Onze colunistas do Mobile Time foram convidados para escrever um breve texto sobre temas que entendem importantes para serem debatidos em 2026 pela sociedade e particularmente pelo mercado de tecnologia. Veja abaixo as discussões propostas por cada um deles.

Rafael Pellon, advogado especializado em direito digital, sócio-fundador do Pellon de Lima Advogados e consultor jurídico do MEF

Meta; artigo 19; marco legal de inteligência artificial

Rafael Pellon

Com a popularização no uso de robôs de inteligência artificial generativa as indústrias criativas enfrentam momentos de incerteza em 2026. Nas artes e música, no jornalismo, nas livrarias, nas redes sociais, na publicidade e no audiovisual há cada vez mais conteúdos sintéticos, produzidos em escala e com qualidade razoável, desafiando o que até ontem eram empresas líderes destas indústrias a serem mais rápidas, mais baratas e mais criativas, um desafio que parece insuperável diante da facilidade em engolir e regurgitar conteúdos os mais diversos, com cada vez mais qualidade. Ao longo de 2025 vimos a evolução cada vez mais rápida os chatbots e robôs para produzirem vídeos, imagens e músicas que (quase) nos enganam, num fluxo alucinante para substituir a criatividade puramente humana.

Ainda não está claro e não sabemos se a popularização destas ferramentas irá provocar uma nova onda de criatividade pelo mundo ou arrebentar indústrias da economia criativa, desalojando profissionais de seus empregos ou os submetendo a serem meros revisores de prompts e criações produzidas em minutos, acabando com a aura de reconhecimento de criativos em todo o planeta. Antes reconhecidos por seu talento e inventividade, arriscam a se transformarem em curadores e usuários das plataformas que permitem inventar cada vez mais com menos esforço e expertise.

Será interessante acompanhar como as leis que regem as indústrias criativas serão atualizadas para reger este novo cenário, além da óbvia mudança de cultura que se avizinha na economia criativa como força motriz de entretenimento, marketing e consumo.

Ernesto Haikewitsch, diretor executivo da Mazaltech Consultores e diretor da associação Pagos

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Ernesto Haikewitsch

A interface invisível: quando o app desaparece e a conversa vira experiência

A inovação tem um padrão recorrente: ela desmaterializa o que antes parecia sólido. Nokia, Blockbuster e Kodak caíram porque o hardware (telefone, loja física, filme) virou software (smartphone, streaming, foto digital). Depois, foi a vez dos objetos físicos virarem tokens digitais — cartões de crédito, ingressos, carteiras. Agora, a desmaterialização chega ao próprio app: a interface desaparece, e o que resta é a conversa. A grande tendência para 2026 é a desmaterialização do próprio aplicativo. Depois do “hardware invisível”, chega a vez da interface invisível. Em vez de abrir o app do banco, do varejo ou da companhia aérea, o usuário conversa com um agente de IA dentro da mensageria e resolve tudo ali — pedir um Pix por voz, pagar boleto por foto, acompanhar uma compra, renegociar um serviço. O que muda não é só o canal: muda o centro de gravidade da experiência, da navegação para a intenção. E, quando a conversa vira interface, distribuição, marca, conversão e atendimento passam a competir dentro do mesmo espaço — o que torna a mensageria a camada universal de interação. 2026 será o ano em que três forças irão convergir: a maturação da IA generativa (agentes capazes de executar tarefas complexas), a universalização de infraestruturas como Pix e WhatsApp no Brasil, e a validação comercial do modelo por players globais como o Alipay.

Os melhores benchmarks globais e locais já mostram o roteiro. O Alipay evoluiu de carteira digital para superapp de serviços cotidianos e, segundo a Ant Group, atende mais de 1 bilhão de usuários e 80 milhões de comerciantes — um ecossistema que normalizou pagar, comprar e acessar serviços sem “pular” entre aplicativos. O movimento vai além da China: o Alipay+ (plataforma para pagamentos cross-border) reportou crescimento forte de uso no exterior, mostrando como experiências integradas (pagamento + marketing + serviço) reduzem atrito e aumentam conversão. Nesses cases, apps são tratados como módulos, não como destino: o usuário não quer interface — quer resultado.  No Brasil, o contexto é ainda mais explosivo: o WhatsApp tem mais de 120 milhões de usuários ativos, o Pix virou infraestrutura universal, e a IA generativa amadureceu rápido. Começam a surgir “apps que não parecem apps”, como a Magie, que transformou o WhatsApp em interface bancária e já movimentava R$ 140 milhões em menos de um ano, com evolução para patamares muito maiores em 2025. Mas o sinal mais forte é quando incumbentes adotam a lógica conversacional: Bradesco habilitou Pix pelo WhatsApp com a BIA (inclusive por voz), Banco do Brasil lançou Pix por imagem, Itaú oferece Pix no WhatsApp com ativação e limites, Jota explora pagamento por áudio, e o Magalu através da Lu no WhatsApp, começou como canal de pós-venda (status do pedido, nota fiscal, atualizações de entrega), mas o grande salto veio no final de 2025, quando foi lançado o “WhatsApp da Lu” como AI Commerce: a conversa passa a fazer a jornada completa — descoberta, recomendação, carrinho, pagamento no chat por Pix/cartão, acompanhamento — com interação multimodal (texto, áudio, imagem) e acesso ao catálogo do Magalu e dos sellers do marketplace. 2026 será o ano da virada porque a experimentação virou operação em escala: não são mais pilotos, são bilhões de reais transacionados e milhões de usuários atendidos exclusivamente por conversas.

A provocação final para 2026 é desconfortável (e necessária): se a relação com o cliente acontecer dentro de uma conversa mediada por IA, quem “possui” a experiência — seu app, seu agente, ou a plataforma de mensageria? Quem não responder isso rápido corre o risco de virar apenas “mais um fornecedor” num chat que ninguém lembra. O urgente em discutir isso agora é que as posições estão sendo definidas em 2026: empresas que tratarem a mensageria como “mais um canal” perderão relevância para aquelas que redesenharem toda a experiência em torno da intenção do usuário, não da navegação em interfaces. A janela para decidir se você será dono da conversa ou apenas um item dentro dela está se fechando. O que você acha?

 

James Görgen, especialista em políticas públicas e gestão governamental e autor do blog http://florestadigital.tec.br

Soberania digital e a captura estratégica da cadeia global de IA

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James Görgen

A corrida pela Inteligência Artificial (IA) nos Estados Unidos, marcada por um investimento massivo e concentrado em infraestrutura de hardware e data centers, configura uma bolha financeira com riscos econômicos sistêmicos e geopolíticos diretos para o resto do mundo. Essa euforia financeira, que impulsiona o crescimento do PIB dos EUA antes mesmo de os ganhos de produtividade se difundirem amplamente, reforça o domínio de poucas Big Techs sobre a infraestrutura digital crítica global, como nuvem, cabos submarinos e a definição de padrões tecnológicos. Essa concentração de poder não é apenas econômica, mas se traduz em coerção geopolítica: a dependência de serviços e sistemas sob jurisdição dos EUA torna nações vulneráveis a leis extraterritoriais (como o CLOUD Act) e sanções, expondo dados estratégicos e soberanos ao risco de intervenção externa.

Diante deste cenário de risco e dependência, a busca por soberania digital — a capacidade de um Estado exercer autodeterminação sobre seus ativos e infraestruturas digitais — deixou de ser retórica e se tornou um imperativo geopolítico e de defesa. Países e blocos globais estão implementando ativamente estratégias de re-territorialização e autonomia, que vão além da mera regulação, focando em políticas industriais, de infraestrutura e cibersegurança. Exemplos incluem a União Europeia, que tenta equilibrar a regulação com o fomento a soluções locais de IA e nuvem, e o BRICS, que coordena esforços para construir infraestrutura digital própria, como cabos submarinos e stacks regionais, visando reduzir assimetrias de poder na governança global. A resposta a esse poder concentrado envolve a migração de serviços públicos para software livre e o desenvolvimento de nuvens soberanas controladas pelo Estado para garantir que dados sensíveis permaneçam sob jurisdição nacional.

A estratégia mais eficiente para países que buscam autonomia reside na capacidade de converter o uso massivo de tecnologia em capacidade produtiva, aproveitando o ciclo da IA. Se o mercado de IA nos EUA passar por uma correção de preços e investimentos — o estouro da bolha — um “resíduo produtivo” de GPUs mais baratas e talentos especializados pode surgir. Para capturar esse valor, é fundamental que o Brasil e o Sul Global concentrem-se em três frentes: (1) o investimento em infraestrutura de confiança (como data centers e compute commons públicos), (2) o domínio de elos estratégicos da cadeia de valor, como design e empacotamento avançado de semicondutores, fugindo da dependência de nós de ponta, e (3) a implementação de regulação ex-ante (como a interoperabilidade obrigatória e a portabilidade de dados) para quebrar o lock-in das plataformas e garantir que o valor gerado por dados e publicidade retorne à economia nacional, financiando P&D e infraestrutura local (CIDE-Digital). Esse movimento sistêmico visa assegurar que a soberania digital se torne, de fato, uma alavanca para o desenvolvimento industrial e tecnológico autônomo.

 

Henrique Fabretti, CEO do Opice Blum Advogados

Tendência 2026: A virada fiscalizatória da ANPD e seus efeitos no ecossistema digital

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Henrique Fabretti

Depois de anos dedicados à construção das bases regulatórias da proteção de dados no Brasil, 2026 marca a transição da ANPD (Agência Nacional de Proteção de Dados) para um ciclo de atuação muito mais assertivo. A combinação de renovação completa do Conselho Diretor, incluindo o mandato do Diretor-Presidente, e uma promessa de expansão orçamentária e de quadro técnico cria um novo patamar institucional para a agência. É o fim da fase predominantemente educativa e o início de uma atuação fiscalizatória mais constante, com presença real no cotidiano das empresas digitais.

Esse movimento será central em 2026 porque coincide com a consolidação das principais normas da LGPD e com a ampliação das competências da ANPD, que passa a ocupar papel estratégico em temas como proteção de crianças no ambiente digital e futura regulação de inteligência artificial. Com maior capacidade operacional, a tendência é que a Agência aumente a frequência de auditorias, abra investigações estruturantes e utilize mais os mecanismos sancionatórios previstos na lei.

Isso deve levar a um fortalecimento dos mecanismos de governança das empresas e governos precisarão adaptar serviços digitais a padrões mais rigorosos de privacidade e transparência. E a sociedade tende a perceber impactos diretos: mais coerência nas práticas de tratamento de dados, maior proteção em ambientes usados por crianças e adolescentes, e regras mais claras para sistemas de IA que moldam o cotidiano digital.

Rodrigo Ghedin, editor do Manual do Usuário

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Rodrigo Ghedin

Se a previsão fosse para 2027, seria bem fácil. É o ano em que a bolha da inteligência artificial estourará.

Se, por outro lado, o pedido do _Mobile Time_ fosse por um desejo, e não uma previsão, fácil também: menos big techs e “enshittification”, mais tecnologias simples, comunitárias e livres.

Embora soe utópico, acredito que há espaço para acreditar que, ainda que não estejamos prestes a viver uma utopia moderna, pelo menos uma parte dela, sim.

Os indícios estão por aí, da Steam Machine levando o GNU/Linux a um público amplo e que até então parecia refém do Windows da Microsoft, às ondas de (re)descoberta do protocolo ActivityPub para plataformas sociais, tendo no Mastodon o representante mais proeminente.

É de uma fina ironia que parte do impulso que tais tecnologias mais alinhadas à humanidade venha da piora consistente e sem fim das comerciais. E uma prova de que o dinheiro não compra tudo. Muito pelo contrário: às vezes, é a causa do declínio, motivo da corrupção.

Não será uma mudança abrupta nem total. Falo isso tomando a mim mesmo como exemplo. Mesmo afeito às tecnologias livres, ainda tenho um pé no software proprietário e em ambientes digitais fechados.

Não precisa ser uma mudança abrupta nem total. Qualquer avanço é lucro e, com trabalho e sorte, a soma desses pequenos passos pode nos levar longe, para lugares que até pouco tempo atrás eram inimagináveis.

 

Martin Henkel, fundador da SeniorLab mercado & consumo 60+ e professor convidado de marketing 60+ na FGV

2026: o ano em que o 60+ assume o comando do mobile

Homem branco de cabelo grisalho e olhos escuros, sorrindo, vestindo camiseta preta

Martin Henkel

Em 2026, acredito que o universo mobile para o público 60+ deixará de ser visto como “exceção digital” e assumirá de vez o papel de protagonista silencioso no crescimento do setor. Vejo a posse de smartphones entre os 60+ no Brasil se aproximando de 80–90% nas grandes cidades, o que significa que praticamente todo novo serviço mobile relevante terá, de fato, um usuário maduro na outra ponta. Com o barateamento dos aparelhos 5G de entrada previsto para 2026, enxergo a barreira de hardware cair ainda mais, abrindo espaço para experiências mais ricas em vídeo, voz e tempo real, especialmente úteis para saúde, bem-estar e suporte à vida independente. Ao mesmo tempo, o avanço do e-commerce e do consumo de dados móveis indica, na minha leitura, que os 60+ consolidarão o hábito de comprar, pagar contas e gerir sua vida financeira pelo smartphone, deixando de ser “adotantes tardios” para se tornarem a base estável do faturamento digital. A carteira digital tende a ser, para esse público, menos um gadget de moda e mais uma infraestrutura cotidiana para receber benefícios, pensão, cashbacks e gerir gastos familiares. Diante disso, defendo que bancos, varejistas, operadoras e healthtechs abandonem a ideia de “app para os 60+” e passem a tratar UI60+/UX60+ como norma de projeto, sob pena de perder relevância em um mercado em que 60+ já têm peso central. Na minha visão, a combinação de mais conectividade, maior uso de planos de dados e interfaces mais inteligentes vai acelerar a migração dos 60+ de uma relação periférica para uma relação central com serviços digitais, influenciando inclusive a adoção tecnológica dentro das famílias.?

IA, UX60+ e o empoderamento dos profissionais maduros

Entendo, porém, que a grande virada de 2026 não estará apenas na quantidade de 60+ conectados, mas na qualidade das experiências oferecidas a eles com o apoio da inteligência artificial e do atendimento multimodal. À medida que empresas brasileiras priorizam IA generativa e agentes inteligentes, enxergo condições para jornadas de autoatendimento mais pacientes, explicativas e adaptadas ao ritmo do usuário maduro, em linha com o que venho defendendo sob a bandeira de UX60+. Ao mesmo tempo, observo profissionais maduros “desvendando” as soluções de IA, perdendo o medo e se empoderando à medida que percebem ter repertório mais rico para construir prompts mais assertivos e funcionais, transformando a experiência mobile em uma verdadeira parceria entre experiência de vida e tecnologia. A IA com memória e o suporte multimodal tendem a reduzir o atrito clássico desse público – repetir dados, se perder entre canais, não entender jargões – ao costurar conversas por texto, voz, imagem e vídeo de maneira contínua, sem exigir reaprendizagens a cada contato. Isso abre, na minha avaliação, espaço para modelos de cuidado em saúde digital, programas de longevidade, seguros, educação financeira e lazer que usam o smartphone como centro da relação, mas com linguagem e desenho de interação finalmente compatíveis com a Geração Prateada. Em paralelo, o aumento das transações e da exposição digital torna a pauta de segurança – prevenção de golpes, privacidade, autenticação amigável – uma das maiores oportunidades para que marcas construam confiança duradoura com esse segmento. Em 2026, espero ver o recado dos 60+ às empresas ainda mais nítido: não querem ser tratados como exceção tecnológica, e sim como o novo centro de gravidade de um mercado mobile que já depende, em grande parte, da sua renda, da sua lealdade e da sua presença diária nas telas.

 

Paulo Henrique Ferreira, CEO e fundador da Barões Digital Publishing

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Paulo Henrique Ferreira

Para 2026, eu enxergo como uma questão fundamental o fato de que as organizações de qualquer setor ou natureza terão que entender o ecossistema de inteligência artificial. Não basta dominar aplicações ou agentes específicos. É preciso compreender também o que está por trás, na camada de hardware, de software, com dezenas de milhares de aplicações disponíveis, e na estrutura das bases de dados. Ou seja, entender como o conteúdo estruturado das organizações vai alimentar os LLMs e qual será o papel da inteligência artificial em pesquisa e desenvolvimento.

Hoje, por exemplo, já são milhares de papers produzidos por IA para IA nas universidades dos Estados Unidos. A questão das pessoas também é central, afinal o impacto no trabalho e nas as profissões será grande. Há ainda o tema dos recursos naturais, como energia e minérios, nos quais o Brasil é rico. O país precisa se programar e fazer um plano para ser um player relevante nesse ecossistema inexorável.

E, para que nossas organizações também sejam players, é fundamental atenção, em particular, à questão dos dados. Uma base de conteúdo estruturada (“knowledge bases”), com um programa de Brand Publishing em nível profissional, será cada vez mais essencial para que as marcas estejam presentes e tenham autoridade nas interfaces de IA, que já se consolidam como uma nova interface de consulta à rede mundial de computadores. Estamos vivendo o início de um novo paradigma. Por isso é preciso sair da superfície, entender o que está por trás do ecossistema da Inteligência Artificial, como ele funciona e como se posicionar nesse admirável mundo novo.

 

Gabriella de Salvio, sócia TMT do Mundie Advogados

Em 2025, a Anatel tratou de diversos temas estratégicos para o setor, e a expectativa para 2026 não é diferente. Dentre os temas em destaque, acredito que discussões relacionadas a satélites continuarão na ordem do dia, e com relevância constante e crescente no país.

gabrielladesalvioComo já indiquei em minha coluna aqui, no Mobile Time, em 04/11/2025, nesse segmento, as novas possibilidades de negócios atreladas à prestação de Telefonia Móvel SMP por satélite (D2D) são atrativas para empresas e consumidores, devido à possibilidade de parcerias estratégicas com MNOs, à baixa latência, à ampliação de cobertura em áreas remotas, entre outros fatores, e que certamente demandarão regras mais flexíveis. Parece, no entanto, que o mercado ainda está em compasso de espera, evidenciando que o tema ainda precisa de alguns empurrões da agência,  já que o sandbox regulatório do D2D, por exemplo, ainda não atraiu interessados. Por outro lado, o avanço das constelações de satélites não geoestacionários já consolida um verdadeiro ecossistema multi-órbita, demandando esforços da Anatel para modernizar seu arcabouço regulatório e sua capacidade técnica de fiscalização. Nesse contexto, por exemplo, diante da ampliação das redes de satélites não geoestacionários e da quantidade de satélites geoestacionários nas Bandas Ku e/ou Ka do tipo HTS, a Agência publicou a Tomada de Subsídios nº 13, de 17 de novembro de 2025, com o objetivo de modernizar seu processo de monitoração de satélites, com prazo para o envio de contribuições até final de janeiro de 2026.

No contexto de expansão do segmento satelital, a Anatel sinalizou, ao longo de 2025, sobre a necessidade do debate acerca da concorrência e da sustentabilidade no setor, inclusive com a emissão de alerta regulatório por meio do Acórdão nº 91, de 2025, destacando a necessidade de “revisão do marco normativo vigente, à luz dos riscos identificados, notadamente aqueles relacionados à concorrência, à sustentabilidade espacial e à soberania digital”, sobretudo em razão do crescimento das constelações de satélites não geoestacionários.  A temática também está listada na Agenda Regulatória 2025-2026 da Anatel – no item 24 – que prevê a avaliação da necessidade de incluir regras de sustentabilidade no uso de recursos orbitais, alinhadas às orientações internacionais. A indicação é de elaboração de AIR e proposta regulatória previstas para o segundo semestre de 2026.

Esse movimento no Brasil dialoga com a preparação para a WRC-27, a ser realizada na China. Isso porque na WRC-23, realizada nos Emirados Árabes Unidos, a UIT aprovou diversas resoluções que demandam a elaboração, até a conferência de 2027, de estudos no segmento satelital, a exemplo da Resolução 253, que prevê estudos acerca dos requisitos de espectro e aspectos técnicos, operacionais e regulatórios relacionados à implementação do serviço móvel por satélite para conectividade direta com equipamentos de usuário de IMT. Ou seja, ainda que 2027 possa ser o ano em que efetivamente novos regramentos referentes aos serviços satelitais sejam aprovados em âmbito nacional e internacional, 2026 será fundamental para a construção de massa crítica entre players do setor e reguladores, e por isso, deve nos brindar com intensos debates sobre esse ecossistema e sua relação direta com os players mais tradicionais do setor de telecomunicações.

Boanerges Ramos Freire, CEO da Boanerges & Cia Consultoria

Boanerges

Boanerges Freire

Alguns temas e tendências essenciais para 2026

  • Crédito – O Banco Central acabou de eleger o crédito como seu mais recente recurso e prioridade para o leque de soluções e serviços do Open Finance. Esse é certamente o coração dos potenciais benefícios que o Open Finance pode gerar para a população (pessoas e empresas). Mas isso é só o começo de uma longa jornada, que demandará muito empenho dos vários agentes de mercado e um grande aprendizado por parte dos ofertantes e demandantes. Os desafios que serão enfrentados serão enormes, porém proporcionais aos benefícios sem precedentes. Belo jogo para ser jogado em 2026 e anos seguintes.
  • Serviços Financeiros B2B – Serviços Financeiros no mundo B2B é ainda uma das poucas e gigantescas oportunidades de desenvolvimento do setor de Serviços Financeiros. Esse front ainda vive na realidade das “finanças como um mal necessário”. Tomar consciência de que Serviços Financeiros podem se tornar um grande ecossistema de soluções, serviços e relacionamentos integrados ao ecossistema do negócio principal pode ser o primeiro grande passo para avançar na construção de uma nova dimensão. Efetivar isso vai demandar tempo, esforço, parcerias e aprendizados. 2026 pode ser um marco relevante nesse processo evolutivo
  • IA em Serviços Financeiros – É possível que 2026 sinalize a saudável e aguardada tendência de que IA em Serviços Financeiros se tornará cada vez menos hype e buzz-word e cada vez mais uma realidade que permeia todo o espectro desse setor. E, dessa maneira, poderá trazer contribuições relevantes para a geração de negócios, novas estratégias e melhores abordagens de relacionamento, indo muito além dos ganhos de eficiência e redução de custos. Para tanto, é necessária uma massiva evangelização desse tema e uma abordagem que privilegie relevância estratégica, medição apurada de resultados e contínuo aprendizado.

 

Natália Marroni Borges, pesquisadora no Think Tank da ABES; pesquisadora membro do grupo IEA Future Lab (vinculado à Universidade Federal do Rio Grande do Sul – UFRGS); pós-doutoranda em Inteligência Artificial e Foresight; e professora na UFRGS

Natalia Marroni

Natália Marroni Borges

As lacunas não técnicas da IA: caminhos para fugir da bolha

Em meados da década de 50, na conferência de Dartmouth, a Inteligência Artificial entrou oficialmente no mapa como um projeto ambicioso cuja finalidade inicial era de estudar a possibilidade de criar máquinas capazes de “pensar”, no sentido amplo de linguagem, abstração, solução de problemas e aprendizado. A história registra o entusiasmo inicial e, em seguida, acusa um acentuado recuo, conhecido popularmente como “inverno da IA”– quando a maior parte do que se projetava simplesmente não encontrou condições para acontecer. A literatura costuma tratar esse período como um choque de realidade impulsionado por limites muito concretos — processamento insuficiente, escassez de dados. Esse poderia ser considerado um marco importante de aprendizado sobre o tema, pois, de certa forma, é uma demonstração de que a tecnologia não evolui apenas por desejo ou imaginação; no caso, ela dependia, entre outros fatores, de infraestrutura, método e capacidade operacional.

Corta para os tempos atuais. Desde meados de 2023 vivemos um novo ciclo de promessas, agora puxado pelo lançamento mundial de soluções abertas e de acesso irrestrito como ChatGPT – que levaram à rápida popularização da IA generativa. Diferentes relatórios (algumas vezes otimistas) projetaram ganhos imediatos, e parte do mercado incorporou essa narrativa a seu discurso. Mas, na prática, a adoção corporativa real é lenta, irregular e, em muitos casos, superficial. The Economist, Financial Times e MIT Technology Review já discutem a possibilidade de sobreaquecimento do setor, apontando sinais de fadiga nos investimentos e uma distância crescente entre expectativa e entrega – com cada vez mais direcionamentos que levam ao entendimento de uma possível “bolha”. Consultorias como McKinsey, Deloitte e Gartner vêm revisitando algumas de suas previsões, identificando que a maturidade organizacional está, ainda, aquém do necessário para transformar casos de uso em valor consistente. Não se trata de falta de tecnologia, mas, possivelmente, ainda faltem condições institucionais para absorvê-la.

E este é o ponto fundamental: IA não é uma pauta que se resolva nos limites do domínio técnico. Os desafios tecnológicos existem, mas não são a maior parte da questão a ser endereçada. Quando as organizações tentam implementar IA de forma estruturada, naturalmente as pautas derivam para  questões de governança, responsabilidade, impacto no trabalho, vieses, transparência, compliance e coordenação interdepartamental – o que não era tão saliente em outras decisões a respeito de adoção tecnológica. Estudos recentes publicados em veículos importantes como Nature Machine Intelligence, AI & Society e relatórios da OCDE mostram que o fator determinante para adoção não é o modelo, e sim a capacidade institucional de lidar com suas consequências, que sequer foram ponderadas de maneira profunda no âmbito empresarial. Em 2026, a discussão sobre IA não precisaria ser sobre uma possível “bolha”.  Poderia ser, sim, o trabalho estruturado de identificação e ação sobre as lacunas que nos impedem de seguir em frente. E, para isso, a IA precisa sair da diretoria de Tecnologia e chegar à mesa do Comitê Executivo — onde as ponderações se ampliam e, com isso, ampliam-se as chances de identificarmos tais lacunas, pois, desta vez, talvez um pouco diferente de invernos anteriores, a questão não é puramente técnica.

 

Olinto Sant’Ana, presidente da Abratual

Abratual; MVNOs

Olinto Sant’Ana

Recebo com muita satisfação um novo convite do Mobile Time para expressar minha opinião sobre nosso setor de telecom, neste caso olhando o que deve dominar as ações em 2026.

De fato, acho que será um ano em que muitas coisas irão acontecer e mudar de forma significativa como estaremos em um ano.

Mas antes gostaria de ressaltar três eventos de 2025 que creio terão muito impacto nos próximos anos.

Do que temos mais próximo e que mais nos atinge, foi a surpreendente reviravolta na revisão do PGMC pela Anatel, frustrando a expectativa geral em claro benefício das operadoras detentoras de espectro. Em nossa modesta opinião a cartelização de preços deve continuar acelerada como desde a venda da Oi Móvel.

Apesar da obrigatoriedade de ORPAS de MVNO terem sido restabelecidas no julgamento dos vários recursos apresentados por um grande número de associações de prestadoras competitivas, vemos que a Anatel terá muito trabalho em arbitrar as inúmeras disputas que devem surgir.

E esta perspectiva não é nada animadora. Vamos lembrar que ao julgar a cláusula de exclusividade no contrato Claro-Nubank a Agência definiu que a exclusividade é proibida, exceto quanto a parte fraca concorde…..   

Já no plano internacional acho que devemos destacar dois eventos marcantes: a desistência do grande empreendedor da Echostar Charles Ergen, que liderou o mercado de DTH americano. Depois de investir mais de US$ 20 bilhões em espectro e tentar viabilizar uma quarta operadora móvel nos EUA, entendeu ser a empreitada inviável e vendeu o espectro por mais de US$ 40 bilhões para AT&T e Starlink.  Acho que esta decisão lança uma luz definitiva sobre o número de players viáveis no segmento móvel que os mercados podem sustentar.

Já nos últimos dias houve a disputa pela Warner Bros entre Netflix e Paramount (hoje da família que controla a Oracle), chegando à casa de mais de US$ 100 bilhões em dinheiro.

Fui relembrar um pouco a história da Warner e recuperei que tão recentemente quanto em 1990 se fundiu com a Time para formar a TimeWarner, a segunda maior operadora de tv a cabo do mundo nos meus tempos de cabo.

Em 2000 a AOL, em movimento surpreendente, comprou a TimeWarner (incluindo Warner Bros., CNN, HBO, etc) avaliada entre US$ 162-182 bilhões.

Entre 2023 e 2009 a AOL-TimeWarner começa a se desfazer e se separam em 2009.

Depois de adquirir a TW em 2018, em 2022 a AT&T conclui a fusão da WarnerMedia com a Discovery criando a atual WarnerBros Discovery, objeto da atual disputa.

Lembrando que os players envolvidos mais a Disney, a Amazon e a Comcast somam mais de 700 milhões de assinantes de streaming.

Isto vai reverberar pelo mundo e chegar aqui com certeza.

Voltando ao Brasil e 2026 começo pelo cenário de consolidação radical/redução do número de empresas no mercado dos ISPs no Brasil. Este é um fenômeno muito brasileiro e função da explosão do número de players nos últimos anos. É muito claro que este mercado não vai ficar como está e uma enorme quantidade de atores serão adquiridos ou simplesmente extintos.

Uma segunda vertente importante é a evolução do programa da EACE para levar e melhorar o acesso a internet nas escolas, em especial em áreas muito carentes. Há dinheiro de sobra, o desafio é apenas de operacionalização, já que não há dificuldades tecnológicas e os impactos do programa devem ser significativos. O desafio aqui será evitar o desperdício pois há uma série de iniciativas se sobrepondo umas às outras.

Outra fonte de mudanças é afinal a implementação da figura dos posteiros, que, apesar de ainda faltar um ajuste final, irão modificar de modo muito positivo a bagunça que se estabeleceu no segmento.

Também no próximo ano iremos assistir a evolução do assunto da Oi, que oferece riscos e impactos potenciais relevantes. A Oi ainda tem um peso importante no setor no Brasil e sua gestão pelo Judiciário com todas as idas e vindas geram uma turbulência que pode resultar na perda de controle com consequências que podem ser relevantemente negativas.

No caso do setor móvel espero ver as MVNOs continuando sua árdua luta para buscar relevância e viabilidade enquanto o desafio de oferecer cobertura mais ampla num País como o nosso bem como levar conectividade adequada à estradas devem dominar o segmento no próximo ano. Acredito que a evolução tecnológica trazida pela IA (que vai acelerar de forma significativa) e muitos investimentos em data centers para atender a demanda do setor B2B devem concentrar a atenção das MNOs e com isto aliviar a pressão delas sobre as MVNOs, que terão mais liberdade para ofertar opções de conectividade “saborizada” no segmento B2C.

Um segmento que deve trazer novidades importantes é o da conectividade D2D satelital. Já existe uma serie de iniciativas recebendo investimentos há algum tempo que no próximo ano devem começar a chegar o mercado de forma bastante disruptiva.

Por último, creio que o próximo ano traz um desafio gigantesco não apenas para o nosso setor mas para a sociedade brasileira como um todo: a implantação da reforma tributária é um tsunami se formando e em 2026 seremos todos atingidos de forma relevante.

Mas com saúde saberemos enfrentar estes desafios e, se Deus permitir, capturar oportunidades.

 

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