"A beleza de redes IP é que uma vez recebido o tráfego, um pacote é um pacote é um pacote". Foi parafraseando o famoso verso da poeta Gertrude Stein ("A rose is a rose is a rose") que o CEO da Juniper, Kevin Johnson, explica porque nada muda no núcleo das redes quando as operadoras mesclam diversas tecnologias e arquiteturas em suas camadas de acesso. Em visita ao Brasil na semana passada para a Futurecom, o executivo conversou com MOBILE TIME sobre as últimas inovações no core das redes, agora chamados de "núcleos superconvergentes". Destacou o forte investimento da Juniper em pesquisa e desenvolvimento (US$ 1 bilhão por ano) e comentou suas perspectivas para o mercado brasileiro a médio e longo prazo, incluindo as licitações para quarta geração (4G).

Mobile Time – Se um CEO de uma operadora móvel lhe perguntasse sobre ser ou não ser um mero cano para tráfego de dados, qual seria a sua recomendação?

Kevin Johnson – Nós entendemos que prover conectividade de alta qualidade é a parte principal do negócio de uma operadora. Mas como fazer isso da maneira mais econômica, ou seja, pelo menos custo por bit? E como fazer isso de maneira que possa oferecer outros serviços para os seus clientes? É comum vermos alguns dos nossos clientes muito focados não apenas em ter a mais confiável e segura rede, mas também em lançar novos serviços, como IPTV, serviços em nuvem, serviços de data center, vídeo sob demanda. E isso é bom, pois facilita o retorno sobre o investimento que tiveram em suas redes.

Então é melhor não ser somente um cano?

Cada cliente tem sua estratégia. A maioria tenta não ser apenas eficiente, mas criar novos serviços. Mas há outros casos. Em Londres, nas Olimpíadas, trabalhamos bem próximos à London Internet Exchange, que é o hub onde as operadoras se conectam à Internet. O trabalho deles consiste em ser o melhor e mais confiável cano para a web. E fazem um ótimo trabalho.

Alguns fornecedores de infraestrutura de acesso também vendem o núcleo da rede. A Juniper é focada no núcleo. Como compete com concorrentes que propõem às teles soluções "fim a fim", provavelmente mais baratas? Qual é o diferencial da Juniper?

Antes de mais nada, nossa empresa foi fundada para ser inovadora no núcleo. Nós investimos mais de US$ 1 bilhão por ano em inovação. Nós inventamos nosso próprio chip que faz o núcleo ser mais eficiente e suportar o aumento de tráfego. Investimos em nossos sistemas para melhorar sua densidade de tráfego e sua velocidade de transmissão. E também investimos em nossos próprios softwares. Nossa companhia está focada em resolver os mais complexos problemas em redes de alta performance, que começam no núcleo e depois passam para as camadas de transporte e de acesso. É difícil para empresas que começaram na rede de acesso agora tentarem resolver esses problemas no núcleo. O fato de investirmos tanto em pesquisa e desenvolvimento significa que nossos produtos são muito mais eficientes do que qualquer outra coisa que nossos concorrentes tentem vender. Se nossos clientes querem ter uma rede o mais eficiente possível, nós desempenhamos um bom papel nesse sentido.

Como é possível medir essa eficiência?

Há várias formas. Pode medir pela quantidade de Terabytes trafegados por segundo. Mas é importante também olhar o custo total de uma solução, o que inclui seu consumo de energia, sua manutenção etc. Nós apresentamos nossos projetos aos clientes sob a perspectiva do custo total de propriedade (TCO, na sigla em inglês).

Fala-se muito sobre inovação no lado das redes de acesso, como, por exemplo, a miniaturização das antenas. E quanto ao core? Quais são os últimos desenvolvimentos nesse segmento da rede?

A Internet móvel está provocando uma nova onda de tráfego nas redes, em razão da explosão de vendas de smartphones e tablets e da implementação do 3G e do 4G. Agora há mais pontos onde o conteúdo é consumido e distribuído. Dito isso, há alguns efeitos no core da rede. Os provedores de serviço estão convergindo as ofertas fixa e sem fio em um ponto só. E fazem isso porque gera benefícios econômicos e melhora a experiência do usuário. E se olharmos mais a fundo na rede, veremos que o core também passa por uma transformação que chamamos de "núcleo superconvergente". Isso consiste em algumas inovações nos chips de silício e na forma como os sistemas são empacotados. Começamos a integrar os componentes eletrônicos com redes ópticas no roteador e nos switches MPLS. Essa convergência permite aos provedores de serviços darem conta do rápido crescimento do tráfego de Internet.

Ou seja: a ideia é ter um núcleo único para redes fixas e móveis?

Exatamente. E a razão para que os nossos clientes sigam esse caminho de convergência de redes é pela eficiência. Com uma convergência em larga escala eles economizam custos e permitem que provedores de serviço atuem de maneira mais eficiente.

Uma tendência entre operadoras móveis no momento é adotar redes heterogêneas na camada de acesso, mesclando Wi-Fi, microcélulas, picocélulas e macrocélulas tradicionais. Isso requer alguma modificação no núcleo?

Não. A beleza de redes IP é que uma vez recebido o tráfego, um pacote é um pacote é um pacote. Se o pacote veio de uma rede 3G ou 4G ou Wi-Fi ou banda larga fixa  não faz diferença. É tudo uma questão de planejar a rede para suportar esse tráfego. O que tentamos fazer na Juniper é simplificar as coisas para os nossos clientes. Tentamos desenvolver produtos com acesso universal que podem rodar em redes celulares, ou Wi-Fi ou corporativas, sempre com a mesma tecnologia.

Tivemos recentemente vários anúncios de operadoras móveis brasileiras da sua lista de fornecedores de redes 4G. A Juniper não apareceu em nenhuma até agora. Por quê?

Bom, já fornecemos o núcleo de algumas das maiores operadoras brasileiras. E continuaremos sendo seus fornecedores, provendo atualizações para o core etc. Para instalar o 4G elas não precisam trocar o núcleo de suas redes.

Que novas verticais a Juniper mira no Brasil?

As grandes operadoras fixas e móveis vêm sendo nossos principais clientes por muitos anos. E agora queremos explorar mais os mercados corporativo e de governo. Os alvos principais são os setores de finanças e energia, além do governo federal.