Fãs da Nokia e analistas financeiros aguardam pacientemente há dois anos uma reviravolta positiva no desempenho financeiro da gigante finlandesa. A guinada pode acontecer este ano, se a plataforma Windows Phone conseguir deslanchar e competir em pé de igualdade com os rivais Android e iOS. Para se diferenciar do resto e evitar o processo de homogeneização dos smartphones, a Nokia vem apostando em inovação, principalmente nas áreas de imagem e de navegação/localização, vide a tecnologia Pure View para fotos e o serviço Nokia City Lens, de realidade aumentada, respectivamente. Na semana passada, durante a CES, em Las Vegas, MOBILE TIME teve a oportunidade de conversar sobre o assunto com Chris Weber, vice-presidente executivo global de vendas e marketing da Nokia.

MOBILE TIME – Com o desenvolvimento das redes 4G e de serviços na nuvem, alguns analistas preveem que no futuro os handsets se tornarão uma commodity. Você concorda?

Chris Weber – Não creio que o handset se tornará uma commodity, porque o handset representa um conjunto de experiências para o consumidor. Talvez seja a forma como a Nokia pensa as coisas… Quando anunciamos um produto, não falamos de Gigabytes, Terabytes ou coisas assim. Nós dizemos: aqui estão as três ou quatro experiências únicas que o consumidor terá com o nosso aparelho. No fim, é isso o que importa. Não vejo o handset virando uma commodity em razão de toda a inovação que é embutida nele. Para dar um exemplo, cito o Nokia Lumia 920. Ele tem cinco funcionalidades que saltam aos olhos dos consumidores. A primeira delas é a qualidade de imagem. Esta é a melhor imagem do planeta em ambientes com pouca luz. Outras novidades: a recarga sem fio e a tecnologia da tela, que agora pode ser usada com luvas. Tem também o serviço de música sem necessidade de identificação. E, por fim, a área de mapas e navegação, com o aplicativo de realidade aumentada City Lens. Essas são cinco áreas com experiências únicas e diferentes para o consumidor desenvolvidas pela Nokia. E isso é só o começo em inovações. É isso que me entusiasma: saber que vamos continuar a inovar em 2013. Pelo que vejo no nosso roadmap tenho certeza de que o handset nunca será uma commodity.

Poderia comentar sobre os rumores de lançamento de um tablet pela Nokia?

Não. (risos) O que posso falar é que em 2013 continuaremos a trabalhar nessas áreas de inovação: imagem, localização, entretenimento etc. Se eu pudesse abrir as portas do nosso laboratório para vocês verem o que virá em 2013, diriam: "uau! Esses caras estão apenas começando!". E este ano queremos expandir o nosso portfólio, tendo mais opções de aparelhos em todas as faixas de preços. Esse será nosso grande passo em 2013, mas não posso anunciar nenhum produto novo por enquanto.

No Mobile World Congress do ano passado nós lançamos o Pure View 808, telefone Symbian com sensor de 41 megapixels. Menos de um ano depois, lançamos nosso primeiro modelo Pure View para Windows. E o feedback dos consumidores foi positivo. A área de imagem, que sempre foi um dos destaques da Nokia, ficará ainda melhor em 2013. Uma prova do que estou dizendo é que lançamos o 920 no quarto trimestre e já disponibilizamos um update que melhora a qualidade da câmera, sua claridade etc.

O catálogo de aplicativos do Windows Phone ainda está muito aquém do Google Play e da App Store. A diferença no número de aplicativos é grande. Quando o Windows Phone vai alcançar seus concorrentes nessa questão?

Eu não creio que quantidade de aplicativos seja o argumento mais correto. Milhares de aplicativos na App Store nunca foram baixados uma vez sequer. A questão são os aplicativos realmente populares, aqueles que as pessoas efetivamente usam. A gente está se esforçando muito nessa área. Queremos ter a maioria deles. Já atraímos muitos para a plataforma Windows Phone, mas ainda temos bastante trabalho a fazer nesse sentido. Nokia e Microsoft estão atuando em conjunto e investindo bastante não apenas para trazer esses aplicativos populares de outros ecossistemas, mas para torná-los melhores, aproveitando características únicas da plataforma Windows Phone. Um exemplo é aproveitar os live tiles (espécies de widgets próprios do sistema operacional da Microsoft). Serve de exemplo um aplicativo de previsão do tempo que tenho no meu Lumia, o Weather Flow. Ele pode aparecer com um live tile na minha homescreen. Esse app pode ser minha tela de bloqueio, aliás. Ou seja: não se trata apenas de trazer os apps populares, mas de torná-los ainda melhores aproveitando as características da plataforma Windows 8.

Os últimos dois anos foram duros para a Nokia. A empresa perdeu a liderança em vendas de celulares para a Samsung e precisou demitir milhares de funcionários. Quando podemos esperar uma reviravolta favorável à Nokia?

Não tenho uma bola de cristal. Não sei dizer se será 2013 o grande ano. O que posso dizer é que precisamos progredir diariamente, melhorar o que já estamos fazendo. O lançamento no quarto trimestre do 920 gerou um bom feedback e bastante burburinho no mercado. Se você me perguntar qual o nosso principal foco eu diria: "net promoter score" (NPS). Trata-se de um termo técnico que usamos para medir o quanto um consumidor ama determinado produto e o quão disposto está em recomendá-lo para a família e amigos. Se conseguimos atingir um bom NPS, todos os números de negócios melhoram. E estou muito satisfeito com a resposta inicial dos consumidores sobre isso assim como a resposta das vendas no varejo, que demonstram que temos realmente algo diferenciado. Esses diferenciais, como a imagem, o recarregador sem fio, o toque na tela sem tirar as luvas, a navegação, são funcionalidades que ressoam junto aos consumidores. O importante é ter certeza que o consumidor está gostando e está recomendando para seus amigos. Tivemos um bom começo no quarto trimestre e precisamos manter isso em 2013: melhorar o que nos diferencia dos demais e expandir nosso portfólio. A área de imagem é muito importante para a companhia. Temos uma diferenciação ali. Queremos que todos os consumidores no mundo tenham acesso ao Pure View.

O que virá depois do Pure View? O que pode vir além de 41 MP?

Sem entrar em detalhes, há muito o que pode ser feito na área de imagens. Trouxemos estabilização óptica no 920. E há também a área de software: aplicativos como o Photo Beamer, de compartilhamento de imagens, são um bom começo.

Se combinarmos nosso conhecimento com imagens e navegação, podemos criar experiências fantásticas. Há possibilidades infinitas. O sensor de 41 MP é o que chama mais a atenção, mas o mais importante é o algorítimo que impede a perda no zoom, porque é o que importa para o consumidor.

A Nokia está desenvolvendo wearable devices, como óculos conectados, por exemplo?

Não vou fazer nenhum anúncio de produtos. Temos o negócio de acessórios, onde encontramos produtos como o recarregador sem fio, caixas de som com NFC… Temos um altofalante JVC aqui na CES, que é emparelhado via NFC e funciona como recarregador sem fio: basta botar o telefone sobre ele.
Podemos esperar que no futuro a família Asha se torne Windows Phone?

Vamos continuar a empurrar o preço do Windows phone para baixo. Estamos prestes a lançar o Lumia 505, que chegará primeiro no México e será o mais barato Windows Phone que já lançamos. Será algo único para alguns mercados da América Latina, na faixa de US$ 150.

Na área de "mobile phones" (termo que a Nokia usa para seus aparelhos de gamas média e baixa), a família Asha já pode ser enquadrada como smartphone em qualquer definição. A GfK já considera os telefones Asha como smartphones.  Vamos continuar a inovar no hardware e no software do Asha e baixar os preços também. Mas trabalharemos com as duas plataformas porque há um limite de até quanto podemos empurrar para baixo a plataforma do Windows Phone sem que ela perca qualidade.  Nos aparelhos Android de entrada a experiência do usuário é muito pobre. Temos que tomar cuidado para manter a boa experiência do usuário com Windows Phone.