Jovens das classes C, D e E têm dificuldade de abrir uma conta bancária ou obter um financiamento por ainda estarem fora do sistema financeiro. A falta de dados sobre seu histórico financeiro acaba fazendo com que suas solicitações sejam negadas por sistemas tradicionais de score de crédito. Diversas fintechs vêm trabalhando para atender essa camada da população nos últimos anos, e uma delas é a Jeitto (Android), que oferece acesso a crédito de baixo valor em apenas dois minutos, pegando somente o CPF e o número telefônico do usuário e cruzando com uma série de outros dados. Sem muito alarde, em três anos de operação, a Jeitto concedeu R$ 7,5 milhões em empréstimos em um total de 200 mil transações. A empresa já aprovou crédito para 70 mil pessoas e a base de usuários aumenta 30% ao mês. A meta é chegar a 2 milhões até 2022, crescimento que será puxado pela sua integração como meio de pagamento dentro de sites e apps de comércio eletrônico e carteiras digitais nos próximos meses.

“Em 2013, quando começamos a pesquisar, vimos que faltavam soluções eficientes de score de crédito no Brasil para a classe C. Olhando o mercado africano, encontramos iniciativas em que o celular serve de ferramenta para entender o comportamento das pessoas. Então seguimos essa linha de analisar dados alternativos de uso do celular como componente do score de crédito”, relata Carlos Barros, um dos fundadores da Jeitto, em entrevista para Mobile Time.

Desde então, a Jeitto fez uma série de testes e aprimoramentos em seu algoritmo de score de crédito, assim como na própria interface do app, que foi simplificada ao máximo, até chegar na versão atual, em que basta informar CPF e número telefônico para ter acesso a crédito em dois minutos. O algoritmo da startup cruza esses dados com vários outros extraídos do telefone e de fontes externas para decidir se aprova ou não a pessoa. São utilizados recursos de inteligência artificial e aprendizado de máquinas para aperfeiçoar cada vez mais o algoritmo. E para quem é rejeitado a Jeitto ainda dá uma chance, oferecendo uma carteira digital cuja utilização serve para conhecer melhor o consumidor e liberar crédito mais à frente.

Após o cadastro, dependendo da avaliação feita pelo algoritmo, a Jeitto libera entre R$ 25 e R$ 150 de limite de crédito para o usuário. Esse dinheiro pode ser usado para o pagamento de contas ou outros serviços, como recarga de celular, sempre dentro do próprio app da Jeitto. Por cada transação a empresa cobra uma taxa, que varia de R$ 2,99 a R$ 10, dependendo do valor e do tipo do serviço que está sendo pago. É emitida uma fatura mensal para o usuário pagar de volta o empréstimo, mais as taxas, para a Jeitto, na forma de boleto bancário. Conforme passa o tempo e vai conhecendo melhor cada cliente, a Jeitto aumenta seu limite de crédito mensal, até chegar a R$ 500, valor máximo disponibilizado por pessoa.

Investimento

A Jeitto investiu cerca de R$ 15 milhões até agora no desenvolvimento da sua solução. Dos 34 funcionários, um terço são cientistas de dados; um terço, desenvolvedores; e um terço cuida de produtos. A empresa conta com o apoio de uma instituição financeira, cujo nome, porém, não pode ser revelado por enquanto. A expectativa é alcançar o break-even quando tiver 400 mil usuários.

Para crescer a base de forma financeiramente saudável, a startup conta com a qualidade do seu algoritmo na previsão de fraude e na análise do score de crédito.

Graças a esse algoritmo, a empresa concede hoje crédito a muitas pessoas que estão negativadas. Cerca de 20% das aprovadas na Jeitto estão nessa situação, mas na verdade são boas pagadoras. Aliás, pelos critérios de sistemas tradicionais de score de crédito, a previsão de inadimplência da base da Jeitto seria de 70%, enquanto na realidade é de apenas 15%. E Barros acredita que seja possível baixar para 12%.

Quem não paga a fatura mensal tem o crédito bloqueado e passa a ser cobrado. No primeiro trimestre do ano que vem a Jeitto lançará uma opção de renegociação e parcelamento de dívidas para os inadimplentes, com juros baixos, garante Barros. “Temos a preocupação de ser um crédito responsável, que evite o superendividamento”, explica.

Fraudes

Por um lado, o limite baixo do empréstimo desencoraja fraudadores. Por outro, o fato de ser uma operação 100% online aumenta o risco. “O Brasil é emergente em algumas coisas, mas é super-desenvolvido em fraude cibernética. Apanhamos muito com fraude no começo. Chegamos a ter que parar a empresa inteira”, lembra o executivo. “Hoje montamos algoritmos para ter um sistema muito robusto contra fraude”, afirma. O índice de fraude na Jeitto agora é de 0,2%.

Portabilidade de crédito

Uma novidade da Jeitto é a possibilidade de se integrar com sites e apps de comércio eletrônico e carteiras digitais, através de uma API. A ideia é aparecer como mais uma opção de pagamento dentro de sites e apps de terceiros, servindo justamente para quem não tem cartão de crédito ou quem procura uma maneira mais cômoda de comprar que não seja o boleto bancário. O varejista parceiro poderá até mesmo contactar quem abandonar o carrinho de compras e oferecer a opção de pagar com crédito fornecido pela Jeitto. Cabe destacar que para realizar o pagamento o consumidor precisará baixar o app da Jeitto e se cadastrar no serviço. Os primeiros testes com dois e-commerces e uma carteira digital devem acontecer no começo do ano que vem.