Mobile Time conversou com executivos de RCell e Allied, duas das principais distribuidoras de produtos eletrônicos (smartphones, tablets, consoles, TVs, eletroeletrônicos) que são vendidos por comércios de rua e online, para entender como a tributação impacta em suas operações, nos preços dos produtos, estratégias, quais regiões possuem centro de distribuição e como é feita essa distribuição. Esta matéria é um complemento àquela sobre a redução do ICMS na Paraíba para a atração de centros de distribuição de e-commerce.

Allied

Com cinco centros de distribuição no País, a Allied concentra 85% de sua operação no Espírito Santo, estado que tem o benefício Compete-ES (Lei nº 10.568/2016), que cobra 1,15% de ICMS das empresas de e-commerce. Para efeito de comparação, a companhia expediu nos últimos 12 meses, entre março 2021 e março de 2022,  mais de 10 milhões de produtos no estado sudestino, uma média de 800 mil produtos por mês.

De acordo com Felipe Piva, diretor operacional da empresa, em termos de vantagem tributária, a redução significa 4 pontos percentuais de margem, mas lembra que 85% a 90% do custo é a mercadoria em si: “É mandatório ter esse benefício para competir na indústria”, explicou.

Ainda assim, o executivo explica que, pela visão logística, o Espírito Santo não seria sua primeira escolha. Isso ocorre principalmente pelas dificuldades de escoar produtos para o resto do país via malha aérea: “O nosso produto viaja por modal aéreo. 100% da carga passa por São Paulo. O Brasil tem quatro hubs aéreos, nenhum deles está no Espírito Santo. A carga sempre precisa passar por alguns dos hubs. Logisticamente seria melhor se fosse 100% em um dos hubs. Além disso, há uma carência de voos, Espírito Santo tem 6 a 8 viagens por dia. Você precisa cair nos hubs para fazer as conexões nos estados de destino”, afirmou.

“E ainda tem a logística de compra dos equipamentos.  As grandes fabricantes estão em São Paulo. Compramos em São Paulo e distribuímos pelo Espírito Santo, independentemente da categoria. Isso evita o acúmulo de crédito. Inclusive, nós fazemos isso puramente por questão tributária”, completou.

No Espírito Santo, o centro da Allied tem 12 mil metros quadrados com 12 metros de altura e é alugado. O executivo não vê problema para expandir a operação. Mesmo na mão de obra, Piva explica que não há problemas. Atuando em um modelo híbrido, com parte do pessoal terceirizado, a companhia tem 60 a 80 profissionais trabalhando no CD, mas amplia a equipe em épocas de vendas mais robustas, como dia das mães, Black Friday e Natal.

O executivo explica ainda que a companhia observa outros estados: “O nosso time tributário sempre tenta entender a particularidade de cada estado. O COMPETE do ES foi isso. Se for vantajoso, eu monto uma operação em pouco tempo, dentro de dois a três meses, já com volume grande”, explicou, ao lembrar que o modelo logístico híbrido traz mais flexibilidade para fazer essas instalações.

Questionado sobre a possibilidade de utilizar o CD com omnichannel para reduzir o preço dos aparelhos que vendem, por exemplo, ao oferecer um dispositivo do Espírito Santo com preço menor do que se estivesse saindo de São Paulo, Piva acredita que essa ideia pode ser trabalhada em breve.

“É uma provocação interessante. E com certeza dá para fazer, se pensar em omnicanalidade. Hoje temos 5 CDs, mas posso ter 100 CDs, se considerar as lojas (de rua) do nosso portfólio. Você poderá pagar mais caro (e tirar na hora) na loja, ou pagar mais barato com um pouquinho mais de tempo em casa”, disse. “Sempre pensamos em criar canais de vendas e continuar buscando mais eficiência operacional. Isso com mais transparência e controle. No B2C, a decisão de compra está atrelada à entrega e atendimento. A qualidade de serviço e produto são quase a mesma coisa. Um consumidor pode comprar um smartphone de RS 1 mil com cinco dias para entrega em uma loja, mas outro lojista vende por R$ 1,1 no mesmo dia. É bem provável que a pessoa queira comprar o produto no mesmo dia. Ainda assim, eu preciso entregar a experiência e a entrega”, finalizou.

RCell

A distribuidora tem 4 CDS totalizando 15 mil metros quadrados. De acordo com Alexandre Elias, CMO da Rcell, os centros de distribuição atendem todos os estados. Mas há diferenças em cada CD, são os SKUs (produtos), que por definição da legislação brasileira possuem melhores incentivos fiscais para serem armazenados em determinados estados ou cidades.

O executivo afirmou que “sem dúvida” em uma operação saudável o incentivo tributário é o fator determinante. Porém, acredita que “para atingir um ecossistema voltado para a excelência em atendimento” baseado nas melhores opções do cliente, são analisados diversos fatores e o tributário é o mais importante. De sua operação, Elias cita três incentivos fiscais importantes.

“Em São Paulo, fazemos a opção de débito e crédito de ICMS. Em Vitória, no Espírito Santo, temos um percentual de ICMS bem atrativo. Já em Itajaí/SC, fazemos a distribuição de produtos importados, o que nos proporciona benefício de alíquota estornando todo o valor referente a diferença de crédito”, disse.

Na operação da RCell, centros de distribuição são terceirizados – exceto o CD de São Paulo, que é próprio. Sobre a mão de obra, Elias afirma que este processo fica a cargo dos operadores logísticos: “Eles são orientados conforme a nossa inteligência de processo, resultando em desempenho e eficácia diferenciados”, explicou.

E em relação à infraestrutura viária, o CMO da distribuidora explica que os CDs foram “construídos em locais estratégicos”, para facilitar o acesso aos modais de transportes. Sobre novos centros de distribuição em outros estados, o executivo afirmou que a RCell está em “fase final de análise de uma nova unidade”. Mas, por questões estratégicas, não podem revelar neste momento.