O Brasil tende a ser o principal destino de investimento do fundo de US$ 5 bilhões criado pelo Softbank com foco exclusivo na América Latina. Outros mercados com potencial para serem beneficiados são México, Colômbia e Chile. É o que indicam sete especialistas em startups e venture capital entrevistados por Mobile Time nesta sexta-feira, 8. Entre as “joias” latino-americanas que podem interessar ao grupo japonês foram citadas iFood, GuiaBolso, Grow, MaxMilhas, Méliuz, Neon, Nubank, Quinto Andar e Rappi. A expectativa é de que o Softbank procure por empresas já razoavelmente consolidadas em seus respectivos mercados, com modelos de negócios devidamente comprovados, mas ainda com grande potencial de crescimento na região. A expectativa é de que o Softbank adquira participações entre 20% e 50% em companhias da região.

A criação do fundo foi muito bem recebida, porque valoriza os ativos locais e pode atrair outros investidores. “A notícia é excelente. É mais uma confirmação do amadurecimento no nosso mercado de empreendedorismo tech, como já vimos também pelos eventos de liquidez (IPOs e vendas), rodadas de captação cada vez maiores e participação das grandes empresas através de corporate venture. É um marco muito positivo e a expectativa para os próximos anos é ótima”, diz Anderson Thees, sócio e cofundador na Redpoint eVentures.

“Eu imagino que vão começar a vir mais investimentos com essa notícia, por meio de empresas de grande porte. Até alguns fundos locais vão aportar mais”, prevê Bernardo Giacommeti, sócio da Dex Advisors.

De maneira geral, os especialistas concordam que o movimento do Softbank decorre de um amadurecimento do mercado de tecnologia na América Latina. “Tivemos os primeiros casos de grandes saídas, como o 99 com a DiDi, e alguns mega rounds entrando na região. É um indicativo de que a América Latina está mais madura como ecossistema de tecnologia”, comenta Eduardo Henrique, cofundador da Movile e CEO da Wavy. “E a Movile tem um papel importante nisso, por ser um dos grandes casos de sucesso”, complementa.

Renato Valente, country manager da Wayra Brasil, concorda: “O mercado de tecnologia na América Latina vem evoluindo rapidamente. Há muito capital estrangeiro chegando para investir nas startups, grandes rodadas acontecendo, os primeiros unicórnios surgindo e o case da 99 mostrando que é possível gerar muito valor na região. Muitos investidores estão entrando na América Latina pela primeira vez ou voltando investir depois de algum tempo. Por exemplo, esta semana foi anunciado o primeiro investimento da Bezos Expeditions, fundo do Jeff Bezos, da Amazon, na startup chilena de foodtech NotCo”.

Para Rafael Pellon, advogado especializado em direito digital, sócio do escritório FAS Advogados e consultor jurídico do MEF, a iniciativa do Softbank “demonstra que os fundos globais consideram a América Latina uma região importante para inovação e startups”. E acrescenta: “Nossa população é quase igual à da Europa. Embora com poder aquisitivo menor, temos potencial de crescimento maior. Somos um mercado em crescimento. E por termos problemas fiscais, econômicos, regulatórios e de infraestrutura, qualquer modelo de negócios inovador que faça a população pular etapas acaba tendo muita receptividade.”

“O grande alvo é a gente, sim. O Brasil tem um mercado interno grande, a gente está sempre entre os dez maiores consumidores de fora (Netflix, Instagram, Facebook, WhatsApp, Uber, 99)”, opina o presidente da ABStartups, Amaure Pinho. Ele ressalta, contudo, que o México também tem atratividade por causa da proximidade cultural e geográfica com os EUA.

Vitor Magnani, presidente da ABO2O e do Instituto Startups, aposta no interesse do Softbank pelas fintechs nacionais: “As fintechs brasileiras podem ser a bola vez. Devido à alta concentração bancária e inúmeras ineficiências, o investimento de VCs, como o Softbank, pode render bons dividendos. Vale lembrar que o governo está empenhado na abertura deste mercado para o investidor estrangeiro. No final de 2018, um decreto presidencial autorizou as fintechs a terem 100% de capital internacional.”

Vale lembrar que este não será o primeiro movimento do Softbank na América Latina. O grupo japonês já investiu em empresas como 99, Loggi e Gympass.