É comum que muitas pessoas conheçam o jogo da cobrinha da seguinte maneira: na tela de seu mobile, o jogador controla uma longa e fina criatura que se arrasta pela tela, coletando comida (ou algum outro item), não podendo colidir com seu próprio corpo ou as “paredes” que cercam a área de jogo. Cada vez que a serpente come um pedaço de comida, sua cauda cresce, aumentando a dificuldade do jogo. O usuário controla a direção da cabeça da serpente (para cima, para baixo, esquerda e direita) e seu corpo segue o movimento.

Apesar do jogo ser muito conhecido pelos celulares da Nokia, antes, ele foi desenvolvido pela Gremlin Interactive, apelidado de Blockade, em 1976. Na época, ainda não tinha sido nomeado como Snake. Ele foi lançado para os fliperamas, era monocromático e o personagem movido pelas setas do teclado. A estrutura básica era a mesma, mas diferente do game da Nokia, o Blockade foi feito para dois jogadores. Cada usuário controlava uma cobrinha e cada uma ia se expandindo no mapa, criando uma barreira, e quem sobrevivesse mais tempo sem ter atrito com uma das barreiras vencia a partida.

O jogo fez bastante sucesso naquele momento, servindo de inspiração para desenvolvedores concorrentes anos depois, como a Atari, que lançou o Worm em 1978. Começaram a surgir algumas novas versões do jogo da cobrinha, permitindo que mais pessoas pudessem jogá-lo em sua casa. Somente em 1982, o jogo ganhou uma versão single player chamada Nibbler pela empresa de fliperamas e jukeboxes Rock-ola, que mais tarde lançou para computadores domésticos e para a própria Atari.

Depois do fliperama, acabou sendo lançado em CD-ROMs com resoluções um pouco melhores que antes, mais avançadas, como o 8 e o 16 bits. Não demorou muito para o jogo ganhar uma versão para mobile também, mas ainda monocromática. Em 1997, a Nokia lançou outro “tijolão”, mas, desta vez, o novo modelo 6110 continha uma solução multifuncional ao chegar com o jogo instalado em sua memória, além de outros recursos. 

Essa era uma versão bem primária do jogo, em que a cobrinha era apenas uma linha na tela que ia se expandindo ao coletar pequenos quadrados. A adaptação para celular foi feita pelo programador Taneli Armanto, que trabalhava na Nokia. Não havia grandes novidades no início, apenas a possibilidade de ser jogado em qualquer lugar, e também seu nome alterado para Snake.

A primeira versão de Snake (Foto: Reprodução/Snake97)

Posteriormente, em 2000, quando o Nokia 3310 foi lançado, saiu a sua versão mais famosa, o Snake 2. Nesse, mesmo monocromático, além de ter um visual mais detalhado e a cobrinha se parecer mais com uma cobra, o jogador também podia coletar bônus para fazer mais pontos, porque havia sido incluída uma contagem de pontos.

O Snake passou a ser considerado o primeiro jogo de celular de sucesso. Foi um grande marco na indústria mobile, sendo lançado em mais de 350 milhões de celulares em todo o mundo e foi o ponto de partida de uma indústria que hoje movimenta bilhões. Seu desenvolvedor, o finlandês Armanto, recebeu do Mobile Entertainment Forum (Fórum de Entretenimento Mobile, em tradução livre), uma premiação pela sua contribuição ao crescimento da indústria de entretenimento móvel.

Ao longo dos anos, o jogo foi evoluindo e, depois do Snake 2, surgiu também o Snake Xenzia, elaborado especialmente para aparelhos monocromáticos, e Snake EX, que tinha gráficos aprimorados e pequenas animações. Quando a Nokia lançou a sua plataforma de jogos n-Gage, o game ganhou uma versão em 3D com visão em terceira pessoa, mas não foi bem recebido pelo público. Depois, foram lançadas outras atualizações. Mesmo assim, o jogo ainda continua popular e atravessando gerações.

O que ajudou o game a se popularizar foi o fato de ele ter tido desenvolvedores do mundo inteiro que tinham a liberdade de realizar alterações e criar diferentes versões do mesmo jogo. Nunca teve um “criador” único. Com a mesma estrutura simples, mas oferecendo variações significativas entre cada edição, não demorou para que o jogo da cobrinha virasse um fenômeno.