no Andicom 2025, Rodrigo de Gusmao, presidente da Claro; Fabián Hernández, presidente da Telefónica; Carlos Blanco, presidente da Tigo; Fabián Villalobos, vice-presidente de Inovação e Transformação Digital da ETB; e Vitaliy Podolsky, sócio da WOM, analisaram a situação atual do setor Telco na Colômbia, em um contexto marcado por desafios regulatórios e econômicos.
Um dos temas mais recorrentes foi o preço do espectro. Na Colômbia, as tarifas são até três vezes mais altas do que em outros países da América Latina, o que limita a capacidade de investimento. A isso se somam impostos e contraprestações que, segundo os empresários, freiam a implantação de infraestrutura e reduzem a rentabilidade do setor.
Gusmao, da Claro, alertou que o país enfrenta um dos custos de espectro mais altos da América Latina, o que limita o investimento e a expansão das redes. “O governo deve reconhecer que há um problema no setor. É necessário continuar reduzindo os preços do espectro, além de revisar as contraprestações e encargos que hoje impedem o crescimento”, afirmou.
Infraestrutura crítica
Na mesma linha, Hernández, da Telefónica Colômbia, enfatizou que as telecomunicações devem ser compreendidas como uma infraestrutura crítica para o país. No entanto, afirmou que, apesar dos esforços do setor, ainda não se alcançou um investimento habilitador para garantir acesso equitativo.
“Na Colômbia, o problema é aquisitivo, por isso a política pública deve focar em facilitar o acesso, revisar as obrigações de espectro que não geram impacto e direcionar recursos como os do Fundo Único de Tecnologias da Informação e Comunicações (FUTIC)”, explicou.
Por sua vez, Blanco, da Tigo, propôs a necessidade de refletir sobre como a Colômbia é percebida do exterior para atrair novos investimentos. Segundo ele, o acompanhamento dos investimentos já realizados é insuficiente, e muitos não conseguem se recuperar no curto prazo, o que gera incerteza para investidores.
“As telecomunicações são a espinha dorsal da economia digital. Sem sustentabilidade financeira, o futuro 5G, 6G ou qualquer nova geração tecnológica está em risco”, afirmou Blanco.
Um ponto em que Vitaliy Podolsky, sócio da WOM, concordou: “A complexidade regulatória e os impostos fazem com que a Colômbia tenha um dos ambientes mais difíceis para a implantação de infraestrutura. É urgente revisar as regras do jogo se quisermos avançar rumo à competitividade digital”.
Importância da adoção digital
Além dos custos, os líderes alertaram sobre a baixa adoção digital. Embora a cobertura tenha avançado, com municípios que já alcançam 100% de sinal móvel, cerca de 40% dos colombianos com acesso à internet não a utilizam. Entre os motivos estão o alto custo dos dispositivos, a falta de aplicativos locais relevantes e o baixo nível de alfabetização digital.
“Podemos ter cobertura, mas se as pessoas não entendem para que serve ou apenas usam a internet para redes sociais, não estamos avançando na inclusão digital”, alertou Hernández, que insistiu na necessidade de reforçar a educação digital.
Por isso, enfatizaram que a conectividade não pode ser medida apenas pelo número de antenas ou municípios cobertos. Foi o que destacou Villalobos, da ETB, ao afirmar que, embora em várias regiões se alcance 100% de cobertura, a verdadeira transformação digital só ocorrerá quando os cidadãos integrarem o uso da internet em atividades como educação, saúde, trabalho remoto, comércio eletrônico e serviços online.
Nesse sentido, destacaram experiências como a de comunidades indígenas que, graças à conexão móvel, têm acesso a serviços de telemedicina e novas oportunidades econômicas. Esses casos, disseram, refletem o verdadeiro impacto da conectividade na vida das pessoas.
Fair Share
Por fim, Villalobos afirmou que a regulação na Colômbia continua funcionando com “o retrovisor”, sem responder à velocidade com que evoluem as necessidades dos usuários e à pressão das plataformas OTT. “O setor deve acelerar sua transformação de telco para techco, porque as demandas por largura de banda superam o que as empresas podem sustentar sob as regras atuais”, apontou.
Um ponto em que Gusmao, da Claro, foi enfático: “a política de fair share tem que sair, as telcos e as plataformas de streaming têm que buscar uma solução melhor para que haja mais investimento nas rodovias digitais e para melhorar a qualidade do serviço”.