As empresas brasileiras de telecomunicações devem crescer em receitas durante a crise do coronavírus com a aceleração da migração de voz para dados. A informação foi compartilhada por Luciano Ramos, gerente de pesquisa e consultoria para o segmento enterprise na IDC Brasil, durante conferência com especialistas do mercado de TI nesta terça-feira, 7.

Considerando três cenários para a crise (positivo, provável e negativo) até o final de 2020, o segmento de telecom pode crescer 9,1% em dados móveis no cenário positivo, 8% no provável, 6,4% no pessimista, ante uma previsão de 8,3% antes da Covid-19. Em receita de voz móvel, as estimativas são de quedas de 18,8% no provável, 17,6% no otimista e 20,4% no pessimista, ante um recuo de 14,1% previsto para 2020 antes da doença.

Previsão em Telecom para 2020. Azul claro é o cenário provável, azul escuro o positivo, laranja o negativo e roxo a estimativa pré-coronavírus

“Dos três grandes grupos de tecnologia que analisamos, telecom é o que tem a mudança mais leve”, disse Ramos durante conferência nesta manhã. “Quem sofre mais impacto são servidores (-2,4% no cenário provável) e armazenamento (-5,8%). Agora, se olharmos software e serviços, nós temos previsões positivas, mas com percentuais mais comedidos como resultados da crise. Veja que cloud permanece forte (35,8% em IaaS e 39% em PaaS) e SaaS (33,4%) mantém crescimento forte. Mas o mercado que mais cresce é o mercado de telecom, com a mudança de voz para dados”.

Previsão para 2020 em softwares e serviços

Em dispositivos, os smartphones que teriam aumento de receita de 13% em 2020, agora terão queda de 3% no cenário provável, ou crescimento de 1% no positivo, ou queda de 5,2% no negativo. Os tablets que teriam um incremento de 0,3% neste ano, agora podem ter recuos de 9,5% no cenário provável, 7,9% no positivo e 10,7% no negativo. A única categoria que mantém estimativas de crescimento é a de feature phones. Se antes a previsão dos celulares convencionais era de um aumento de 38% em suas receitas, agora passa para 31% na projeção provável, 35% na positiva e 28% na negativa.

Estimativa em dispositivos para 2020

Entenda os cenários

Nas estimativas apresentadas pelo executivo da IDC Brasil, o cenário otimista considera a retomada das atividades rapidamente e queda de 1,8% no PIB da América Latina; o cenário provável com espalhamento da Covid-19 mais rápido e desvalorização de moedas, além de ações de saúde pouco efetivas, o recuo seria entre 3% e 4% no PIB; e no cenário pessimista, a queda será superior 4% no PIB com o sistema de saúde deficiente para suportar a demanda de doentes. Para o Brasil, a análise da IDC estima um recuo de 5,5% no PIB para 2020, com impacto negativo de até 1,8% em 2021.

Em TI, a crise pandêmica pode representar uma perda de investimentos da ordem de US$ 15 bilhões, como explicou o gestor: “Em TI, nós veremos uma queda de investimentos em 2020. Mas o grande desafio é entender o tempo (de recuperação). Não é necessariamente um V (curto), mas um U (alongado). Pode ter de 10 a 20 pontos (percentuais) de redução. Prevemos um cenário de queda de até 3,5% em 2020 e crescimento de 4,8% em 2021. Ou seja, nós teremos recuperação em 2021 com retomada de investimento no Q1, mas a entrada de novos projetos a partir de Q2”.

Indústrias

Por setores, Ramos prevê que “os impactos serão bem diferentes e distribuídos” ao longo do tempo. A primeira área a recuperar seus investimentos em TI será a financeira, no terceiro trimestre de 2020, seguida por varejo e telecomunicações, no quarto trimestre de 2020. As categorias de serviços, educação e mídia voltarão a investir entre o último trimestre de 2020 e o primeiro trimestre de 2021. Mas o desafio mais longo ficará por conta de manufatura e governo, entre o primeiro e o segundo trimestre de 2021, segmentos que precisarão se reinventar na visão do analista.

“Esse é um período de transição da sociedade e dos negócios. A nossa visão é de quatro estágios. O primeiro estágio é de choque (recebe a informação da doença na região), depois organização (negócios funcionando em novo formato), realinhamento e transição para o novo normal. Estamos entre os estágios dois e três”, explicou. “Só 20% da população da América Latina tem condição de trabalhar em home office. 80% não está preparada para trabalhar fora da infraestrutura de empresa. Por isso estamos entrando na fase de realinhamento. Esse trabalho nos levará ao novo normal, a partir do Q3 deste ano. Todo um trabalho de comunicação e negócios”.