Cerca de 45 comunidades localizadas na reserva extrativista Tapajós Arapiuns, à beira do rio Tapajós, no município de Santarém/PA, poderão em breve compartilhar conteúdo de texto e vídeo produzidos por seus habitantes através de um aplicativo Android. Detalhe: são localidades que nem sequer contam com rede elétrica, nas quais as pessoas sobrevivem da agricultura de subsistência e da extração de seringa, mas onde 90% das famílias têm um ou mesmo dois aparelhos celulares, graças à presença de uma antena 3G da Vivo instalada em novembro de 2010.

O app em questão está sendo desenvolvido pela ONG Saúde e Alegria, que trabalha há 25 anos na região com um barco-hospital que visita rotineiramente as comunidades. A ONG também atua em projetos de educação e cultura com a população ribeirinha, o que inclui a "Rede Mocoronga", um website onde são publicados textos e vídeos produzidos e editados pelos habitantes, primeiramente com câmeras da ONG e agora com os próprios celulares. O aplicativo para Android será a extensão móvel do projeto: nele será possível acompanhar todo o conteúdo digital gerado pelos habitantes, incluindo também as transmissões da rádio comunitária da comunidade de Suruacá, onde está instalada a torre celular. "São vídeos participativos. Alguns relatam lendas locais. Outros destacam problemas sociais da região, como a falta de coleta de lixo pelos órgãos públicos", descreve Paulo Lima, um dos coordenadores da Saúde e Alegria. O aplicativo deve ficar pronto em julho e está sendo produzido por um programador voluntário. O download será gratuito.

Transformação

A telefonia celular transformou a vida da população local. Antes da instalação da antena, a comunicação era feita através de cartas entregues aos barqueiros que passavam pelas comunidades. "Levava uma semana para chegar e depois uma semana para voltar a resposta", conta Lima. Com o apoio da população, a ONG conseguiu convencer a Vivo sobre a necessidade de instalação de uma torre celular na região. "É uma antena social. A renda gerada não cobre seus custos", explica Lima.

As seis toneladas de equipamentos da torre, fabricada pela Ericsson, foram transportados de barco e carregadas pela população até o local de instalação. Seu funcionamento é mantido por energia solar e eólica. Cem celulares foram distribuídos pela Vivo para lideranças locais das 45 comunidades cobertas. São linhas pré-pagas que recebem R$ 15 de crédito por mês e plano de dados livre. O resto da população adquiriu aparelhos por conta própria. "Hoje, 90% das famílias têm telefone celular", afirma Valdemir, presidente da associação de moradores de Suruacá. O telefone é utilizado para se comunicar não apenas com parentes em Santarém e outras cidades, mas também com habitantes da mesma comunidade, quando estes estão trabalhando no campo, a alguns quilômetros de distância terra adentro. O cartões para recarga de créditos vêm de barco.

A conexão 3G é utilizada também em telecentros nas comunidades, para acesso à Internet através de laptops. É nos telecentros que a população carrega as baterias dos seus celulares, através de carregadores coletivos. Os telecentros são abastecidos por painéis solares.

Em Suruacá existe um gerador a diesel próprio, que no momento está quebrado. Quando funcionava, era ligado quatro dias da semana, três horas por vez, entre 19h e 22h, para as pessoas verem as novelas e o jornal. "O que mais sinto falta é de ter uma geladeira e poder tomar bebida gelada. Às vezes os barcos trazem gelo de Santarém", conta Inácio Adalberto, outra liderança local.

Educação

Em uma nova fase do projeto, a conexão em banda larga móvel está sendo levada para dentro da escola de Surucá, através de netbooksjunto com conteúdo didático embarcado. A iniciativa, batizada de "Connect to Learn",  é da Ericsson e será reproduzida simultaneamente em uma escola na Vila Cruzeiro, uma comunidade carente no Rio de Janeiro. O lançamento acontecerá esta semana, durante a Rio+20.