Da esquerda para direita: Paulo Rufino, Aarhus University; José Marcos Câmara Brito, Inatel; Wilson Cardoso, Nokia (crédito: Henrique Medeiros/Mobile Time)

A atual disputa entre oriente e ocidente nas redes celulares pode trazer problemas para a próxima geração de rede móvel, o 6G. De acordo com especialistas do setor de telecomunicações que participaram de painel no Futurecom, nesta quinta-feira, 20, existe uma discussão de que pode haver dois padrões de redes devido às disputas geopolíticas: um para o ocidente, puxado pelos Estados Unidos, e outro para o oriente, desenvolvido pela China.

“Espero que isso não aconteça, mas questões geopolíticas podem causar o duplo padrão. Qualquer padrão de rede precisa de competição e mercado aberto”, disse Paulo Sergio Rufino, pesquisador do tema na Aarhus University da Dinamarca.

Para José Marcos Câmara Brito, professor titular do Inatel, se o setor tiver mais de um padrão, não haverá ubiquidade no 6G e talvez seja melhor não chamar de “sexta geração”: “Se, por razões geopolíticas, nós tivermos mais de um padrão, e o 6G não se tornar uma tecnologia mundial, é melhor nem chamar de 6G”, completou.

História e outros desafios

Wilson Cardoso, CTO da Nokia, lembrou que no 5G houve um problema similar, com a Coreia do Sul desenvolvendo um tipo de padrão, Estados Unidos outro (com a Verizon) e a Nokia – que teve parte de sua tecnologia usada no padrão non-standalone. Ainda assim, Cardoso vê o tema com preocupação, pois há necessidade de escala na indústria.

“Temos o cenário geopolítico complicado; desafios no desenvolvimento de componentes; e uma delegada norte-americana chefiando o ITU (International Telecommunication Union). Com isso, eu diria que, hoje, o cenário é ‘espere e veja”, afirmou o executivo da fornecedora.

Outros desafios citados por Rufino são o gap digital, uma vez que aproximadamente 50% da população mundial não está conectada hoje, e a necessidade de trazer especialistas da comunicação social e humana para ajudar a criar essas redes: “6G não quer ficar só no STEM (acrônimo em língua inglesa para “science, technology, engineering and mathematics), mas abranger outras áreas, como direitos humanos, ética de AI. Se não tiver a participação massiva de outras áreas da ciência humana, não vamos avançar na sexta geração”.

O executivo também vê a fibra ótica como “gargalo” para levar a rede para as velocidades quânticas e possíveis barreiras na busca das operadoras para entregar os melhores modelos de negócios no 6G.

Positivismo

Cardoso afirmou ainda que a indústria de telecomunicações nunca teve “tantos desafios na indústria como temos no 6G”, mas que essas “barreiras podem ser vencidas”. Rufino, da Aahurs University, vê a criação da sexta geração de forma positiva, pois a “rede celular de banda larga trouxe um avanço de paradigma nas nossas vidas”.

“Hoje somos consumidores e produzimos nas nossas redes. Levamos conhecimento e podemos levar formas de desenvolvimento sustentável. Se continuarmos engajados vamos vencer os desafios”, disse o pesquisador.

Câmara Brito, do Inatel, recordou que o 6G será “centrado no ser humano” com “aplicações voltadas à vida das pessoas” e que isso trará oportunidades de novas tecnologias para resolver velhos problemas. Entre esses problemas cita a divisão social, a desigualdade econômica e a falta de conectividade.

“Espero que em 2030, no começo das redes 6G, tenhamos a ubiquidade. Todo mundo conectado em 6G”, acredita o professor. “Não espero aquela coisa que temos hoje no 5G, com poucas pessoas conectadas e a maioria no 4G e 3G”, concluiu.