A Xiaomi/DL está tratando com cautela a atual crise de suprimentos decorrente do aumento da demanda por memórias RAM, que com risco de falta desse insumo para dispositivos móveis. A empresa reconhece que pode ocorrer aumento de preços a partir do próximo ano. Durante evento organizado pela MediaTek nesta segunda-feira, 8, Luciano Barbosa, head de operações da DL, distribuidora oficial da Xiaomi no Brasil, lembrou que o tema foi abordado na conferência com analistas para apresentar o resultado do terceiro trimestre de 2025.

Em 18 de novembro deste ano, o presidente da Xiaomi, Lu Weibing, reconheceu um efeito negativo no faturamento de smartphones, tablets e PCs devido ao aumento dos preços das memórias. Em sua visão, a oferta de memórias atualmente é insuficiente para a demanda crescente puxada pelo avanço tecnológico em data centers de treinamento e inferência de inteligência artificial. Com isso, o custo da memória sobe e as fabricantes precisam definir:

  • Aumentar os preços;
  • Digerir este aumento e ter redução nas receitas;
  • Ou otimizar a produção (ex.: um device não tão forte em memória).

Com isso, a Xiaomi deve apostar na otimização da produção, transformando em premium mais produtos para manter a lucratividade ao longo de 2026, segundo Weibing.

Neste cenário, Barbosa explicou que o papel da operação local é definir quais produtos se encaixam melhor para aquela demanda e fazer um bom manejo. Um exercício construído a partir da pandemia da Covid-19, que também teve outro problema de semicondutores com grande parte da indústria asiática sem produzir chipsets por conta da necessidade de distanciamento social.

“Haverá um reflexo, naturalmente, mas nós estamos tratando com cautela para que, obviamente, nós consigamos resolver trazendo bons recursos, bons custos e benefícios para cada faixa que temos aqui. Não só no Brasil, mas também em outros países”, completou.

Boom and Bust das memórias

Xiaomi

Luciano Barbosa, head de operações na DL distribuidora oficial da Xiaomi no Brasil, (crédito Henrique Medeiros/Mobile Time)

Por sua vez, Russ Mestechkin, vice-presidente adjunto de vendas e desenvolvimento de negócios para as regiões das Américas e da Europa na MediaTek, reforçou que o poder computacional demandado pela IA gerou uma demanda gigantesca em semicondutores e memórias. E que esse tipo de alta de consumo não é novidade e faz parte de um ciclo.

“Alguns podem elogiar a IA. Outros podem culpá-la. Mas a verdade é que a demanda por semicondutores está disparando. E os fornecedores de memória estão buscando maximizar seus lucros. Portanto, estão direcionando a produção de memória para a tecnologia mais avançada (HBM), que potencialmente preencherá um vácuo das tecnologias mais antigas”, explicou Mestechkin, ao dizer que o momento é de reação do mercado com uma demanda enorme de um lado e uma oferta limitada do outro.

“Isso cria um mercado inesperado. Não é a primeira vez que acontece para quem acompanha o mercado de semicondutores. Costumamos chamar isso de mercado de ciclos de expansão e retração (boom and bust, no original em inglês). É um ciclo em que primeiro se produz em excesso e depois falta, e então se produz em excesso e depois falta novamente”, detalhou.

Entenda a crise

MediaTek

Russ Mestechkin, vice-presidente adjunto de vendas e desenvolvimento de negócios para as regiões das Américas e da Europa na MediaTek (crédito Henrique Medeiros/Mobile Time)

O maior gargalo do setor de semicondutores hoje acontece pela priorização das fabricantes de memórias (TSMC e Samsung) em desenvolver memórias de High Bandwidth (HBM), mais caras, em detrimento de memórias mais simples.

Em uso pelos hyperscalers no treinamento e inferência de IA, as HBMs são necessárias para os processadores voltados à inteligência artificial para que funcionem com eficiência. Elas são responsáveis por fazer a transmissão em velocidade de terabit por segundo entre memória e processamento.

Com este movimento, as fabricantes de memórias estão vendo alta na demanda e avançam em suas receitas para recuperar prejuízos de anos anteriores. É o caso da Samsung, que teve crescimento de 20% no terceiro trimestre de 2025, com 26,7 trilhões de wons (US$ 19 bilhões), ante 22 trilhões de wons de um ano antes (US$ 15 bilhões).

Em uma comparação simples, a crise atual seria como uma padaria industrial recebendo demanda para fazer bolos de festa de casamento e, como efeito, a fabricação de pães artesanais perde a farinha e o espaço no forno. Com isso, o pão fica mais caro e mais escasso, ao mesmo tempo que os casamentos trazem mais faturamento para a padaria.

Imagem principal: Ilustração produzida por Mobile Time com IA.

 

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