A startup Venuxx nasceu como um serviço de transporte individual feito por e para mulheres: todas as suas motoristas cadastradas são mulheres e somente passageiras mulheres podiam pedir corridas. A ideia era boa e fez sucesso nas cidades aonde foi implementada, mas não o suficiente para enfrentar a intensa competição de gigantes como Uber e 99. Em novembro do ano passado, seus fundadores decidiram suspender temporariamente a operação para repensar sua estratégia. Voltaram agora em março de 2020 com a proposta de ser um serviço de logística especializada, aproveitando a qualidade de suas motoristas (ou especialistas, como preferem chamar) para transportar pessoas e produtos que requerem maior cuidado para empresas de pequeno e médio porte nos segmentos de saúde (clínicas e laboratórios) e mercearia (grocery goods), e também transporte infantil, para famílias.

“Esse mercado é extremamente competitivo, com Uber e 99 brigando pelo mesmo espaço. Precisávamos de capital intensivo muito grande. Então demos um passo para trás e desligamos a empresa de novembro a março. Agora voltamos com foco em transporte especializado”, explica Diogo Della Gomes, CEO e cofundador da Venuxx.

A decisão estratégica foi tomada antes da pandemia, o que acabou sendo um momento oportuno, já que as medidas de isolamento social forçaram diversos lojistas a passarem a vender seus produtos exclusivamente através de canais digitais. “A pandemia está tendo o efeito de cisne negro, com um impacto gigantesco que ninguém esperava. Está sendo um divisor de águas no mundo inteiro. De um lado há muitas empresas quebrando. De outro, muitas nascendo”, analisa o executivo.

No caso da Venuxx, é um renascimento. A startup deixou de ser um app para o consumidor final e virou um serviço para empresas. As motoristas continuam sendo mulheres, mas o solicitante ou o passageiro não precisam mais ser necessariamente do sexo feminino.

“Recortamos o mercado para atuar de forma especializada em quem vê valor nisso. Escolhemos verticais que demandam cuidado e segurança no trajeto, seja o transporte de crianças ou de enfermeiras, para a aplicação de vacinas a domicílio, por exemplo. Não se trata mais de oferecer uma conexão do ponto A ao ponto B, mas uma malha logística para atender verticais carentes de um serviço de qualidade como o nosso”, acrescenta Gabrielle Jaquier, COO e cofundadora da Venuxx.

O fato de usarem carros em vez de motos também é um diferencial a favor do transporte para as referidas verticais. “O mercado de logística está muito concentrado em um único modal, as motos. Para itens de maior valor agregado é preciso usar uma transportadora. A gente oferece um meio termo”, argumenta a executiva.

Por enquanto a operação da nova Venuxx com transporte especializado está disponível somente na cidade de São Paulo. A startup fornece aos clientes corporativos um software customizado para a gestão logística, com otimização de rotas, e CRM, para a comunicação com os consumidores. Há também o cuidado de atender às normas e demandas específicas de cada vertical ou empresa, o que exige um treinamento especial das motoristas. A proposta é cuidar da logística para que o cliente corporativo possa focar no seu core business. Jaquier relata que a Venuxx tem sido procurada por empresas que cansaram de improvisar em logística.

Em seu novo modelo de negócios, a startup cobra um fee de setup e um fee mensal, o que lhe garante uma receita recorrente.

Primeiros resultados

A nova Venuxx já conta com cinco clientes corporativos, nas verticais de saúde e mercearia. Cerca de 50 motoristas que faziam parte da sua base foram convidadas para atuarem nessa nova fase, atendendo às corridas que chegam.  Conforme a carteira de clientes corporativos for crescendo, mais profissionais serão chamadas da sua antiga base, que conta com cerca de 7 mil mulheres.

Para as especialistas, os resultados melhoraram. Como o tíquete médio é maior do que nas antigas corridas de passageiras, elas agora trabalham entre cinco e seis horas por dia para ganharem o que levariam 12 horas em um Uber, afirma Della Gomes. Assim, 90% da base atual de motoristas está trabalhando exclusivamente para a Venuxx, sem precisar de outras fontes de renda.

Para a startup, os primeiros resultados positivos estão aparecendo. A empresa já opera com margem positiva. “Agora queremos fazer uma captação para acelerar o produto”, diz o CEO. O próximo passo pode ser a entrada em Belo Horizonte, movimento que está em estudo.