O blockchain é uma tecnologia de registro e validação de dados de forma descentralizada cuja aplicação mais conhecida é em transações com criptomoedas, como o bitcoin. Porém, ela pode ser adotada para diversas outras finalidades, inclusive a realização de chamadas telefônicas e troca de mensagens de texto. É o que pretende provar uma empresa sediada em Cingapura chamada Pundi X. Ela vai lançar no fim deste ano um smartphone Android batizado como XPhone que é capaz de fazer ligações e trocar mensagens usando blockchain a partir de uma rede global de máquinas de POS fabricadas pela mesma empresa.

“Nossa missão é permitir que a maioria das pessoas tenham acesso à tecnologia blockchain. Para tanto, há dois grandes desafios: melhorar a experiência do usuário e conquistar escalabilidade”, comenta João Victor Mendes, country manager da Pundi X no Brasil, em entrevista para Mobile Time. “Queremos mostrar como o blockchain pode ser usado em tarefas diárias. E aí chegamos ao XPhone”, acrescenta.

Antes de descrever o XPhone, é preciso entender melhor a rede blockchain que lhe dará suporte. Os nós dessa rede em questão serão compostos por máquinas de POS desenvolvidas pela Pundi X e batizadas de X POS. Elas são máquinas capazes de realizar transações com criptomoedas, como bitcoin, ethereum, BNB e NPXS – esta última é da própria Pundi X. Mais de 5 mil máquinas X POS já foram vendidas no mundo e a meta é alcançar 100 mil até o final do ano. No Brasil está acontecendo um teste piloto e o lançamento comercial acontecerá ainda neste trimestre.

Essas máquinas de POS aceitam um cartão chamado X Pass, que permite a realização de compra e venda das referidas criptomoedas. A ideia é que pequenos estabelecimentos comerciais, como bancas de jornal, utilizem a X POS para poderem vender criptomoedas. O estabelecimento pode definir sua taxa de serviço em uma faixa entre 0% e 10%, e a Pundi X recebe um spread de 1% sobre o valor transacionado.

A rede formada pelas máquinas de POS e também pelos futuros smartphones XPhone é chamada de Function X.

XPhone

O XPhone será um smartphone Android adaptado para conseguir realizar chamadas e enviar mensagens através da rede Function X. Ao abrir o aplicativo de chamadas, o usuário terá a opção de fazer uma ligação tradicional, pela rede móvel da sua operadora, ou uma chamada via blockchain. Na ligação tradicional, é preciso digitar o número telefônico do destinatário. Na chamada por blockchain, será necessário informar o nome de identificação do terminal de destino na rede Function X. O mesmo vale para o envio de mensagens de texto.

No caso da Function X, o tráfego passa pela rede de dados de operadoras móveis ou de banda larga, mas antes de chegar ao destinatário passa também por pelo menos dois nós da rede blockchain, que o validam e são remunerados por isso – com um token nativo da rede. O tráfego acontece, portanto, de forma descentralizada, combinando diferentes nós da rede a cada vez. Além disso, a segurança é assegurada pela utilização de criptografia fim a fim: somente o destinatário consegue acessar o conteúdo enviado, seja uma mensagem ou uma ligação. “É totalmente descentralizado. Não passa por nenhum servidor”, diz Mendes. Para usar a rede, também será preciso pagar com tokens da Function X. Como ainda há poucos nós na rede, acontece uma latência nas chamadas, em torno de 1,5 a 2 segundos.

Veja um exemplo de chamada por blockchain no vídeo abaixo.

Outros serviços de comunicação que não usam blockchain dependem de um servidor central para a distribuição do tráfego. É o caso, por exemplo, de qualquer chamada ou mensagem enviada via WhatsApp.

A Pundi X ainda não divulgou as especificações do XPhone, nem seu preço. Mas sua projeção é de vender 5 mil unidades no quarto trimestre deste ano.

A rede Function X também poderá ser utilizada para o tráfego de quaisquer outros aplicativos que quiserem usá-la. A ideia da Pundi X é abrir a rede para desenvolvedores. “O desenvolvedor precisa apenas mudar algumas linhas de código. Basicamente, em vez de apontar para um servidor da Amazon ou da Microsoft, vai apontar para um servidor FXTP, que é um servidor descentralizado da Function X”, descreve o executivo.