Desde meados de fevereiro, o aplicativo de streaming de áudio Deezer (Android, iOS) conta com Marcos Swarowsky como o novo diretor geral para a América do Sul. O principal desafio do novo executivo da empresa é ampliar a atuação do app no mercado nacional e no restante da América do Sul, desenvolvendo novos modelos de parceria em B2B e B2B2C. De acordo com Swarowsky, a penetração do streaming no Brasil ainda é muito baixa. “Por mais que o digital já represente quase 60% da receita da indústria mundialmente, a penetração do streaming aqui não chega a 10%. Nosso maior concorrente hoje é o desconhecimento”, resume.

Mobile Time – O Brasil se tornou o maior mercado em usuários ativos para a Deezer e o segundo em receita no mundo. Qual o segredo do sucesso da plataforma no País? Por que os brasileiros usam a Deezer? 

Marcos Swarowsky – O segredo não é na verdade um segredo (risos), não somos apenas um aplicativo ou uma empresa de tecnologia: temos um DNA mais humano e pessoal. Isso impacta desde as pessoas que trabalham na Deezer, a relação que primamos com artistas e gravadoras e principalmente nossos usuários. Essa proximidade e relevância com os usuários vem tanto do ponto de vista do conteúdo original e curado, como da tecnologia, que conhece profundamente o que cada pessoa gosta de ouvir e personaliza ainda mais a experiência.

No Brasil já investimos há algum tempo em conteúdo, parcerias locais e campanhas de marketing, a marca é bastante forte por aqui. E por ainda ser uma startup, somos flexíveis nos nossos modelos de negócios e temos estratégias tanto B2C como B2B2C.

Mobile Time – Como competir com o Spotify (com plano família e kids) e a Amazon chegando com tudo por meio dos Echo dots?

Swarowsky – Não focamos na concorrência, queremos ajudar a construir a categoria de streaming e levar música para todos os brasileiros. Queremos ser o “Android” desse mercado.

A força de todos os players é na verdade de extrema importância para construir o mercado e aumentar a penetração. Por mais que o digital já represente quase 60% da receita da indústria mundialmente, a penetração do streaming aqui não chega a 10%. Nosso maior concorrente hoje é o desconhecimento.

Aproveitando esse gancho, nesse período de isolamento social por causa da Covid-19, direcionamos grandes esforços de nossa curadoria para acompanhar esse momento tão delicado para todos nós, com playlists para desde relaxar e trabalhar de casa, até conteúdo dedicado para as crianças. Além disso, abrimos todos os nossos planos: Premium, Family, Student e HiFi por três meses gratuitamente. Nunca havíamos feito isso antes.

Qual a estratégia para o Brasil?

Vamos continuar apostando no que chamamos de ‘local hero’, que são estratégias diretamente desenhadas e alinhadas com o público brasileiro, no que ele ouve e como consome música e podcast. Além de seguir com esse olhar local, que nos diferencia e nos torna uma plataforma mais humanizada e pessoal, com grande conexão com o usuário, continuamos apostando em parcerias B2B2C, como a que temos com a TIM e mais recentemente com o Itaú.

As parcerias nos proporcionam crescimento não só em base de usuários, mas também em reconhecimento de marca, e nos dão maior capilaridade para diversas camadas da população e regiões do País. Para os parceiros, é um serviço que agrega valor ao ‘core’ de serviços de cada um deles, traz um diferencial, e tem se mostrado um instrumento importante tanto para atrair como para fidelizar clientes. Além disso tudo, continuaremos nos comunicando diretamente com o consumidor final, por meio de campanhas e presença em eventos e festivais.

Como manter os números expressivos no Brasil e no mundo e expandir?

A Deezer está presente em muitos países, e está crescendo pois é rápida e flexível. Nossos modelos de negócio direto ou juntamente com outras empresas permitem avançar muitas vezes sem realizar grandes investimentos. E com o crescimento exponencial dessa categoria, quem tem um produto forte naturalmente cresce junto.

Qual o principal diferencial da Deezer para seus concorrentes?

Além do que já respondi nas perguntas anteriores, tecnologicamente falando, investimos muito no nosso algoritmo, que em conjunto com a curadoria humana dos nossos editores e editores parceiros ao redor do mundo entregam um conteúdo personalizado para o usuário. E intensos aprimoramentos em integrações e novas funcionalidades que mantêm o aplicativo atualizado e com melhor usabilidade. O Deezer Hi-Fi também é o melhor produto no mercado de alta fidelidade.

O nosso foco é proporcionar a melhor experiência para os usuários e ajudar a expandir a categoria, então, não estamos focados na concorrência e sim em usuários e pessoas que adoram música, mas ainda não experimentaram o que um aplicativo como a Deezer oferece.

Quantas músicas têm a Deezer? 

O catálogo possui mais de 56 milhões de músicas e milhares de podcasts, além de rádios ao vivo disponíveis na plataforma. Um dos nossos diferenciais – que também tem muito consumo – são os nossos conteúdos originais como o faixa a faixa, no qual artistas contam as histórias por trás de cada faixa de seus álbuns, podcasts como o Céu da Semana – sobre astrologia, ou Deezer Essenciais, que são episódios com os maiores nomes da música brasileira que contam sobre sua vida e carreira musical.

E sobre podcasts? Como a Deezer vê esse nicho e qual sua importância?

Podcast vem ganhando cada vez mais relevância dentro da plataforma e o seu consumo, crescendo vertiginosamente. Se tornou uma fonte de informação e entretenimento tão importante que mereceu um destaque grande no design do app. Lançamos a guia Shows, que é o grande hub de podcasts da Deezer, e constantemente estamos aprimorando a experiência para os fãs do formato.

Deezer pensa em expandir para outros segmentos, como audiolivros?

Com certeza. A Deezer é uma plataforma completa de conteúdo de áudio. Na Alemanha, por exemplo, os audiolivros são bastante consumidos.

Quais são os desafios para a América Latina?

A Deezer está disponível em 180 países. Além do Brasil, temos escritório na Colômbia, Argentina e México, e operação em todos os países da América Latina. Os desafios são muito próximos dos que temos no Brasil, que é educar a população para o consumo de áudio via streaming. Também buscamos constantemente por novos modelos de negócios para crescer a base de usuários da Deezer na região.

Como o Brasil e o mundo preferem ouvir a Deezer? Pelo app no smartphone ou pelo computador?

O celular é o device mais utilizado, naturalmente. Porém, em uma pesquisa que fizemos recentemente, durante o isolamento social, um novo hábito surgiu. Como não há mais o deslocamento de casa para o trabalho ou universidade ou academia e muitas pessoas estão em casa, o consumo por aparelhos domésticos vem crescendo bastante.

Aumento de streaming no BrasilAumento de streaming no mundoDevice
+102%+60%Chromecast
+60%+59%Xbox
+59%+34%Android TV
+29%+31%Amazon Alexa
+20%+20%Tablet
+10%+15%Desktop

 

Quantos usuários ativos mensais a Deezer tem no mundo e quantos no Brasil?

Temos mais de 16 milhões de usuários ativos no mundo, e o Brasil já é o País com o maior número de MAUs (usuários que usam ao menos 1 vez / mês).

Em tempos de confinamento, a Deezer pretende fazer alguma ação para ajudar as pessoas em casa?

Esse é um momento bastante delicado para todos e queremos ajudar as pessoas a passarem por ele da forma menos estressante possível. Assim, estamos oferecendo conteúdo de áudio para todos. Lançamos uma campanha global que oferece três meses grátis nos planos Premium, Family, Student e Hi-Fi. Essa foi a primeira vez que fizemos isso em todos os planos ao mesmo tempo.

Lançamos também o canal “Vida em casa”, repleto de playlists, podcasts com curadoria feita por editores, além de playlists de incentivo a treino em casa com a participação de artistas motivando as pessoas a não desistirem dos objetivos.

A quarentena trouxe insights muito interessantes. A maior ocasião de consumo para streaming de áudio era até então o deslocamento para o trabalho, o pico às 7am nos dias de semana. Isso mudou. Novas ocasiões de consumo surgiam ou se fortaleceram e as playlists de “Moods” (temáticas) estouraram: Começando o Dia, Calmaria, Malhando em Casa, Fazendo Faxina, Cantando no Chuveiro, Diversão com as Crianças são todos bons exemplos do que têm feito sucesso. Mas, no geral, houve uma maior demanda por músicas calmas que ajudem a relaxar.

As “Lives” também estão trazendo um novo comportamento e oportunidade para os artistas. Como podem imaginar, antes mesmo das lives, o consumo de determinado artista já aumenta e logo depois vai a novos patamares, sendo que permanece alto depois, pois fica na lembrança das pessoas como aconteceu recentemente com Marília Mendonça, Henrique & Juliano, Jorge & Mateus, Gusttavo Lima e Sandy.

E o público infantil? Como a Deezer vê esse público? Existe uma estimativa de quantos são e o que ouvem?

Temos o Canal Kids com diversas playlists voltadas para as crianças. E em “Shows”, nossa área exclusiva de podcasts, abrimos a sessão “Babá Virtual”, com conteúdo exclusivo infantil como os podcasts “Histórias de Ninar para Garotas Rebeldes”, “Sociologia para Crianças”, “Podventura” e até um podcast com meditação guiada destinada ao público infantil “Medditus Kids Brasil”. Além disso o plano Família é o ideal para quem tem criança, onde é possível criar até seis perfis, incluindo perfis exclusivos para crianças. Durante o período de isolamento social, estamos vendo disparar o consumo desses conteúdos, desde músicas até podcasts.

A ideia é expandir também com parcerias e novos modelos. Gostaria de saber mais sobre isso. De que maneira pretendem crescer no B2B e no B2B2C? Parcerias com outras operadoras estão na mira?

Para levar música a todos os brasileiros como queremos, novos modelos B2B e B2B2C são superimportantes. Eles não apenas facilitam o acesso ao serviço, mas ajudam na divulgação e experimentação.

Muitas empresas já oferecem um pacote de benefícios, serviços ou vantagens para seus usuários, porém o problema é que a maioria deles é pouquíssimo utilizado. No nosso caso temos histórico com dados que isso é diferente, como todo mundo ama música, a utilização da Deezer tem registros altos de consumo. O serviço é percebido como de alto valor agregado. A Deezer ajuda nas duas pontas: torna uma oferta mais atrativa para quem busca novos clientes, e reduz muito o churn, pois se trata de um serviço que se torna altamente personalizado com o uso. Depois de um certo tempo ninguém quer trocar ou sair.

Como é a relação da plataforma com os artistas? Que tipos de parcerias são feitas com eles?

Temos um relacionamento muito forte com artistas, gravadoras, distribuidoras e toda a  cadeia da indústria fonográfica. O Brasil foi o primeiro mercado a ter um estúdio próprio. Desde o lançamento em agosto de 2017 já recebemos mais de 200 artistas em nossa casa, e já visitamos diversos outros em suas casas, estúdios, shows e pela estrada. Produzimos muito conteúdo original como o Deezer Session, Deezer Singles, Faixa a Faixa, podcasts etc, além de pocket shows que já realizamos com a presença de fãs, que é uma experiência fantástica para todos. Tudo que fazemos é para promover o artista de forma diferenciada dentro da plataforma e também entregar o melhor conteúdo para seus fãs. Um faixa a faixa, por exemplo, tende a aproximar o fã do artista quando passa a conhecer os bastidores de cada música.