Os smartphones agora contribuem para o cálculo da inflação brasileira. Não apenas por conta da sua variação de preço, mas porque viraram instrumento de trabalho para cerca de 100 donas de casa que diariamente coletam dados no varejo de sete capitais brasileiras para auxiliar a FGV a calcular o IPC (Índide de Preço ao Consumidor). Desde o começo deste ano, a FGV substituiu definitivamente os velhos palm tops por smartphones Android em todos os seus escritórios regionais. "Antes as pessoas precisavam ir ao nosso escritório para descarregar os dados. Hoje transmitem à distância, pela rede 3G. A agilidade é muito grande. Vemos tudo em tempo real", relata Marcelo Conte, superintendente adjunto de pesquisa de campo da FGV. A adoção dos smartphones ajudou também no processo de controle e auditoria das pesquisas, pois agora é possível verificar exatamente onde estão os pesquisadores.

A entidade mantém uma parceria histórica com donas de casa para a coleta de dados para o cálculo do IPC. Elas visitam supermercados, farmácias, açougues e outros estabelecimentos comerciais para acompanhar os preços de produtos. Ao todo, são 180 mil informações coletadas por mês no Rio de Janeiro, São Paulo, Belo Horizonte, Brasília, Recife, Porto Alegre e Salvador. O aplicativo para a coleta dos preços foi desenvolvido levando em conta o perfil das pesquisadoras. "Temos donas de casa com mais de sessenta anos usando esses smartphones. Tivemos muito cuidado em criar uma interface amigável. Além disso, promovemos um treinamento com elas", relata Conte.

O app informa os locais a serem visitados e os produtos cujos preços devem ser checados. As usuárias precisam apenas informar os valores, ou, quando falta algum produto, sugerir um similar. Elas receberam também canetas para usar na tela sensível ao toque.

História

A FGV começou a ter problemas de reposição dos palm tops cerca de quatro anos atrás. Foi feito então um teste com um aparelho Windows Mobile em uma pesquisa pontual, cujo resultado foi positivo. A fundação seguiu realizando testes até decidir migrar definitivamente para smartphones. Foi necessário todo um processo de integração com os sistemas internos da FGV, o que foi feito em parceria entre a equipe de TI da fundação e os analistas da Handcom, empresa responsável pelo desenvolvimento da solução móvel.

A troca para smartphones foi concluída no começo deste ano. Atualmente a FGV está usando os modelos Samsung S3 Mini e LG P550. Além do IPC, todas as outras pesquisa de campo da FGV estão sendo feitas com smartphones, nos 27 escritórios da fundação, localizados nas capitais estaduais do Brasil. "Todo dia há pelo menos 150 smartphones nas ruas coletando dados para a gente. Chegamos a atingir um pico de 300 equipamentos em um mesmo dia", relata Conte. A opção por Android se deveu à popularidade dessa plataforma e à diversidade de fornecedores. "O smartphone oferece um custo-benefício melhor que um coletor de dados. E com Android não ficamos mais presos a um único fabricante", justifica.

O único problema relacionado à adoção dos smartphones é a curta duração da bateria, diz o executivo. Para contorná-lo, a FGV distribuiu minicarregadores portáteis aos pesquisadores. "Isso realmente ainda é um problema crítico", comenta. Quanto à rede 3G, ele se diz satisfeito com o desempenho.