O Brasil continua sendo um mercado atraente aos olhos dos investidores estrangeiros, principalmente na área de mobilidade. Esperançosos diante das oportunidades para soluções de pagamentos móveis no País, alguns executivos internacionais com experiência no setor de tecnologia decidiram fundar no Brasil a PagueMob. Fazem parte do grupo, dentre outros, um ex-COO da PayPal (David Sacks) e um investidor anjo da PayPal, Airbnb e Pinterest (Kevin Hartz). "Nos EUA já existem grandes players e pelos umas 100 empresas com algum aporte de venture capital. Achamos o Brasil um mercado interessante pelo seu tamanho e por ser receptivo a novas tecnologias. Minha sensação é de que o mercado de m-payment está muito aberto no Brasil", explica John Abbott, CEO da PagueMob e também um dos sócios-fundadores da empresa.

Para o consumidor final, a PagueMob faz com que seu smartphone substitua o cartão de crédito de plástico, mais ou menos como faz a PayPal na web. Neste caso, a interface é um aplicativo para Android e iOS, através do qual o usuário cadastra o seu cartão de crédito (Visa, Mastercard ou Diners). Por segurança, é preciso informar CPF, confirmar o número do telefone com um código recebido por SMS, tirar uma foto do rosto e criar uma senha de quatro dígitos para a PagueMob. Uma vez feito o cadastro, o consumidor pode pagar contas através do aplicativo nos estabelecimentos comerciais parceiros da PagueMob, mesmo que estes não tenham máquina de POS. Para pagar, basta selecionar o estabelecimento em questão dentro do app, digitar o valor e a senha. Um comprovante é enviado por email e por SMS para o usuário. Isso evita filas no caixa, por exemplo, pois, na prática, é como se o smartphone de cada cliente virasse uma máquina de POS.

Há também a possibilidade de pagamentos offline, funcionalidade criada especialmente por causa dos problemas de cobertura e de qualidade do sinal nas redes 3G brasileiras. Neste caso, basta apresentar no caixa um QR code criado pelo app e que representa o cartão de crédito cadastrado pelo usuário. O caixa precisa ter uma webcam ligada a um computador conectado à Internet. Através dessa webcam, o QR code é lido. O app gera ainda um código verificador (token) que o usuário deve informar ao funcionário do caixa para validar a transação, evitando fraudes com o uso do seu QR code por terceiros. Essa solução de pagamento offline está sendo patenteada pela PagueMob.

ECs

A PagueMob atua como uma subadquirente da Cielo e as transações são classificadas como vendas remotas. Para os estabelecimentos comerciais, é cobrada uma taxa de 3,99% sobre as transações de crédito. O dinheiro é transferido 30 dias depois para o lojista, descontada a tarifa de uso. Não há cobrança de mensalidade. Abbott reconhece que não é a taxa que torna a PagueMob atraente para os comerciantes, mas os serviços agregados em torno da solução. É possível, por exemplo, criar rapidamente um programa de fidelidade, através do painel da web. Além disso, são fornecidos relatórios estatísticos sobre as vendas. Cada compra feita pelo PagueMob aparece automaticamente no painel de controle do lojista na web. Um comprovante também é enviado por SMS para o celular cadastrado pelo comerciante. Há ainda a vantagem de o PagueMob tornar possível a aceitação de cartão de crédito sem a necessidade de aluguel de máquinas de POS.

Um teste-piloto foi iniciado em maio em São Paulo com 25 estabelecimentos comerciais. Durante os testes, a empresa conseguiu mais de 2 mil usuários cadastrados. Em janeiro começará uma expansão para outras cidades, especialmente nos estados de São Paulo, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Um dos focos será o segmento de eventos, pois o app permite a compra e o armazenamento de ingressos virtuais. Em um teste feito em uma festa da ESPM em São Paulo o serviço registrou 600 novos usuários cadastrados em dois dias. A meta é chegar ao fim de 2014 com 200 mil usuários no Brasil.

Entre os planos futuros da PagueMob estão a entrada no mercado mexicano e o lançamento de uma funcionalidade de cartão pré-pago, via boleto bancário. Por enquanto a empresa não pretende abrir uma rodada de investimentos. "Estamos bem capitalizados", afirma Abbott.