| Mobile Time Latinoamérica | Embora os custos do espectro radioelétrico tenham diminuído globalmente na última década, segundo a GSMA, a América Latina ainda enfrenta uma elevada carga financeira para os operadores móveis. Isso pode comprometer a expansão das redes móveis e o acesso a serviços digitais de qualidade na região.
Entre 2014 e 2024, o preço unitário do espectro — medido como a receita média mensal por MHz por conexão — caiu 64% na América Latina e no Caribe, de acordo com o relatório Global Spectrum Pricing 2025, publicado pela GSMA. Essa redução é comparável à observada em outras regiões, como Ásia-Pacífico (-71%) e Europa (-58%).
No entanto, a GSMA alerta que essa queda não foi suficiente para compensar o aumento na quantidade total de espectro que os operadores tiveram de adquirir para implantar redes 4G e 5G.
Na última década, o volume de espectro atribuído a operadoras móveis na região cresceu 51%, o que implica custos acumulados maiores. Como resultado, o gasto com espectro na América Latina tem aumentado de forma constante, representando uma parcela cada vez mais significativa da receita das operadoras.
O relatório também destaca que, apesar da redução nas tarifas ao consumidor, a receita por gigabyte de dados móveis caiu 97% na América Latina entre 2016 e 2024. Essa tendência limitou a capacidade das operadoras de absorver os custos crescentes com licenças de espectro.
A combinação de receitas menores com obrigações regulatórias crescentes faz com que cada MHz disponível gere menos valor econômico para as empresas, dificultando a rentabilidade de novos investimentos em infraestrutura.
Governos da América Latina ainda priorizam arrecadação em vez de eficiência na definição dos custos de espectro
Outro ponto chave do relatório é que o método de alocação do espectro nem sempre é o fator determinante de seu custo. Tanto leilões quanto atribuições administrativas podem resultar em preços altos se as condições regulatórias gerarem escassez artificial ou se forem definidos preços mínimos excessivos.
Na América Latina, essas práticas têm sido comuns, impactando especialmente mercados como Colômbia e Argentina, onde o custo do espectro como percentual da receita das operadoras triplicou na última década.
A GSMA alerta que esse cenário tem consequências diretas para os usuários. Um aumento de 10 pontos percentuais na relação entre custo do espectro e receita pode reduzir a cobertura das redes móveis em até 6 pontos percentuais e diminuir a velocidade de download em 8%.
Por outro lado, alocar 10% a mais de espectro disponível pode elevar a cobertura em até 2 pontos percentuais e melhorar a velocidade da rede em 4%.
Situação por país
Chile
O Chile se destaca como um dos países mais estáveis da região em termos de política de espectro. Segundo o relatório, o país superou as metas de cobertura impostas pelo regulador em licitações recentes, inclusive em áreas rurais.
Esses resultados foram possíveis graças a uma estratégia de conectividade clara, condições técnicas razoáveis e modelos de cofinanciamento público que permitiram avanços no fechamento da brecha digital.
Para a GSMA, o Chile demonstra que é possível conciliar objetivos sociais com sustentabilidade para as operadoras.
Brasil
O Brasil é apontado como uma boa prática na região. O leilão de espectro realizado em 2021 incorporou licenças de longo prazo, condições de pagamento anual, mecanismos para substituir pagamentos financeiros por compromissos de cobertura e regras claras, sem espectro reservado. Essa estratégia permitiu que as operadoras planejassem melhor seus investimentos e alocassem recursos para expansão da infraestrutura.
Ao fim de 2024, o país contava com mais de 37 mil estações rádio base 5G ativas e uma cobertura populacional próxima de 95%. A GSMA considera que o modelo adotado pelo Brasil equilibra objetivos de política pública com incentivos reais ao desenvolvimento do setor.
México
O México é o único país da América Latina onde a quantidade total de espectro atribuída a operadoras móveis diminuiu entre 2021 e 2023. Essa redução não se deve à falta de demanda, mas à devolução de faixas por operadoras como Telefónica e AT&T, que consideraram inviáveis os custos associados.
Atualmente, estima-se que as empresas do setor destinam entre 12% e 13% de sua receita anual ao pagamento de taxas pelo uso do espectro, enquanto a média regional gira em torno de 5%. Essa carga representa um obstáculo para novos investimentos e limita a expansão da cobertura, especialmente em áreas rurais.
A GSMA alerta que, se as condições econômicas de alocação não forem revistas, o México corre o risco de ficar para trás no desenvolvimento de tecnologias como o 5G.
Colômbia
Na Colômbia, o gasto com espectro como proporção da receita das operadoras quase triplicou na última década. Apesar dos avanços em cobertura, a GSMA aponta que os leilões foram marcados por preços de reserva elevados e pouca flexibilidade regulatória.
Essas condições dificultaram a entrada de novos players e limitaram as possibilidades de reinvestimento das operadoras atuais. Embora recentemente tenha sido estabelecida uma rede única compartilhada entre operadoras para ampliar a cobertura móvel, o relatório da GSMA destaca que a política de espectro deve acompanhar esses esforços com regras mais realistas e sustentáveis.
Argentina
A Argentina também enfrenta desafios semelhantes. O relatório indica que o espectro tem sido atribuído sob condições econômicas insustentáveis, com valores que não refletem seu uso real no mercado. Isso gerou distorções que limitam o acesso equitativo ao recurso e desestimulam a participação do setor privado em novas licitações.
A GSMA recomenda revisar os mecanismos de definição de preços e reduzir barreiras de entrada para facilitar a implantação de redes, especialmente num cenário de crescente demanda por serviços digitais.
Imagem principal criada por Mobile Time com inteligência artificial