As possibilidades do pagamento móvel no Brasil já vêm sendo discutidas há bastante tempo pelo mercado de meios de pagamentos eletrônicos. Agora, no entanto, parece que estamos mais próximos de trazer as ideias para a realidade. O Ministério das Comunicações e o Banco Central já começam a movimentar-se para identificar a melhor forma de regular o sistema de pagamentos móveis. Deverão ser demandadas soluções que garantam interoperabilidade entre redes, inclusão social, baixo custo, segurança e competição. A mobilidade, hoje, é um tema central para as empresas e a possibilidade de utilização do smartphone como canal de interação entre empresa e consumidor tem papel decisivo na formulação das estratégias das empresas, tanto pelo grande número de clientes usuários doaparelho,quanto pela versatilidade da plataforma.

Seguindo essa tendência, a Near Field Communication (NFC) – ou, em tradução livre, comunicação em campo próximo – traz uma inovação para o mercado de meios de pagamento, permitindo a troca de informações sem fio a uma distância de poucos centímetros. Assim, é possível que as empresas desenvolvam aplicações que possibilitem a utilização do celular como carteira eletrônica, ou seja, realização de serviços aproximando seu celular de um leitor ou antena. Juntamente com as facilidades de utilização desse sistema, o NFC cria possibilidades ilimitadas para as empresas interagirem com seus clientes, incluindo nos seus serviços muito mais valor e relevância. Entre os serviços que podem ser realizados com essa solução estão compras com cartões de crédito, débito ou cartões pré-pagos, pagamento de passagem em transporte público, obtenção de informações sobre obras de arte em museus, aproximando o celular de etiquetas, e utilização de cupons de alimentação ou de refeição em restaurantes e supermercados.

Com a tecnologia NFC, as empresas que prestam os serviços nesse mercado também conquistam benefícios. Os bancos emissores de cartões de pagamentos, por exemplo, têm uma redução de custos, na emissão de cartões de plástico e na logística de emissão e distribuição dos cartões; as empresas de cartões-benefício – refeição ou alimentação – também poderão prescindir do plástico para boa parte de sua base e simplificar processos de carga.

Apesar dos desafios para a implantação dos serviços não serem triviais, as soluções para pagamentos com celulares equipados com NFC já são uma realidade. Desde 2004, esses serviços já estão presentes em escala comercial no Japão, quando foi lançado o serviço Suica Mobile – criado pela EastJapan Railways – para o sistema de transportes por trilhos na região de Tóquio. O serviço é similar a um cartão pré-pago carregado em seu celular: é necessário apenas aproximar o celular do bloqueio para que a tarifa seja debitada do saldo do seu cartão. O cartão pode, ainda, ser utilizado em compras no comércio credenciado, compras dentro dos trens e compras em máquinas automáticas de vendas. Até hoje, foram emitidos aproximadamente 35 milhões de cartões Suica, que são aceitos em aproximadamente 160 mil estabelecimentos, gerando em torno de 50 milhões de transações por mês.

É possível perceber que o tema está no topo da pauta de discussões das empresas de telecomunicações, instituições financeiras, provedores de serviços de tecnologia, bandeiras de cartões de crédito etc. No entanto, não são poucos os desafios para que a tecnologia possibilite serviços que sejam rentáveis para as empresas, tecnologicamente viáveis e desejáveis para os usuários. Então, o grande desafio está em conciliar os interesses das empresas que participam do ecossistema NFC, para que todas sejam beneficiadas com a solução. Por exemplo, as empresas de telecomunicações são as que detêm o relacionamento com os portadores de celulares e, também, é através de seus sistemas que serão baixados aplicativos, que será feito o set up de dados seguros e trafegadas transações financeiras. Também são elas que poderão ser responsáveis pelo elemento seguro do chip. A dúvida é: como as empresas serão remuneradas por esses serviços que deverão ser prestados?

As empresas que fazem credenciamento de estabelecimentos que aceitam cartões de crédito estão investindo para transformar sua base de equipamentos de captura, para que eles possam ser compatíveis com a tecnologia NFC. Como esses investimentos estão sendo remunerados? Como será a gestão e o rateio de custo da rede de transações segura que deve manter em contato usuários clientes das operadoras de celulares, que utilizam múltiplos modelos de aparelhos e são clientes de vários bancos e possuem variadas bandeiras de cartões? Como será definida a responsabilidade sobre o risco de transações financeiras? Como desenvolver um modelo que possibilite que se utilize a maturidade e segurança do modelo atual do sistema de pagamentos? Muitas questões relacionadas ao modelo ainda poderiam ser colocadas.

O desenvolvimento das soluções mais maduras de mercado, como as do Japão, indica que o foco da solução deve ser sempre o usuário, o consumidor. É ele quem demanda melhores serviços, desenhados para suas necessidades específicas de uso: mobilidade, agilidade, facilidade e acesso a informações. É em torno desses interesses que se agregam as empresas. Foi por uma necessidade de tornar mais eficiente e conveniente o fluxo de passageiros no sistema de transporte se desenvolveu a solução Suica, no Japão. Para atender e fidelizar clientes em um supermercado criou-se o pré-pago WAON, justamente por uma rede de supermercados.

A comunicação de campo próximo faz a ponte entre o mundo virtual e o real, e pode gerar soluções incríveis para nosso dia a dia, desde a abertura de portas e armazenamento de dados pessoais até transações financeiras de pessoas para pessoas. Um universo de possibilidades está aberto e as soluções, ou empresas, que terão sucesso nesse oceano de oportunidades serão aquelas que conseguirem ouvir profundamente seus clientes, entender e antecipar suas necessidades, e construir modelos rentáveis e viáveis tecnicamente.