O presidente da Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee), Humberto Barbato, em conversa com a imprensa especializada nesta terça-feira, 13, comentou que não está tão receoso da invasão de produtos eletrônicos no Brasil, como celulares, em decorrência do tarifaço de Donald Trump, mas da invasão de produtos elétricos (lâmpadas, tomadas, disjuntores e eletrodomésticos).
Em relação aos eletrônicos, Barbato recordou que logo após o anúncio do tarifaço, o governo dos Estados Unidos desistiu de aplicar a tarifa máxima de 145% em produtos como smartphones e notebooks chineses. Se essa taxação ocorresse, os preços subiriam dramaticamente assim que acabassem os estoques atuais nas lojas e os fabricantes chineses poderiam desovar em outros mercados os aparelhos que antes seriam destinados aos EUA.
Paralelamente, o presidente da Abinee reconhece que o recuo na disputa comercial e tarifária entre EUA e China na última segunda-feira, 12, proporcionou um pouco de “tranquilidade”. Importante explicar, os dois países assinaram uma resolução conjunta de diminuir as taxas para os próximos 90 dias. O governo de Xi Jinping recuou de uma tarifação de 125% para 10% sobre produtos importados dos EUA e os norte-americanos diminuíram as tarifas sobre os produtos chineses de 145% para 30%.
“Entendemos as razões americanas (para o tarifaço), mas também compreendemos que foram bastante drásticas e isso evidentemente movimenta o mercado internacional como um todo. E o Brasil, nas dimensões que temos, uma população de 220 milhões de habitantes, é natural que sejamos alvo do interesse de terceiros”, afirmou. “Posso dizer que nós estamos em um compasso de espera para ver como será a agressão ao nosso mercado, uma vez que essa situação tem sido modificada praticamente todos os dias ou todas as semanas”, completou.
Lição de casa da Abinee, redução de PIS e Cofins
Um outro tema debatido nesta terça-feira, 13, é a possibilidade de conseguir redução fiscal do governo brasileiro para aumentar as vendas de celulares no país. Para o diretor da área de dispositivos móveis da Abinee, Luiz Cláudio Carneiro, uma possibilidade é a redução do PIS e Cofins dos devices. O representante explicou que seria um movimento similar ao feito no passado, quando o governo zerou os tributos por dez anos para reduzir as comercializações de notebooks no mercado cinza. Mas agora o movimento ajudaria a reduzir as vendas de smartphones no mercado paralelo.
“Na época (entre 2005 e 2015), o mercado cinza de notebooks era em torno de 70%. Essa foi uma das medidas do governo que ajudou bastante a reduzir as vendas do grey market”, disse Carneiro, ao afirmar que o tema também pode auxiliar em outras frentes. “Isso (redução do PIS e Cofins em handsets) nós já discutimos com o governo. Mas acho que podemos voltar nessa pauta que não só redução do preço, como também a questão da inclusão digital, porque o celular hoje, de certa forma, é o principal equipamento de inclusão digital no país”, disse.
De fato, a pesquisa TIC Domicílios de 2024 indicou que 60% dos brasileiros acessam a Internet exclusivamente via celular e outros 40% o fazem por celular e desktop. Se considerar apenas a área rural, 82% usam a web por meio do handstet.
Carneiro afirmou que as conversas com o governo federal foram “informais” e não têm um trabalho efetivo em curso. Por sua vez, Barbato afirmou que o ideal seria que a indústria tivesse “zero imposto de consumo”. Mas entende que é um trabalho de longo prazo, pois o governo precisa arrecadar.
Vale lembrar, PIS e Cofins serão substituídos em 2027 pela Contribuição sobre Bens e Serviços (CBS) que foi criada a partir da sanção da reforma tributária no começo deste ano.
Imagem principal: A ilustração no alto foi produzida por Mobile Time com IA