Após um final de semana inteiro de especulações na imprensa italiana, a Telecom Italia confirmou nesta segunda-feira, 21, ao órgão regulador Consob, que Marco Patuano pediu para sair do comando da companhia. A empresa, que no Brasil controla a TIM, emitiu dois comunicados: um pela manhã cedo, afirmando que ele já negociava um acordo com a diretoria do grupo; e outro no início da tarde da Itália, confirmando a saída. Patuano entregou sua carta de demissão aos diretores do grupo, que agora definirão se aprovam os termos e condições sugeridos. Ele deixa a posição na Telecom Italia, mas ainda detém 70 mil ações ordinárias e 30 mil de ações de seguro.

O executivo esteve à frente da Telecom Italia desde 2011, quando atuava como CEO, mas ainda se reportava ao então chairman, Franco Bernabè, quando este anunciou sua renúncia em outubro de 2013, deixando Patuano com o acúmulo de cargos desde então. De acordo com a agência de notícias Bloomberg, entre os prováveis candidatos a substituir Patuano estão Flavio Cattaneo, CEO da companhia ferroviária Nuovo Trasporto Viaggiatori; e Luigi Gubitosi, diretor da Wind Telecomunicazioni.

De acordo com a imprensa italiana, no entanto, pressões internas do grupo francês Vivendi provocaram a saída do executivo. A empresa hoje é a maior acionista da Telecom Italia, primeiro em decorrência da troca de ações com a Telefónica no ato de aquisição da GVT no Brasil, depois com movimentos agressivos para aumentar a participação. No final do ano passado, os franceses minaram o plano da TI de converter ações preferenciais em ordinárias por discordar da taxa de conversão, alegando que a troca só beneficiaria acionistas preferenciais. Desde então, ficou evidente que a Vivendi passou a contar com importante influência no grupo italiano, incluindo a indicação de quatro novos diretores no board da Telecom Italia em novembro.

Consequências para o Brasil

Desde que assumiu posição majoritária na TI, o foco da Vivendi tem sido no sul da Europa e a racionalização operacional. Durante todo o seu período a frente do grupo italiano, o ex-CEO teve de lidar com pressões para uma consolidação no mercado brasileiro, com várias versões no passar do tempo, de fatiamento da TIM até a completa fusão com alguma outra operadora, como a Oi. Patuano sempre se mostrou disposto a continuar a perseguir crescimento orgânico na operação no Brasil, embora tenha reiterado sempre que as portas não estariam totalmente fechadas para negociações. Assim, com a saída do executivo, surge um novo horizonte de prospectos para eventual negociação com TIM Brasil.

Em outubro do ano passado, Marco Patuano dizia que qualquer conversa com a Oi estaria vinculada a uma mudança no modelo de concessões, o que ainda não aconteceu e pode atrasar devido à crise política em Brasília. Outras questões que estavam sendo trabalhadas pela Oi, como o acordo com a Anatel referente aos Termos de Ajustamento de Conduta, que possibilitariam o encerramento dos processos administrativos, não foram concluídos ainda. E no meio do caminho dois acionistas da Oi tiveram executivos importantes presos em decorrência das investigações da operação Lava Jato. Em fevereiro, a TIM negou interesse na proposta de negociação com o fundo russo LetterOne, que prometia capitalização de US$ 4 bilhões na Oi com a condição de haver fusão entre as empresas. Após a recusa, a Oi teve sua nota de crédito rebaixada por agências de rating.