A Biofy e o Hospital Dante Pazzanese, de São Paulo, estão atuando juntos para lançar o primeiro centro de IA e genômica da América Latina. A informação foi confirmada pelo CEO e cofundador da deep tech, Paulo Perez, nesta quarta-feira,15.
Em conversa com a imprensa durante o Oracle AI World, Perez afirmou que o intuito do espaço é criar e aplicar soluções de saúde existentes e futuras, como análise para combater superbactérias com o antibiótico certo e pesquisas epigenéticas em metilação de DNA, ou seja, entender o que influencia o envelhecimento celular, o que afeta o estado de saúde de um paciente como estilo de vida e até prever doenças como câncer e Alzheimer.
Por meio de tecnologia da Oracle, a Biofy criou um modelo de IA para identificar o tipo de bactéria e o tratamento ideal contra superbactérias em quatro horas, algo que normalmente demoraria cinco dias. Uma solução que só foi implementada no hospital paulistano após garantir 95% de acurácia no resultado e, com isso, a tecnologia reduziu a taxa de mortalidade por bactéria de 70% para 50%.
Perez afirmou que a meta é reduzir esse índice para 30% e com isso salvar 2 mil pessoas ainda em 2025: “Quando falamos de DNA de uma bactéria ou organismo, nós estamos falando de uma linha gigante. Só em bactéria são 700 mil diferentes DNAs com milhões de caracteres em cada um. Isso demora cinco dias no exame. A grande ideia foi converter o DNA em vetor e armazená-los em um banco de dados vetorial. Pegamos o DNA da amostra, convertemos o vetor e colocamos no banco de dados de vetor”, disse.
O CEO da Oracle, Mike Sicilia, afirmou que este é um exemplo claro de como a IA pode ajudar no nosso dia a dia, ao reduzir mortes em leitos hospitalares.
Centro de IA e a criação de remédios
O centro também será usado para criar medicamentos específicos para combater superbactérias a partir de vetorização para pesquisa rápida, o que pode colaborar para reduzir o desenvolvimento de remédios de uma década para três ou quatro anos: “A busca vetorial permite achar a pequena mudança (mutação) da bactéria. Acontece em milissegundos. Encontramos a bactéria e o melhor antibiótico para tratar”, explicou.
Além do hospital, um outro parceiro da deep tech que já usa suas tecnologias é o Laboratório Lemos. Por meio de IA, as duas empresas conseguem identificar marcadores genéticos se a bactéria h.pylori (uma bactéria que fica no estômago e pode causar gastrite, úlcera ou até câncer de estômago) é grave ou não e qual o melhor tratamento. DNA Center e uma das associadas da Unimed também devem adotar esta solução em breve. Perez explicou que esta solução é cinco vezes mais barata que um exame habitual (antibiograma), abaixo de R$ 1 mil.
Gêmeos digitais na saúde
Perez também explicou que está desenvolvendo um gêmeo digital do ser humano. Participando do programa do NVIDIA Inception Program, a ideia é criar uma solução que permite que os principais mecanismos de chave e fechadura do organismo sejam mapeados e com isso possam fazer simulação de qualquer proteína ou droga em um modelo digital. E, com isso, testar medicamentos antes de fazer provas com animais ou pessoas.
“Isto pode acelerar significativamente a descoberta de drogas na saúde”, afirmou.
Inicialmente, a expectativa é que os primeiros gêmeos digitais sejam lançados em até três anos. Mas o executivo afirmou que essa estimativa pode ser acelerada, uma vez que está trabalhando em um grande modelo de linguagem voltado aos peptídeos, as cadeias curtas de aminoácidos que formam as proteínas e agem como sinais para as células fazerem funções específicas. Em sua visão, se conseguir criar dados sintéticos de novos peptídeos, o lançamento de digital twins de humanos pode acontecer em até dois anos.
Imagem principal, sentados: Mike Sicilia, CEO da Oracle e Paulo Perez, CEO e fundador da Biofy (divulgação)
*O jornalista viajou aos EUA a convite da Oracle