Em 2008, quando estourou a bolha imobiliária nos EUA, sites de gestão de finanças pessoais como o Mint fizeram sucesso e registraram um incremento significativo em sua base de usuários. O mesmo acontece agora no Brasil, com a diferença que o canal mais popular de acesso não são sites para desktop, mas aplicativos móveis. É o caso do brasileiro GuiaBolso (Android, iOS), que está perto de atingir 1 milhão de usuários e espera chegar a 2 milhões antes do fim do ano. Cerca de 90% dessa base acessa através de dispositivos móveis. O restante o faz via site na web.

"Nós percebemos o efeito da crise. No início os usuários eram early adopters, gente com iPhone e Galaxy S5. Agora vemos uma procura grande em Android de gente com renda mais baixa. São pessoas que de fato precisam de ajuda no controle diário ou semanal de seus gastos. A realidade do brasileiro médio é estar no zero a zero, lutando para não gastar mais do que ganha", relata Benjamin Gleason, um dos sócios-fundadores.

O app classifica automaticamente todos os gastos do usuário com seus cartões de débito e de crédito. Para tanto, solicita no ato do cadastro a senha de Internet das contas bancárias da pessoa. É ressaltado que com essa senha o acesso do app se limita à leitura dos dados bancários – como não dispõe da senha do cartão, não há risco de haver movimentações financeiras. Dentro do GuiaBolso, o usuário pode analisar seus gastos mensais, organizados por categorias; estipular metas; e comparar a sua saúde financeira com aquela da média dos demais usuários, em uma escala de 0 a 700 pontos criada pelo app. A classificação dos gastos em categorias é feita a partir da razão social do estabelecimento que fez a cobrança. Mas o usuário pode manualmente reclassificar qualquer gasto e ordenar que a nova categorização se repita para todos os gastos feitos naquele local. O mesmo pode ser feito com transferências bancárias recorrentes, como um DOC mensal para pagamento de aluguel. Também é possível criar novas categorias e inserir despesas pagas em dinheiro.

Segundo Gleason, uma pesquisa feita com os dados bancários de novos usuários do GuiaBolso indica que eles, na média, pioraram em 6% a sua saúde financeira nos três meses que antecederam a adesão ao app. Em contrapartida, quem já utilizava o aplicativo ao longo dos últimos três meses melhorou em 14%. "Estamos gerando um impacto social. É uma forma de democratizar o acesso à consultoria financeira, o que antes só existia nos EUA e em outros países desenvolvidos", comenta.

A utilização do GuiaBolso é gratuita. A monetização começará em breve, com a oferta de produtos financeiros, como opções de investimento, seguros com melhores preços etc. Serão firmadas parcerias com empresas do setor financeiro para a oferta de tais produtos, que passarão antes pela avaliação do GuiaBolso. Isso começará a ser testado em breve.

História e estratégia

O GuiaBolso foi criado originalmente para a web. A primeira versão de seu site entrou no ar em abril de 2014. Três meses depois, em julho, veio o app para iOS. E em fevereiro deste ano foi lançada a versão para Android. "Muita gente migrou da web para o app Android. Hoje, 90% da nossa base é mobile. Podemos dizer que agora o GuiaBolso é mobile first", explica Gleason. A empresa conta com mais de 40 funcionários, dos quais cerca de metade são desenvolvedores. "Temos um trabalho pesado de programação no back-end", comenta. Foram investidos mais de R$ 7 milhões no desenvolvimento tecnológico da solução até o momento.

A empresa recebeu aporte de três fundos de investimento: o brasileiro e.Bricks, o americano Valor Capital e o fundo latino-americano Kaszek Ventures. Não há planos de passar por uma nova rodada e nem de internacionalizar a operação por enquanto.