A carteira de couro está mesmo com os dias contados. Além do dinheiro e dos cartões de plástico, os documentos de identificação que costumamos levar na carteira também poderão ser armazenados em telefones celulares, assim como as nossas impressões digitais. "RG, CPF, título de eleitor, carteira de motorista: será possível botar todos esses documentos dentro de dispositivos móveis. Mas é preciso criar uma regulamentação", explica Luis Roncato, vice-presidente de convergência e soluções da Morpho, empresa especializada em soluções de autenticação e que enxerga na identificação móvel um novo filão a ser explorado.

A ideia é aproveitar o elemento seguro, componente presente nos SIMcards dos celulares para identificação dos assinantes pela operadora celular e que começa a ser usado também para serviços de pagamento móvel. Cada documento seria uma nova aplicação instalada no chip do usuário, atrelado ao elemento seguro. O órgão emissor de cada documento ficaria encarregado de realizar a instalação da versão "móvel" no celular do cidadão, através de um TSM (Trusted Service Manager), parceiro com uma plataforma para cumprir essa tarefa remotamente, em comunicação com o TSM da operadora. Assim, a Receita Federal teria um TSM para instalar um "CPF móvel", cada Detran estadual teria seu TSM para a versão móvel da carteira de motorista etc, da mesma forma que os bancos estão contratando TSMs para poder instalar seus cartões de crédito nos smartphones dos consumidores para aplicações de m-payment, compara Roncato.

Serão criadas provavelmente apps móveis com interfaces amigáveis para exibir os dados de cada documento contido no SIMcard. Esses apps estarão presentes em algum aparelho leitor portado por agendas da lei, como policiais, e acessarão os documentos por meio da tecnologia NFC (Near Field Communications), aproximando-o do smartphone do cidadão.

Uma possibilidade para comprovar a identidade do portador do smartphone é através de verificação da sua digital, que pode estar armazenada no próprio telefone, por meio de uma solução adotada hoje em cartões chipados e conhecida como "match on card". Ela consiste no armazenamento da impressão digital de um dos dedos da pessoa no SIMcard. De posse de um equipamento com leitor biométrico, o policial pediria para verificar a digital do cidadão e compararia com aquela gravada no SIMcard.

A tecnologia atual já permite fazer documentos móveis, mas antes é necessário que o novo formato seja aprovado em lei para que seja aceito oficialmente pelos agentes do poder público. Vale ressaltar que os documentos físicos seguirão existindo. As versões embarcadas em celulares serão opcionais.

No Brasil, o recém-criado Registro de Identidade Civil (RIC), cartão chipado que funciona como documento de identidade, poderia facilmente ser portado para dentro dos celulares, se a legislação permitir no futuro.

Internacional

A inspiração de Roncato provem da Índia, onde a Morpho é parceira do governo local em um projeto de cadastramento de dados biométricos de toda a população e a emissão de um novo documento de identidade. Lá, a operadora celular Vodafone foi a primeira a ser autorizada a armazenar o documento dentro dos celulares.