Vinicius Caram, superintendente de outorga e recursos à prestação (SOR) da Anatel (crédito: Marcelo Kahn/Mobile Time)

O superintendente de outorga e recursos à prestação (SOR) da Anatel, Vinicius Caram, explicou que há um verdadeiro cardápio de espectro para atender as empresas que desejam criar redes privativas. Durante o MPN Forum, evento organizado por Mobile Time nesta terça-feira, 12, o representante do órgão regulador afirmou que tem 4,5 GHz de espectro disponível, sendo 204 MHz abaixo de 1 GHz, 665 MHz em sub 6 GHz e 3,65 GHz em ondas acima de 3 GHz.

“A percepção que se tinha é que não havia uma voz única na indústria para falar ‘quero uma faixa [de frequência] para tal solução’. A reclamação da indústria era ‘quero espectro’. Hoje temos um cardápio de espectros que estão disponíveis, são baratos e acessíveis”, garantiu Caram.

Para redes privativas, as faixas disponíveis hoje são as de 225-270 MHz; 1.487-1.517 MHz; 2.390 MHz-2.400 MHz; 2.485-2495 MHz; 3.700 MHz-3.800 MHz; e 27,5-27,9 GHz.  A liberação mais recente foi a da faixa de 3,7 GHz e 3,8 GHz, que deve ser ofertada à indústria 4.0 com 100 MHz. “Sabemos que essa faixa de 5G pode melhorar a eficiência e trazer retornos superiores a 30% para o setor da indústria, totalizando R$ 150 bilhões em seis anos”, afirmou.

Caram explica ainda que preço não é problema, uma vez que a Anatel praticou preços baixos de pedido de licença: “Hoje, para operar uma rede na frequência de 3,7 e 3,8 GHz, você precisa da autorização de serviço. Algo que é entregue em 15 dias. Se for sem fio, precisa de autorização da RF em um polígono (parque fabril), com caráter secundário, 100 MHz em indoor e 50 MHz outdoor. Isso custa R$ 20 por mês. Por cinco anos, esse valor vai para R$ 1 mil. Depois, você licencia a estação rádio base por R$ 126 cada”, detalhou.

Em sua apresentação com dados e planilhas da agência reguladora, o superintendente revelou que, atualmente, há 1.082 empresas registradas com redes privativas no Brasil na faixa de 225 a 270 MHZ (cobertura nacional), a maioria delas em ferrovias. Nas frequências entre 2,39 a 2,40 GHz são seis CNPJs, com energia elétrica e mineração (um estado apenas).

Também listou a quantidade de fabricantes e equipamentos homologados por faixa:

FaixaQuantidade de equipamentosQuantidade de fabricantes
225 a 241,5 MHz62
248,7 a 268,75 MHz (ERBs)136
2,39 a 2,4 GHz (ERBs)613
2,485 a 2,495 GHz43

Preocupações do mercado

redes orivativas; VInícius Caram; Anatel

Painel ‘Desafios e oportunidades no mercado de redes privadas móveis no Brasil’ no MPN Forum nesta terça-feira, 12 (crédito: Marcelo Kahn/Mobile Time)

Se não há problema na regulação do espectro, de equipamentos e mesmo do preço das licenças, quais são as preocupações do mercado para avançar em redes privativas?

Para Marcia Ogawa, sócia-líder da Indústria de Tecnologia, Mídia e Telecom da Deloitte, entende que o mercado de “redes privativas está começando a se mover” e ainda há dificuldades para definir modelos de negócios. Em sua visão, as empresas adicionam mais questões à equação, indo além do valor da rede. A executiva deu como exemplo o caso do Inova HC, que ponderou o investimento em uma rede para fazer ultrassom à distância contra todas as dificuldades logísticas de atender presencialmente em regiões ribeirinhas.

Por sua vez, Ricardo Pence, vice-presidente de vendas para América Latina, Portugal e Espanha da Baicells (representada no Brasil pela Telesys), acredita que o problema é a falta de integradores no mercado para fazer a ponte entre as aplicações e as redes, um espaço que pode ser preenchido por novos players, como os ISPs e as MVNOs.

Único representante de operadora no painel, Alexandre Dal Forno, diretor de desenvolvimento de mercado IoT & 5G da TIM, citou como desafio a necessidade de amadurecimento para a elaboração de planos de negócios para a instalação de redes privativas, em especial na relação entre expectativa e realidade quanto ao seu custo.

Já Paulo Spaccaquerche, presidente da Associação Brasileira de Internet das Coisas (Abinc), disse que o problema é a falta de mão de obra para produzir as aplicações que serão usadas pelas empresas.