O balanço financeiro da TIM no segundo trimestre ilustra bem a transição pela qual passam as operadoras móveis brasileiras, com sua base de clientes migrando de feature phones para smartphones, o que gera um uso cada vez maior da rede de dados e uma queda na receita com SMS. Entre abril e junho, 29 milhões de assinantes da TIM acessaram a Internet através de seus dispositivos móveis, e a empresa afirma que 39% da sua base total é de dados (inclui acessos por terminais e tablets), um crescimento de 24% em relação ao mesmo período do ano passado. Em um intervalo de 12 meses, a média de volume de dados trafegados por usuário na operadora aumentou 40%. E a média de dias por mês em que cada usuário acessa a Internet móvel cresceu 30% – essa número é particularmente importante no caso da TIM porque a operadora cobra de sua base pré-paga por dia de uso da rede de dados.

Em termos de faturamento, a receita bruta com Internet móvel na TIM aumentou 33% no segundo trimestre em comparação com o mesmo período do ano passado. A receita com conteúdos e outros serviços de valor adicionado (SVA), por sua vez, registrou aumento de 72%. Considerando somente a conectividade à Web, o crescimento foi de 33%. E o SMS, por sua vez, diminuiu 8%. No primeiro trimestre, a receita com mensagens de texto havia ficado estagnada, com crescimento anual de apenas 1%, o que já indicava a queda iminente. A redução do uso de SMS é reflexo da popularização de aplicativos de mensagens instantâneas, como WhatsApp, Viber, Facebook Messenger, ICQ etc.

"Estamos a deslocar a receita de SMS para dados", afirmou o presidente da TIM, Rodrigo Abreu, durante teleconferência nesta sexta-feira, 1º. "Existe uma oportunidade para a captura de dados, a receita cresce de maneira saudável". Ao todo, a receita bruta de dados e SVAs da TIM foi de R$ 1,578 bilhão no segundo trimestre, o que representou um crescimento de 22% em relação ao mesmo período do ano passado.

Na visão de Abreu, a empresa conta com uma "aceleração consistente" da receita média por usuário (ARPU) do usuário de plano controle, que gera entre R$ 29 e R$ 30. "A gente vê que tem operadora praticando preços de ARPU de R$ 19, mas a gente quer adicionar valor no usuário controle, e não diluir. Na casa dos R$ 29 ou R$ 30, ele pode e deve chegar ao consumo de dados, é um processo com direcionamento correto".

Compensação

O crescimento do uso de dados tem outro benefício: compensar a queda de receita com a taxa de interconexão (VU-M), apontada como principal vilã do resultado financeiro do trimestre. De acordo com Abreu, houve um impacto maior porque este foi o primeiro trimestre inteiro com as tarifas já cortadas. Nos primeiros três meses de 2014, o impacto foi uma queda de 18% na receita de interconexão. De abril a junho, a queda foi de 28%. Entretanto, ele alega que a empresa já se prepara para 2019, quando a redução acelerada da VU-M fará a taxa chegar a R$ 0,02 por minuto. "A companhia já tinha dentro dos planos um percurso da redução da VU-M, portanto o impacto será relativamente pequeno". A própria exposição da VU-M diminuiu: "em 2010 era quase 20% da receita, hoje é ao redor de 12%". Ao longo do tempo, ele acredita, os serviços de dados – incluindo o consumo de conteúdo – vão "mais do que compensar" a queda na receita de interconexão.

Outra medida regulatória que o executivo acredita que não trará impacto é a de linhas alugadas, a EILD. "Numa primeira análise estática, em 2016, a queda da EILD mais do que compensará a redução da VU-M, tendo um resultado positivo no Opex da companhia." Pelas projeções da TIM, levando em consideração o tamanho da base, o ARPU e a diminuição do impacto da VU-M e de SMS (além do crescimento de dados), a receita com serviços deverá voltar a aumentar. "O crescimento acabará vindo", espera.