A ZTE quer aproveitar a chegada da quarta geração (4G) ao Brasil para firmar contratos de grande porte em fornecimento de ERBs para as operadoras nacionais. Porém, não pretende iniciar uma guerra de preços. Quem garante é o vice-presidente de soluções e operações sem fio da fabricante chinesa na Américas, Xiangyang Jiang. Ele reconhece que o market share da ZTE no País em redes 3G e 2G é proporcionalmente baixo se considerada a qualidade de seus equipamentos, mas quer reverter isso agora, diante da necessidade das teles em modernizar sua infraestrutura. Em visita ao Brasil esta semana, Jiang concedeu entrevista para Mobile Time.

Mobile Time – Qual a sua avaliação do desempenho da ZTE no mercado de infraestrutura sem fio na América Latina até agora?

Xiangyang Jiang – Na América Latina temos relações comerciais com a América Móvil, a Telefônica, a Digitel, na Venezuela, e a Entel, na Bolívia. E temos vários contratos de WiMax em diversos países. No Brasil, trabalhamos com todas as quatro operadoras, em redes 2G e 3G. Vemos oportunidades com LTE. Queremos ser um dos principais vendedores de 4G no Brasil.

Quais são as principais metas da ZTE nesse mercado este ano?

Primeiro temos que garantir a satisfação dos nossos clientes, oferecendo um atendimento com a melhor qualidade possível. E como o mercado ainda está se desenvolvendo com cobertura 3G, esperamos conseguir mais market share não apenas com novos contratos mas com a extensão dos atuais.

A ZTE é forte no Brasil no segmento de backhaul via rádio, mas não tanto em ERBs (antenas celulares). Poderia descrever melhor a performance da ZTE nessas diferentes áreas na América Latina?

No ano passado, na América Latina, segundo uma pesquisa de uma consultoria externa, a ZTE foi a que mais cresceu na área de transporte óptico e somos o número 2 em backhaul óptico na região. Do ponto de vista de acesso, não acredito que nosso market share seja proporcional à performance do nosso equipamento, o que significa que nosso time precisa trabalhar ainda mais duro para demonstrar os benefícios das nossas soluções para nossos clientes em operaodras. Aquelas que já usam nossas soluções, como Movistar Panamá, Movistar Equador e Digitel Venezuela, gozam dos benefícios, como redução de Capex e Opex, além de estarem prontas para evoluir para LTE.

O mercado brasileiro de 3G foi dividido entre Ericsson e Huawei. O senhor acredita que a ZTE conseguirá conquistar mercado em 4G no Brasil, considerando que as teles costumam dar preferência para os fornecedores que já estão presentes em suas redes?

Existe um ditado na China que diz o seguinte: é mais fácil lidar com um demônio que você conhece do que com um anjo desconhecido. O mesmo acontece na indústria de telecomunicações. É preciso analisar a performance dos nossos equipamentos e os benefícios que eles proporcionam. Quando olhamos para os ativos de 2G alguns deles são do ano 2000. E muito dos ativos 3G são de 2007. Estão velhos. Então existe a possibilidade de modernização das redes. Quando se trata de modernização de redes, parceiros antigos e novos têm chances iguais na disputa. Além disso, no LTE, há possibilidade de overlay de redes, para  modernização reversa. Ou seja, a partir da contratação de um fornecedor de rede 4G se faz a modernização dos ativos de gerações anteriores.

O senhor fala que a performance dos equipamentos da ZTE é superior àquela dos concorrentes. Poderia dar exemplos práticos?

Durante o Mobile World Congress, em Barcelona, em fevereiro, a ZTE demonstrou o funcionamento de uma rede LTE Advanced combinando duas frequências (2,5 GHz e 1,8 GHz) com um único sinal. A velocidade de downlink alcançou 270 Mbps, o que é a mais rápido obtida no mundo. E apresentamos uma plataforma convergente de redes TDD e FDD. Como se sabe, algumas operadoras que implementaram redes 4G estão enfrentando escassez de espectro. Nosso sistema é capaz de combinar TDD e FDD na mesma ERB, dando à operadora o máximo de flexibilidade e retorno sobre o espectro existente. Fizemos isso comercialmente na operadora sueca Hi3G.

Deve ser um caso único no mundo…

Foi a primeira experiência desse tipo no mundo. Mas outras virão.

Algumas fontes temem que a ZTE faça uma guerra de preços para conquistar contratos em 4G. Podemos esperar isso?

A indústria só pode prosperar se as operadoras e os fabricantes mantiverem um equilíbrio financeiro, o que é benéfico para todo mundo. Não somos destruidores de preços. Somos uma empresa disruptiva em custo de infraestrutura, o que é diferente. A gente se preocupa mais com o que podemos melhorar no custo de infraestrutura do nosso cliente e não no preço de uma peça única da rede.

Nos últimos meses foi possível notar um crescente interesse das operadoras móveis por Wi-Fi, para desafogar suas redes no tráfego de dados. Para atender a essa demanda, fabricantes tradicionais de redes celulares estão investindo em Wi-Fi, vide a compra da BelAir pela Ericsson e o recente anúncio da Alcatel-Lucent de inclusão de Wi-Fi em suas ERBs. O que a ZTE oferece nesse sentido?

Operadoras estão sempre enfrentando falta de espectro, que é como água ou oxigênio para elas. O que vejo mais e mais são smartphones e aplicativos com alto consumo de banda, gerando um congestionamento inevitável das redes móveis. Nesse cenário, o Wi-Fi satisfaz parte das necessidades das operadoras. A ZTE não é exceção e segue essa tendência. Não apenas nos preocupamos com Wi-Fi nas ERBs, mas também no core da rede. No lado da ERB, temos microcélulas, picocélulas e macrocélulas que trabalham com Wi-Fi e tecnologias celulares. Temos também nossos próprios pontos de acesso (PAs) para operadoras. No mercado chinês vendemos mais de 400 mil PAs Wi-Fi para operadoras locais. Somos o número um nesse mercado na China. E desenvolvemos um gateway de acesso para convergir 3G e Wi-Fi, de forma que a experiência do usuários seja transparente, sem notar a troca de uma rede para outra.

Outra tendência dos últimos anos é a miniaturização das ERBs. Cada um usa um nome diferente, como o LightRadio da Alcatel-Lucent ou o AtomCell da Huwei. Tenho certeza que a ZTE tem algo nessa linha. Qual é o nome que deram para a sua mini-ERB?

Não usamos nomes "descolados". Temos coisas mais concretas para entregar. No nosso caso a ERB se chama B8200 e é a menor macrocélula do mundo. A arquitetura de redes do futuro será feita em camadas e sempre haverá macrocélulas, porque sempre será preciso haver um equilíbrio entre cobertura e capacidade.  Para áreas de grande densidade serão necessárias múltiplas camadas, o que significa que se precisará de uma macrocélulas para cobertura externa e microcélulas para indoor.

Houve muita consolidação no mercado de infraestrutura nos últimos cinco anos. A ZTE é uma compradora?

A ZTE vem crescendo organicamente. No futuro, não descartamos nenhuma possibilidade. Mas em qualquer aquisição, o mais importante é conseguir a integração entre as culturas das duas empresas. Não pode ser uma aquisição só por causa da tecnologia. Só compraremos uma empresa se tivemos certeza que é possível consolidar as culturas de ambas.

De quanto foi a receita da ZTE com infraestrutura sem fio na América Latina no ano passado?

Perto de US$ 1 bilhão. Nossa meta para este ano é figurar entre os três maiores fornecedores na região.

Gostaria de acrescentar alguma outra informação?

Gostaria de destacar as atividades da ZTE com LTE ao redor do mundo. Já temos 30 contratos comerciais de LTE , dos quais sete já estão em operação comercial, incluindo a Hi3G, na Suécia; a Zain, no Oriente Médio; o Softbank, no Japão; a Bharti Airtel, na Índia; e a CSL, em Hong Kong. Em devices, enviamos mais de 200 mil unidades LTE no mundo, entre modems USB e handsets, para 700 MHz e 2,5 GHz.